Searching For Ghosts (aberto)

Ainda que fosse óbvio, era algo notavelmente importante ressaltar que, sim, eles planejavam realizar – ou pelo menos tentar – uma invocação daquele fantasma. Pela minha um pouco mais que breve experiência com essas práticas – e ressalto aqui que boa parte delas fora realizada mais com o intuito lúdico do que qualquer outra coisa –, eu chego à conclusão de que, por mais que tenhamos domínio sobre o assunto, isso acaba por não afastar por completo os riscos. E aquele fantasma, que de inicial seria apenas aquele que fazia o estilo zombeteiro, poderia vir a se tornar um completo problema no instante seguinte. Tendo uma visão geral, fantasmas não são muito conhecidos pela estabilidade de suas emoções, que por motivos desconhecidos aparentam ser mais acentuadas do que quando eles eram humanos.

Meu questionamento foi mais do que suficiente para chamar a atenção deles e, como eu estava com os olhos fixos no casal sentado no chão, não soube ao certo se alguém mais se assustara com minha aparição repentina. Dos dois, o garoto foi o que mais se assustou, virando-se para mim com os olhos arregalados, soltando um grito considerável em seguida. Eu pulei de susto, num gesto instintivo, e talvez até gritasse de volta o que, convenhamos dizer, tornaria a cena um tanto quanto esdrúxula, se não tivesse tido o mínimo de controle. Mas, depois de ele ter constatado que eu não era nenhuma alma de outro mundo, suas expressões se atenuaram um pouco, ainda que ele não tivesse abandonado por completo o choque.

Ele aparentemente estava transtornado demais para me responder, fazendo com que uma outra garota, que agora se juntara a eles no chão, acabasse por tomar a palavra. Ela falou que eles iriam invocar uma fantasma – uma mulher, no caso – e perguntou se eu queria ajudá-los. Esbocei um ar pensativo e refleti sobre o assunto por um breve instante. Meu conhecimento acerca dessa conjuração se limitava à utilização de magias evocatórias e não era como se eu estivesse propenso a demonstrar esse meu dom específico a pessoas aparentemente comuns. Mas também não é como se eu não me sentisse plenamente incomodado com o fato de deixá-los ali, sozinhos, mexendo com o que, definitivamente, não deveriam mexer. Além do mais...

-Pode nos ajudar??? Por favor! – eu ouvi o mesmo garoto dizer num tom quase desesperado, abandonando o que me pareceu ser a instantes atrás um ar levemente imponente. Ele deixou-se cair de joelhos no chão, como quem implorava para que eu fizesse o que ele pedia. Ele estava tão assustado ao ponto de implorar por ajuda? Eu não consegui esconder um olhar confuso e estranho ante o ocorrido. Ele pareceu perceber o que acabara de fazer e se levantou, esboçando um sorriso que me pareceu um tanto quanto constrangido; impressão esta que se intensificou quando seu rosto adquiriu uma tonalidade avermelhada enquanto ele coçava de leve a cabeça, dizendo que estava brincando. Arqueei a sobrancelha com certa descrença, mas não disse nada. – Vai ajudar? – ele completou, cruzando os braços. Estava tencionando dizer que sim, quando a outra garota que falara primeiro tornou a se manifestar, mandando seu, hm, amigo(?), respirar. Ri um pouco, antes de me aproximar deles com um inspirar fundo.

-Eu ajudo vocês, embora eu não conheça muito a respeito de invocações. – ou quase nada, em termos não-bruxos. Mas não deve ser tão diferente assim, não é mesmo? Coloquei os equipamentos gentilmente no chão e me juntei a eles. – Mas, de qualquer forma, eu posso acabar sendo de alguma valia... – além de esperar que nada dê em merda. Lancei um olhar para o garoto, pensando em fazer um comentário meio zombeteiro, mas por fim desisti e voltei o olhar para os objetos esquisitos que estavam ali espalhados. – A propósito, me chamo Paris Good. – sorri à guisa de cumprimento, e, num breve relanceio, captei que ainda havia pessoas ali que ainda não haviam se aproximado. – Vocês não vão se aproximar...? – questionei, observando-as calmamente, quando uma delas se tornou ligeiramente reconhecível, ainda que não completamente iluminada pelas lanternas. – Ann, é você? – perguntei, quase virando a lanterna em sua direção, mas isso me pareceu ser um gesto um tanto quanto indelicado...