Searching For Ghosts (aberto)

Eu não via minha noiva Juliet há um tempo.

Há um tempo...É claro que é quase que irrefutável dizer que esse termo carrega certo quê de relatividade, mas não é como se eu pudesse dizer que algo em torno de uma, talvez duas semanas fosse um período excessivamente longo... Pelo menos eu acho. E, no mais, não é como se eu pensasse que estava fugindo do nosso, hm, compromisso, como a diaba insistia em profetizar a altos brados com sua voz mais irritantemente estridente me informar com sua maneira gentil e delicada de ser todas as vezes que surgia – ou não – alguma oportunidade. De fato, acredito que a única forma viável para desfazer aquele acordo seria por causa de algum escândalo significativo relativo a alguma desonra para com a outra família, ou por vontade de um dos envolvidos (o que acarretaria um escândalo, de qualquer forma, mas...). O que eu presumo ser algo relativamente difícil de acontecer por conta da lealdade que tanto eu quanto Juliet tem pelos respectivos familiares, nomes, ou o que quer que seja.

De todo o modo, não é como se eu entendesse que estava a proceder de forma errônea ao agir daquela maneira. Eu precisava de algum tempo para assimilar o fato de que eu estava noivo e encerrar em meu âmago algumas das convicções que sempre tive a respeito da minha existência; convicções estas que me pareciam tão difusas e extraviadas agora, que me levavam a crer que eu talvez não mais as reencontrasse algum dia. Reservando esse espaço para mim, eu dava a ela uma oportunidade para se acostumar e, quem sabe, se resignar a todo aquele contexto no qual fomos involuntariamente inseridos, evitando que minha constante presença ao seu lado fizesse com que esse processo parecesse algo um tanto quanto forçado. Não que eu acredite que nós dois vamos acabar por se conformar por completo, mas acredito que o mínimo de renúncia a novos e antigos valores facilitasse um pouco as coisas. E, de certa forma, não é como se eu já não estivesse começando a me aborrecer com o modo como eu estava a refletir sobre o “como” das coisas quase sempre, o que acabava por consumir o pouco da sanidade que me restava. O que me parece um tanto quanto válido avaliar que eu estava a ponto de enlouquecer com tudo aquilo e que a diaba não ajudava em nada na minha intrínseca vontade de querer reverter de uma vez por todas aquele quadro.

Em suma, desde a oficialização do nosso noivado, Juliet estava distraída e absorta, eu estava estranho e desordenado, e tia Lindsay estava indistintamente mais insuportável do que o usual, já que toda sua exultação se perdeu em algum ponto de todo aquele enxofre por conta do meu comportamento anômalo anterior. Se eu não soubesse que ela fosse tão confiante em suas ações, eu suspeitaria que a diaba, pela primeira vez em sua existência, estava a conceber em sua mente a hipótese de um de seus mais grandiosos planos não fosse dar certo por conta de uma atitude insensata da minha parte.

Sendo irremediavelmente sincero, minha mente estava tão absorta nessas questões que implantar essa pseudo-dúvida, gradativamente, na mente da tia Lindsay consistia em uma das poucas coisas que eu poderia caracterizar como uma diversão desde que eu me instalara naquela cidade. Havia outra também, que era minha indistinta aproximação com a parte renegada da família, o que, por mais que ela se esforçasse em ignorar, também não a agradava muito. Não que eu me importasse com isso ou só estava a proceder daquela forma por conta desse objetivo específico; essas questões políticas chegam a ser um tanto quanto enfastiantes, eu posso afirmar. Mas não podia negar reações de tia Lindsay chegavam a ser totalmente ridículas, de qualquer forma.

Mas, mais ridículo do que isso, certamente é o fato de eu estar a pensar sobre tudo isso sentado sobre um túmulo qualquer dentro de um “cemitério”. Não, eu não tinha um gosto um tanto quanto mórbido e excêntrico por pensar que este é o local mais ideal para reflexões, eu só queria espairecer um pouco. Não que isso soasse igualmente mórbido, mas isso acaba se tornando um fator irrelevante quando se leva em conta que a cidade estava em polvorosa por conta da realização da “Semana do Sobrenatural” e eu resolvi desfrutá-la, pelo menos um pouco. A Sala de Inquisição não me parecia ser o local adequado, assim como a Floresta de Xamãs. Eu desejava simplesmente esquecer um pouco a magia e todas as implicações que ela chegava a oferecer, o que certamente nenhuma das duas atrações seria capaz de me proporcionar. Então, acabei optando em ir para o Vale dos Mortos “caçar” fantasmas.

Quer dizer... Não que eu planejasse caçar fantasmas evidentemente, até porque não é um procedimento aparentemente simples. Mas não é como se eu quisesse esclarecer a respeito daqueles fatos ou o rapaz se daria o trabalho de me ouvir e não me entregar um monte de aparelhos que para mim não tinham utilidade alguma. Eu me lembrava muito vagamente de ele ter me explicado como funcionava, com um ar de tédio de quem já falara isso um número incontável de vezes e não agüentava mais, antes que eu me afastasse, após assinar um termo de que eu os devolveria em um bom estado – e muito provavelmente teria que pagar um preço considerável se chegasse a danificá-los.

Caminhei pelo cemitério por certo tempo, explorando o local antes que me sentasse na sepultura responsável pelas minhas últimas reflexões. O medidor de um dos aparelhos, que oscilava um pouco, me chamou a atenção, e eu fiquei a encará-lo por um momento. Ainda que eu soubesse da existência efetiva de fantasmas, era meio cético em relação à capacidade de aqueles aparelhos serem capazes de captá-los. Pensei em deixar tudo aquilo de lado e voltar para casa, quando entreouvi alguém gritar. Arqueei uma sobrancelha, erguendo o olhar e voltando-me na direção que pensei ter escutado o grito e estreitei os olhos, tentando enxergar melhor.

Por motivos óbvios, não fui capaz de enxergar muita coisa, embora tivesse voltado a lanterna naquela direção. A pessoa talvez estivesse atrás de alguns daqueles túmulos maiores e, entre ficar naquele estado levemente apático e ir ver o que poderia ter acontecido (ainda que, em tese, poderia se presumir que foi apenas alguém tomando um susto), optei pela última opção, caminhando naquela direção calmamente.

Não demorei muito a encontrá-lo... Ou melhor, encontrá-los. Era um pequeno grupo, na verdade. Os primeiros que avistei foram um rapaz e uma moça sentados no chão, com um monte de objetos esquisitos a sua frente, o que me atraíra logo a atenção e não me fez observar os outros com uma maior precisão. Franzi o cenho, confuso, e me aproximei um pouco mais. Um breve frio percorreu minha espinha e eu não precisei de muito mais para saber que, de fato, havia um fantasma ali.

-O que vocês estão fazendo? – eu questionei, intrigado. Tudo bem que parecia óbvio que eles tentariam invocá-lo, mas foi a primeira coisa que me veio em mente dizer.