A different twilight...[closed]

Porcaria. Eu realmente não estava muito a fim de sair de casa naquele dia. Já estava um pouco nublado, e era fim de tarde. O que diabos eu iria querer fazer naquele fim de mundo? Enfim, eu fui praticamente chutada do meu quarto por minha mãe. Ela resolveu pintar todos os cômodos e pediu para eu sair de casa para não atrapalhar. Até parece que eu iria fazer ela derrubar a lata de tinta ou algo parecido. Eu não sou uma hiperativa. Só quando como doce demais. Mas mesmo assim.

Então, botei algo decente[NdP: Lê-se short jeans, bata branca e all stars verdes] e fui andando pelas ruas totalmente sem graças de Carmel, vagando praticamente sem rumo, até que me vi...na praia. Começou a bater um ventinho gostoso, e, aquela hora da , a areia abrigava duas ou três pessoas, afastadas do lugar que resolvi sentar. Fiquei um tempo sentindo o ar fresco no rosto e pensando em coisas randons até que...

Ah, eu sabia que não tinha sido uma boa idéia sair de casa. Há uns tempos, lá em Dublin, eu tinha prometido algumas coisinhas à alguns fantasmas, e acabei, sabe, não cumprindo. Mas juro, foi porque não tive tempo, com toda essa história da mudança para os Estados Unidos e tals. Tá, eu admito que não estava nem um pouco a fim de ter que ficar catando duas mulheres no outro lado da cidade(e ainda por cima da cidade antiga. Eu teria que voltar no tempo, e pra isso, catar o pertence de um deles. Ninguém merece, certo?) para falar a elas para vingarem a morte de seus maridos. E acho que eles acabaram me rastreando e resolveram se rebelar contra mim(talvez pelo fato de eu ter prometido de pé junto e com mindinho e tudo mais que iria fazer aquilo). Cara, porque eles não procuraram outro deslocador ou mediador? Augh.

Enfim, voltando ao presente, esses dois irlandeses filhos da mãe resolveram, simplesmente, me espancar. Assim que vi eles se materializando na minha frente, me levantei e recuei. O problema era o fato que eles eram maiores, e conseqüentemente, mais rápidos. Fui alcançada rapidamente e levei um soco na boca, o que abriu um corte...mínimo, mas um corte.

Aí eu me rebelei, e começei a tentar chutar os dois, o que, sabe, não deu muito certo. Mas eu acertei a canela de um deles, fato. Tentei catar o mais próximo de uma arma por ali, mas eu tinha deixado meu soco inglês em casa. Gosh.

Carmel. Essa cidade de nome estranho era muito... Como posso dizer de maneira gentil? Entediante.

Não que eu esteja acostumado a sair todas as noites, ou algo assim; longe disso. Normalmente, numa tarde de sábado como a de hoje, eu estaria no parque perto de casa, jogando futebol com meus amigos.

Mas meus pais resolveram se mudar para o outro lado do oceano...

Suspiro e chuto a água para cima. A praia daqui era algo que me fascinava; na Inglaterra, nós nunca íamos à praia. Só mergulhávamos no mar quando íamos visitar nossos parentes na Grécia.

E, para minha surpresa, avisto, não muito distante de mim, dois fantasmas que me pareciam extremamente fortes batendo numa menina loira de All-Stars.

Na praia. Por Deus, o que ela tinha em mente?

Corri até eles, espalhando areia para todos os lados. Graças a Deus a praia estava praticamente vazia, já que o sol estava quase se pondo.

Eu agarrei um dos fantasmas pelas costas, e comecei a socar seu rosto, sem dó nem piedade.

A questão é que eu estava tendo um dejà vu.

Só que, quando eu encontrei Rachel, eu não tinha batido em nenhum fantasma.

Não que eu nunca tivesse espancado um espectro antes; eu só não estava acostumado.

Quero dizer, eles são duros de verdade. E não tardou para minha mão direita ficar vermelha, e começar a queimar.

A menina que estava sendo espancada, virou o jogo e começou a espancar. E ela batia muito. Tanto que ela entraria fácil na equipe de luta na minha antiga escola.

Minhas duas mãos doíam como o inferno, e, depois de quebrar o nariz do grandão duas vezes, ele finalmente gritou algo em uma língua que eu não reconheci, e, logo depois de eu conseguir quebrar a perna dele, e a loirinha ter arrebentado com o outro, eles evaporaram.

Cara, como eu odeio quando eles fazem isso!

Eu bufo de impaciência, e me viro para a garota que ofegava, passando a mão pela boca, tentando conter o sangue que escorria dela.

- Erm... Oi. – falei, olhando pela primeira vez para ela. Ela era bonita, com os cabelos loiros encaracolados sujos de areia, e os olhos com um brilho diferente – quase assustador. – Eu sou Will. Você está bem? – perguntei, franzindo as sobrancelhas e indo até ela. – Esse corte parece feio... – observei, chegando mais perto.

Então, ela explodiu.

Ain. Acho que o chute tinha doído mais em mim do que no cara, já que dava para sentir meus dedos sendo esmagados assim que a ponta do all star tocou a perna de um dos irlandeses. Da próxima vez venho de coturno, é menos doloroso para acertar os outros.

Enfim, assim que consegui me desvencilhar dos braços de um deles, um ser loiro e gatinho, admito pulou em cima das costas do da direita e começou a socar o rosto deste. Hm, eu não precisava de ajuda. Estava indo muito bem até aquela hora. Mas então, era melhor acabar com aqueles malditos antes de dar um basta para o garoto.

Passei de vítima a meliante, e nossa, eu estava sentindo falta de dar umas bolachas em espectros. Era como bater em gente de verdade, mas o bom é que eles não poderiam dar queixa na polícia por agressão física hehe. Então, dei uma rasteira no da esquerda e subi em cima dele, digamos assim...pisoteando a cara do mesmo, e depois, dando um chute no nariz - rÚinigh cúl!*- Berrou um dos dois, e assim, se desmaterializaram. Só porque eu estava arrasando com eles. Covardes.

Mas eu estava cansada, fato. Acabei me apoiando em uma árvore próxima e tentando estancar o sangue que saia dos meus lábios com a mão, já que o corte mínimo tinha virado uma fenda. Meus cabelos estavam cheios de areia, e meu joelho estava todo ralado. Fiquei nessa até que o garoto que havia me "ajudado" soltou um oi - Eu sou Will. Você está bem? - Ele chegou mais perto - Esse corte parece feio... - Não bastou mais do que isso para mim fuzilá-lo com os olhos e soltar os cachorros em cima do coitado - Feio vai ficar o seu nariz depois que eu te der um sopapo. Ninguém te disse que mal educado atrapalhar os outros enquanto estão ganhando uma briga? - Tá, não era bem verdade que eu estava ganhando, e a ajuda dele tinha sido de bom grado. Mas naquela hora eu tinha ficado irada, fato. Eu estava a ponto de explodir minha mão na cara de Will quando senti agulhas no meu tornozelo e tive que me apoiar no ombro do rapaz para não cair. Ao tentar me manter de pé sobre as duas pernas, soltei um gemido de dor, e senti novamente como se estivessem perfurando aquele lugar.

[*quer dizer "Vamos voltar!" em irlândes]

- Feio vai ficar o seu nariz depois que eu te der um sopapo. Ninguém te disse que mal educado atrapalhar os outros enquanto estão ganhando uma briga? – a garota disse, e eu dei um sorriso torto.

- Ganhando? – murmurei.

Ela me encarou, e eu podia jurar que ela estava prestes a me bater.

E essa era uma coisa que eu queria evitar no momento; eu estava cansado, minhas mãos e pernas doíam, e eu não queria bater numa garota.

Quando ela ia levantar a mão para me socar, ela sentiu algo num dos pés, e se apoiou em meu ombro.

Eu a amparei, a segurando pelo cotovelo, franzindo as sobrancelhas, preocupado.

Quando ela tentou se firmar na areia com os dois pés, soltou um grito estridente, e eu a segurei para não cair.

- Meu Deus. – disse, espantado.

A segurei, e me sentei no chão, levando-a junto.

- O que você está sentindo? Além de dor, claro. – completei rapidamente, antes que ela soltasse um “Dor, seu IDIOTA. O que você esperava?”.

Ela estava com o cenho franzido, suas mãos ainda torcidas em punhos.

Eu me perguntei se era porque ela ainda queria me bater, ou se era uma forma de ‘controlar’ a dor.

Eu esperava que fosse a segunda opção.

Olhei as pernas muito bem definidas dela, procurando por algum machucado.

Então, eu notei.

- É o tornozelo que dói, certo? – chutei, já sabendo a resposta.

Spoiler:

Ele me segurou pelo cotovelo, me impedindo de cair no chão. Se sentou na areia e me levou junto. Naquele momento, meu tornozelo já estava começando a ficar roxo - O que você está sentindo? Além de dor, claro - Falou o loiro. A dor começava a dar lugar à uma dormência esquisita, e o local estava um pouco inchado - Agora está passando, mas era como se estivessem colocando agulhas na minha pele - Meus punhos ainda estavam cerrados pela tensão, e meus ombros estavam retesados e rígidos.

- É o tornozelo que dói, certo? – Will perguntou, e eu confirmei com a cabeça. Ele sugeriu que fossemos ao pronto-soccorro, depois de notar o tom púrpura que meu tornozelo estava ganhando. Não é preciso dizer que, quando coloquei meu pé no chão, uma onda de dor me atingiu e o levantei rapidamente, como se tivesse encostado em algo quente.

Tive que me apoiar mais uma vez no ombro do cara, até chegar ao pronto-socorro mais próximo(próximo? Aquilo ficava à tipo, uns 3 quilômetros da praia). O silêncio se seguiu até mais ou menos metade do caminho, quando eu me toquei que não tinha me apresentado para a "alma generosa" - Hm...eu acho que não lhe falei meu nome certo? Prazer, Anne. Adrianne McRish - Pff, desde quando eu era simpática assim? Talvez o fato de Will ter me ajudado tenha interferido só um pouquinho no meu senso crítico.

Spoiler:

Anne - esse era o nome da loirinha maluca dela - estava com o tornozelo inchado, e roxo.

Bem roxo.

Eu disse que era melhor irmos ao hospital, para nos assegurarmos que ela não havia quebrado (ou luxado) nenhum osso.

Não foi uma boa idéia.

Quero dizer, o hospítal "mais perto" era, realmente, longe de onde estávamos.

Ela se apoiou em meu ombro, e eu percebi que ela era muito bonita. Os cabelos loiros, desgranhados pela confusão, brilhavam na luz alaranjada do crepúsculo, e os olhos brilhavam. Seu corpo era bem desenhado, e bonito.

Droga, William, não é hora de paquerar, eu ralhei comigo mesmo.

Suspirei inaudivelmente, e firmei a garota mais uma vez.

- Hm...eu acho que não lhe falei meu nome, certo? - fez ela.

- Não. - eu respondi, dando um sorriso torto.

- Prazer, Anne. Adrianne McRish - ela disse, e percebi, por um momento, que ela estava sendo mais legal do que costumava.

Pelo muito pouco que eu conhecia dela, ela não era simpática com freqüência.

- O prazer é todo meu. - repliquei, ainda sorrindo torto. - Mas, me diga, Senhorita McRish, você costuma se envolver muito com fantasmas com instintos assassinos? - perguntei, olhando-a nos olhos.

Ela pareceu pensar um pouco antes de responder, e escorregou um pouco.

Eu a agarrei pela cintura, e senti uma corrente elétrica fluir entre nós.

Spoiler:

- O prazer é todo meu - Respondeu ele, com um sorriso torto - Mas, me diga, Senhorita McRish, você costuma se envolver muito com fantasmas com instintos assassinos? - Ele terminou, me encarando. Foi ali que notei como os olhos dele eram...bem, lindos. Eram verdes, aquele que parece que você vai se perder nele.

Enfim, saí do meu devaneio momentâneo e tratei de responder à Will - Olha, eu não sou ninguém muito importante pra você me chamar de senhorita, então, só Anne, por favor. Então, eu costumava, em Dublin. Mas aqui, parece que eles meio que são mais bonzinhos saca? E você? Costuma quebrar a perna de espíritos freqüentemente? - Terminei, dando um sorriso irônico.

Naquele momento, atravessámos a rua suuuuuuuuuuper movimentada u.u, e acabei tropeçando no meio-fio. O loiro, acredito que instintivamente, passou a mão na minha cintura. Nisso, parecia que eu havia tomado um choque leve no local. Não sei o que foi, mas eu senti. E não foi preciso mais que isso para meu rosto esquentar. Mas só um pouco.

O problema que esse pouco foi notado pelo rapaz, e eu tentei disfarçar - Hmm...então Will...você sempre morou aqui? - Falei, com um sorriso um tanto quanto forçado. Senti um pingo de chuva no ombro. E mais outro no topo da cabeça. E outro no cotovelo. Sabe, eu tinha a leve impressão de que estava começaaaando a chover.

- Olha, eu não sou ninguém muito importante pra você me chamar de senhorita, então, só Anne, por favor. Então, eu costumava, em Dublin. Mas aqui, parece que eles meio que são mais bonzinhos saca? E você? Costuma quebrar a perna de espíritos freqüentemente? - ela respondeu a minha pergunta, sorrindo ironicamente.

Dei um meio sorriso.

- Não posso dizer que eu sou um expert em mediação; eu não "quebro a perna de espíritos" com freqüência. - a cito, com escárnio. - Eu não mediei muitos fantasmas... - dei de ombros. - Mas, Dubiln, huh? Deve ser legal lá.

- Hmm...então Will...você sempre morou aqui? - ela perguntou.

Notei que começara a chover, e a levei para debaixo de uma marquise.

- Não, eu morava em Oxford até pouco tempo atrás... - disse, encarando o céu nublado, e as gotas grossas que caiam cada vez com mais violência dele. - Não acho que vamos conseguir chegar ao hospital. - olhei o mar revolto, que de azul foi a cinza, e com minitsunamis. - Uma tempestade vem aí. - anunciei, praguejando.

Pelo menos não é um terremoto, disse uma vozinha em minha cabeça, e eu tive de concordar com ela.

- O que nós fazemos agora? - murmurei para Anne, que olhava o mar com um tanto de surpresa.

- Não, eu morava em Oxford até pouco tempo atrás... - Falou ele, enquanto fitava o céu escuro. O mar havia ficado agitado e mudado do azul esverdeado para o cinza azulado - Inglaterra? Devia ser bom lá - Falei, enquanto ele me ajudava a ir para baixo de uma marquise - Não acho que vamos conseguir chegar ao hospital - Ele disse, olhando mais uma vez para o firmamento.

Sentamos na calçada e ele anunciou o óbvio - Uau, você é bom em prever o tempo - Eu disse, irônica. Passei a encarar o mar, que estava com ondas...perfeitas para surfar. Não que eu gostasse, na única vez que tinha experimentado ficar de pé em cima de uma prancha, acabei o dia com muita água nos pulmões e com vontade de dormir para não acordar mais. Simplesmente me veio a idéia na cabeça.

- O que nós fazemos agora? - Ele mumurou, talvez para si mesmo. O fato foi que eu dei um pulo, como se Will fosse uma assombração ou algo do tipo. É, eu tenho que parar de pensar em coisas totalmente fora de contexto quando estou com alguém por perto - Hm? Ah...esperar a chuva passar enquanto meu tornozelo vira uma amora? - Falei, totalmente ao acaso. Acabei lembrando do celular, no bolso traseiro do jeans. Com um pouco de dificuldade, consegui puxá-lo de lá e começei a discar o número de casa. Quando mamãe finalmente atendeu...a bateria acabou. Augh

A tempestade apertou. Os pingos mais pareciam bolas de lacrosse, e caíam com uma força e velocidade imprescindíveis.

Eu estava perplexo. Claro, eu estava acostumado com chuvas, mas não com tempestades.

Anne sacou o celular do bolso, depois de duas respostas nada gentis, mas parece que não conseguiu ligar para ninguém.

Eu a ajudei a se sentar na calçada de concreto, depois de forrá-la com meu casaco; mamãe não iria gostar disso.

Pesquei meu celular, e olhei a tela de cristal líquido: sem cobertura de rede.

Perfeito. Aqui estava eu, numa chuva torrencial com uma menina um tanto mal-educada que eu nunca vira na vida, quase tremendo de frio, num estado praticamente desconhecido.

- Não pode piorar. – assegurei para mim mesmo, cerrando os punhos, e encarando Anne. – Seu tornozelo ainda dói muito? – perguntei, analisando o machucado de longe. Agora estava ligeiramente mais inchado e roxo.

Meu Deus, o que eu fiz para me meter nessa?, pensei com escárnio.

Mal sabia eu que estava prestes a piorar.

Eu tinha que parar de ser tão grossa com ele, fact. E porque eu estou chegando a essa conclusão? Pelo fato de ele ser mais legal do que eu imaginava. Eu estava começando a ficar com frio, e logo notei que minha blusa tinha ficado trasparente, revelando meu sutiã de florzinhas. Mau dia mau dia mau diiia. Cruzei os braços na frente do peito e olhei Will, que, sem sucesso, tentou ligar para alguém. Malditas torres de telefone, que pifam nas horas mais necessárias.

Começei a tremer, ainda que involuntariamente, e ele tirou o casaco, colocando-o em minhas costas. Eu parei de tremer, ainda que o frio persistisse um pouco, afinal, estávamos encharcados, certo. Os lábios do loiro estavam da cor do meu tornozelo, que, por sinal, ficava cada vez mais inchado. Eu precisava de cuidados, médicos, e rápido - Não pode piorar – Falou ele, enquanto começava a tremer. Ai, ele e sua grande boca. Não demorou para que um vento gelado começasse a açoitar nossos corpos, e raios começassem a descer do céu, ao longe.

O que me surpreendeu foi minha própria atitude. Em vez de soltar uma piadinha desagradável ou algo do tipo, tirei o casaco, cheguei mais perto de Will e ajeitei o casaco de modo que cobrisse parcialmente nós dois - Seu tornozelo ainda dói muito? - Confirmei com a cabeça e cmeçei a tagarelar, por, hm, impulso- Então, acho que tinha sim como piorar. Ou feixes de luz são um sinal bom em uma tempestade? - Falei com escárnio, e, antes que ele pudesse responder, continuei - É, acho que não, certo? - Coloquei a mão no queixo e fiz cara de entendiada - Agora, só nos resta esperar...até que a chuva passe - Terminei, enquanto suspirava. Mas, o que se seguiu dali a diante não foi a tempestada parar. Algo muito mais...surpreendente.

Eu não tenho idéia de que espécie de “coisa” tomou conta do meu corpo; eu não faço loucuras com freqüência.

Então a única explicação é que meu período de abstinência já tinha acabado.

Ou talvez fosse a minha enxaqueca vinda simplesmente do nada.

- Então, acho que tinha sim como piorar. Ou feixes de luz são um sinal bom em uma tempestade? – disse Anne, logo depois de (o que me deixou chocado) dividir o casaco comigo.

A voz dela – pela primeira vez – começou a me irritar. Por que aquela garota tinha de ser tão pessimista?

- É, acho que não, certo? – ela prosseguiu, como se eu nem estivesse ali.

É aí que minha cabeça começa a doer, como se as reclamações dela fossem o motivo.

Talvez fossem.

Esfreguei minhas têmporas, e ela não parou:

- Agora, só nos resta esperar... até que a chuva passe – constatou ela, suspirando.

É aí que a coisa desconhecida se apodera do meu corpo, e eu faço algo que nunca faria em circunstâncias comuns.

Eu puxo Anne gentilmente pelos cabelos e a beijo.

Para minha surpresa, ela retribuiu.

- Será que você pode calar a boca agora? – perguntei, depois que nossas cabeças se afastam, e escondi meu rosto vermelho.

Minhas bochechas estavam pegando fogo, e eu não estava a fim de olhar para o rosto perplexo de Anne, por isso baixei o olhar.

Em um momento, eu estava tagarelando com o ar.

No outro, Will estava me beijando.

Delicadamente, ele pôs a mão por trás do meu pescoço e virou meu rosto para o dele, encostando seus lábios nos meus. O frio foi embora quase que imediatamente, e uma onda de calor invadiu todo o meu corpo. Não vou falar que não gostei, e isso nem seria possível, porque retribuí. Um beijo longo. De língua, na chuva. Poderia até ser uma cena de filme, mas acho que nos longa-metragens românticos a protagonista não está com o tornozelo igual a uma uva. Isso se uvas fossem do tamanho de bolas de lacrosse. E, é claro, não dá um tapa no cara, diz que ele é um sem-vergonha e sai mancando por causa do pé.

Porque foi exatamente isso que eu fiz.

Nos dois estávamos com as faces em brasa, e a dele ficou pior depois que minha mão estalou na bochecha esquerda de Will - OLHA AQUI, SEU ATIRADO, SE ACHA QUE VAI ME GANHAR FÁCIL ASSIM, SONHA! - Larguei o casaco e levantei rapidamente dali. Quero dizer, o mais rápido que alguém com uma luxação no tornozelo pode se levantar.

Ele só ficou olhando pra mim como se eu fosse uma louca(e provavelmente eu era), com a mão no lugar atingido.

Era quase deprimente. Uma garota suja de areia, molhada até os ossos, tremendo de frio e mancando por causa de uma perna machucada.

Eu tenho TANTA sorte...

Ela explodiu.

- OLHA AQUI, SEU ATIRADO, SE ACHA QUE VAI ME GANHAR FÁCIL ASSIM, SONHA!

O que, tenho certeza, não era minha intenção. Eu só queria que ela ficasse quieta.

Beijá-la talvez não tenha sido a melhor opção...

Percebi isso logo depois de ela me bater (nossa, doeu de verdade), e sair mancando.

- Anne! – a chamei, meu rosto pegando mais fogo em razão do tapa. – Desculpe. – murmurei, vendo-a mancando muito decidida para longe de mim. – William, você é, definitivamente um idiota. – disse para mim mesmo, passando a mão desajeitadamente pelos cabelos, vendo aquela menina tão singular indo embora...

Que estranho. De repente eu me senti com necessidade de ir atrás dela...

Suspirei resignado. Aquela garota era louca, e ali estava mais uma razão para prová-lo.

Resmunguei algo sobre a chuva e peguei meu casaco.

Só para ver o iPhone de Anne deslizar de dentro dele.