Tell me the truth! [fechado... *assovia*]

Tá, eu admito: eu não consegui.

Fazer todos aqueles “sintomas” passarem, digo. Você sabe, borboletas no estômago, pernas tremendo, mãos suando.

E outras coisas.

Eu falara com Edward muitas vezes desde o episódio desastroso que foi o almoço de família, a maioria por telefone e o vira algumas vezes pessoalmente. Ele virou meu amigo com rapidez, e eu já estava acostumada com a presença dele.

Minha família também.

Parece que finalmente entrou na cabeça dos seres masculinos da minha casa que Turner era só meu amigo, e que eles exageraram. Como sempre acontecia.

Eu estava extremamente entediada naquela tarde. Meus irmãos tinham ir fazer uma coisa qualquer de garoto, e eu não quis ir junto, já que eles disseram que não envolvia algum esporte.

Então, me decidi. Peguei meu celular e enviei uma mensagem para Edward, avisando que ia até lá, e chegaria em pouco tempo, para irmos ao cinema.

Tomei banho, troquei de roupa, enfiei minhas coisas na bolsa e fui andando até a casa dele, a seis quarteirões de distância da minha própria casa.

O iPod jorrava música alta em meus ouvidos, e eu cantarolei durante todo o percurso. Me peguei muitas vezes – vezes demais do que eu gostaria, sabe – perguntando o que eu estava fazendo ali. Eu admiti pra mim mesma que arranjara uma desculpa para vê-lo – isso não estava ficando nada bem.

Tirei os fones do ouvido assim que pus os pés na calçada da casa de Edward. E que casa, eu devo dizer. Era mediterrâneo, acho. Muito diferente da minha, mais puxada para um gótico italiano.

Toquei a campainha e esperei, encarando os All-Stars de um rosa berrante. Um barulho de chaves soou, e a Sra. Turner apareceu na soleira da porta, sorrindo.

- Melissa, querida. – ela falou, me cumprimentando e eu sorri.

- Oi, Sra. Turner. O Ed está aí? – perguntei.

- Claro, está no quarto. Ele disse que você vinha. – ela escancarou ainda mais o sorriso. – Entre, querida. Sinta-se em casa.

Eu entrei, sorrindo de canto. A Sra. Turner sempre foi muito agradável comigo, e eu gostava muito dela. A Sra. Turner se desculpou por não poder fazer sala, e me disse que podia subir e chamar Edward sem problema.

Eu corei. Não era realmente apropriado eu entrar no quarto dele, era?

Ora, Antonella, já estamos no século XXI!, exclamou minha consciência e eu dei de ombros, subindo rapidamente e meio que entrando sem bater.

Quer dizer, não ia ter problema, já que a mãe dele tinha me convidado para subir.

Eu estava esperando encontrá-lo jogando videogame, lendo algo, ouvindo música.

- Hey, Eddie Boy, vamos logo, senão, vam... – eu disse, enquanto irrompia pelo quarto.

O que me interrompeu? O fato de que Edward estava concentrado em fazer canetas, lápis e borrachas levitarem e desaparecerem.

" quer ir no cinema? é, eu sei que sim. chego aí em meia hora "

Eu me peguei olhando para aquela mensagem pela décima quarta vez, desde que ela havia chegado. Não sabia exatamente o motivo.

Nossa amizade progredira muito nas últimas semanas. Eu já sentava em sua mesa de almoço, e nós havíamos saído mais algumas vezes. Ok, sair soava estranho, como se tívessemos encontros. O que fazíamos, na verdade, era dar uma volta pela cidade, esse tipo de coisa.

Como de costume, eu caía de cara no chão ou ficava em uma situação constrangedora. No mínimo, tropeçava nos intervalos da calçada, trupicando para cima de Mel. Ela só ria da minha descordenação, os dentes brancos aparecendo ligeiramente sob os lábios cheios. Eu acabava rindo junto. Devia ser mesmo engraçado para quem via de fora.

Às vezes, quando o negócio era mesmo ruim, eu ficava vermelho e algo acontecia. Com algo, eu quero dizer uma ventania repentina fazer uma árvore perder todas as folhas e cair tudo em cima de nós dois, um rapaz que deu em cima de minha amiga ficar mudo por alguns minutos...essas coisas.

Coisas de que eu não gostava.

Mel sempre me olhava esquisito quando isso acontecia. Como se soubesse que eu estava escondendo algo dela, um segredo muito importante. A cada dia, aquilo me corroía mais. Eu ansiava por revelar a ela que era um bruxo, mas não o fazia por inúmeras razões, entre elas o medo. Mais especificamente, medo de que minha nova amiga achasse que eu era uma aberração e nunca mais falasse comigo.

Fiquei um bom tempo olhando para a telinha de cristal líquido, sem saber o que fazer. Até que reparei nos meus materiais de escola, atirados na escrivaninha. Fazia um certo tempo que eu não praticava levitação e teletransporte. Eu estava ficando craque naquilo, e precisava vasculhar mais aqueles livros empoirados que haviam sido de meu pai, que eu e Amelia havíamos trazido da Itália.

Dispus uma borracha, uma lápis, um tubo de cola, uma tesoura e um bloco de anotações lado a lado em cima de minha cama. Pensei intensamente em cada um, e pouco a pouco, estes foram subindo, até ficarem próximos do teto. Agora vinha a parte mais difícil. Abrir o minúsculo portal que puxaria aqueles objetos para o local que eu quisesse. Fechei os olhos, tentando me concentrar. O lápis apareceu em minha mão feito mágica. Em seguida a ele, a borracha e a tesoura. No momento em que eu me preparava para teletransportar a cola, alguém abriu a porta.

Certo. Alguém não é uma palavra que faz jus à morena de olhos azuis que olhava, incrédula, para o fenômeno mágico que se fazia presente naquele recinto. Eu entrei em pânico, e, nesse momento, só o tubo se teletransportou para minha mão e a cola obedeceu à força gravitacional da Terra, caindo, gosmenta, pegajosa e...hã, colante, em cima de mim. O bloco se desfez em mil pedacinhos de papel picado, que se juntaram a meleca espalhada por meus cabelos e camisa.

Ela se beliscou, fazendo uma careta de dor quando seus dedos torceram a própria pele, querendo se certificar que estava acordada. Depois, esfregou os olhos, na tentativa de verificar se não estava com algum problema de visão.

Eu não mexia um músculo sequer. Tinha parado de respirar no momento que seus pares azuis cravaram-se em mim. Tudo o que eu queria, naquele momento, era ter alguma habilidade extraordinária que pudesse fazer com que Mel esqueçe o fato extraordinário que tinha presenciado. E aquilo não estava ao meu alcançe.

Tá. Legal.

Acho que o beliscão não foi exatamente uma boa idéia.

Meu braço estava ardendo.

Apesar de o que eu acabara de ver ser um tanto extraordinário, eu não pude deixar de rir. Poxa, Edward estava total e completamente encharcado de cola, com pedacinhos de papel grudados desde sua cabeça até sua camisa. E estático. Acho que ele esperou que eu saísse correndo e gritando: “Fujam para as colinas!”

Eu caminhei até ele, meio insegura sobre o que ele tinha acabado de fazer – o que foi, ãnh, estranho – e comecei a tirar os papeizinhos grudados em sua cabeça.

Depois de algum tempo, desisti. Sem noção da quantidade de papel que tinha no cabelo de Edward.

Ele parecia completamente chocado com minha atitude, e eu me sentei ao lado dele.

Suspirei, encarando o quarto, e meio que toquei num dos lápis, pra ter certeza de que ele não era, sabe, um holograma.

Eu não tinha noção do que tinha acontecido ali, mas eu queria saber, de verdade.

Pude ouvir a respiração acelerada de Edward, e ele engolindo em seco enquanto olhava em seus olhos.

- Acho que você me deve uma explicação, Edward. – pedi, ainda olhando firmemente para ele.

Alôu, eu não era estúpida. Eu sabia que tinha alguma coisa acontecendo, e que meu amigo estava receoso em me dizer o que.

Mas aposto que eu conseguiria arrancar alguma coisa dele.

Jurava que ela ia sair correndo. Ou no mínimo, dar um berro.

Mas é claro que ela não fez nada disso. Melissa é completamente imprevisível. Eu quem o diga.

Ela ainda estava surpresa, e se aproximou de mim com cautela. Começou a tirar os papeizinhos coloridos grudados no meu cabelo, mas, depois que de algum tempo desistiu. Meu cabelo não era mais castanho escuro. Era castanho escuro, branco, amarelo, verde, laranja, vermelho, azul e roxo. De longe dava até pra pensar que eu tinha dado uma de louco e mergulhado a cabeça em um balde de tinta multi-colorida.

Mel se sentou ao meu lado, e tocou em um dos lápis, como se quisesse se certificar de que ele realmente estava ali e não era nenhuma ilusão de ótica ou algo parecido.

Eu tinha quase certeza de que a morena podia ouvir o meu coração batendo alucinado, como se quisesse quebrar minhas costelas e irromper pra fora do meu peito. Eu ofegava, como se o ar do quarto não fosse suficiente para preencher meus pulmões de ar. Eu suava frio, e engoli em seco com a exigência da morena.

- Acho que você me deve uma explicação, Edward.

Os olhos azuis dela me perfuravam, e eu sabia que Mel estava certa. Eu devia uma explicação a ela. Mas...e se a explicação para aquilo não fosse racional?

Eu estava encurralado, e sabia que se tentasse mentir a situação pioraria. Eu era o pior mentiroso que já havia existido sobre a face da Terra. Não convenceria nem uma mosca. Ou seja, não havia escolha a não ser falar a verdade. Uma verdade bem, hã, estranha. Mas que existia. Não me surpreendeu que eu tivesse começado a gaguejar. Aquilo era mais que típico para mim - Mel, eu...ah, como eu posso explicar...eu...eu....eusouumbruxo - As palavras saíram atropeladas, confusas. A morena sentada ao meu lado fez uma careta de confusão. Respirei fundo e tentei novamente.

- Eu sou um bruxo

A careta não mudou.

Arrã.

Eu olhei incrédula meu amigo, enquanto ele ficava da cor de uma lata de coca, e começou a gaguejar super fofamente.

Pisquei perplexa uma, duas, três vezes. Era meio que difícil para mim acreditar naquelas palavras. Mas, hm, devo confessar que aquilo explicava muita coisa.

Como aquela vez em que nós estávamos voltando pra casa, e eu brinquei com ele – alguma coisa natural, mas que por algum motivo ele ficou super vermelho – e um hidrante explodiu perto de nós.

Eu lembro que gritei de espanto, e depois gargalhei, saindo correndo e puxando Edward pela mão, e ele estava superultramegaüber vermelho.

Na época eu não estranhei. Quero dizer, ele ficava vermelho com freqüência, como quando tropeçava em mim, ou derrubava a bandeja cheia de comida no almoço. Era tão Edward, que eu não liguei.

Agora eu entendera. Ele fizera aquilo, por isso ficara vermelho.

Eu despenquei na cama, numa parte que não estava cheia de cola e fechei os olhos, respirando fundo.

Massageei as têmporas com força, tentando processar o que Edward me dissera.

Surpresa, senti ele se deitar ao meu lado também, suspirando.

Respirei fundo, ar zumbindo para dentro dos meus pulmões. Ed ainda parecia surpreso por eu não ter surtado, ou algo assim, e eu virei meu rosto para encará-lo.

De repente, uma coisa me ocorreu.

Uma coisa realmente estúpida.

Mas que eu estava morrendo de vontade de perguntar. Olha só, eu já li os sete livros de Harry Potter. Então era meio que minha obrigação fazer essa pergunta.

Por mais idiota que fosse.

- Ãnh, essa pergunta é idiota, então não ria. – comecei, corando, e baixei o olhar. – Você usa varinha? – murmurei.

Para depois cair na gargalhada.

- Ãnh, essa pergunta é idiota, então não ria. Você usa varinha?

Ah.

Ok. Eu não consegui. Quer dizer, a pergunta era mesmo idiota. Até parece que eu sou um Harry Potter da vida.

De modo que eu começei a dar gargalhadas, e meus olhos começaram a lacrimejar de tanto eu rir. Ela se deu conta e começou a rir junto. Demorou algum tempo até que eu recuperasse o fôlego para responder.

O nosso papo foi mais ou menos assim:

- Mel, os livros não são muito, hã, verídicos para com os bruxos reais - Falei, assim que tive ar para formular uma frase - Nós não usamos, hã, varinhas, não vamos para uma escola especial e se existe algum tipo de Ministério da Magia ou algo assim...eu não estou sabendo.
- Eu falei pra você que era uma pergunta idiota. E não ria, Turner - Mel respondeu, apesar de ter rido junto. Eca. Turner. Não que eu não goste, mas sabe como é. Ainda é um sobrenome.
- Era impossível não rir com essa pergunta. Quer dizer, dá até pra pensar besteira - Retruquei, e, admito, maliciando a pergunta. Ri de novo, e ela percebeu o que eu tinha falado. Um rubor fraco se manifestou nas bochechas da morena.
- Você é idiota
- Ah, nada que eu não saiba. Acho que sei disso desde que eu me conheço por gente. Não vai mais fazer nenhuma pergunta? Eu enchi minha mãe delas quando descobri - Ela arregalou os olhos.
- Tá. Essa meio que me pegou de surpresa. Sua mãe - não me entenda mal - é uma bruxa?
- Não. Meu pai era um, Mas ele acabou contando pra ela e Amelia matinha diários muito bem atualizados daquela época. Depois eu quase contraí uma rinite alérgica com os livros de bruxaria que meu pai tinha escondido no porão da nossa antiga casa - respondi, rindo. Ela se ajeitou na cama e apontou para meus cabelos.
- Como isso acontece? Quero dizer... Eu não sei exatamente o que quero dizer - eu ri com o embaraço dela - E pare de rir de mim, Turner
- Só se você parar de me chamar de Turner. Não sou grande fã do meu sobrenome, você sabe disso. Ahmm... isso é mais ou menos quando aquele hidrante explodiu, aquela árvore desfolhou em cima de nós, ou aquela chuva que veio do nada quando seu irmão atendeu a porta. Magia fora de controle.
- Turner, Turner, Turner
- Antonella, Antonella, Antonella

E por aí foi. Ela quis saber de tudo. Tudo mesmo. Não preciso dizer que fiquei da cor de uma lata de Coca-Cola quando ela pediu mais detalhes sobre meus acidentes mágicos. Acho que ficamos, sei lá, uma hora falando daquilo, de modo que perdemos a hora do filme. Mas, sinceramente, eu duvidava que ela estivesse lá muito preocupada com isso. Afinal, quando você descobre que seu melhor amigo é um bruxo, o que importa uma ficção boba de cinema?

Eu estava começando a me sentir, hã, pegajoso com aquele monte de cola e papel em cima de mim, de modo que eu precisava de um banho. Urgentemente. Pedi para Mel ir à sala que eu precisava me lavar daquilo tudo.

Na boa. Acho que demorei uns quinze minutos só tentando desentupir o ralo do banheiro, já que ele estava saturado de folhinhas coloridas. Mais quinze pra tirar aquela meleca de mim. Eu sei que devia ter mais consciência de que a água estava acabando e tudo mais, mas não conseguia ser rápido no banho. Era impossível pra mim. Contando com o fato de que eu quase sempre deixo o sabonete escapar das minhas mãos. Uma vez ele caiu pra fora da janela.

Depois de cavucar o armário até achar um jeans limpo, eu precisava, bem, catar uma camiseta que não estivesse:
a) cheirando a suor
b) manchada de geléia, suco, terra, etc etc etc
c) com vestígios da última festa que as traças fizeram no meu armário

Estava sendo difícil. Bem difícil. Mas pelo amor de Deus, não tinha nada que prestasse naquele armário?

Até que minha preocupação, hã, mudou de rumo. Algo como esconder minha cara em um buraco. Porque ela tinha virado uma tigelona gigante de sorvete de morango.

Spoiler:

Droga, droga, droga. Eu já disse droga?

- Eddie Boy, eu já fiz até pipoca. Por que está demorando tanto?

Eu devia saber que Mel não acharia nada de mais me ver, sabe, seminu. Ela tem quatro irmãos, sei lá.

Mas eu não estou acostumado com toda essa exposição.

E foi por isso que meu rosto estava com um tom muito bonito de vermelho (eu sabia porque tinha visto no espelho da parede), enquanto ela ria.

- E-eu....ah....não estou conseguindo a-achar uma camisa limpa - gaguejei debilmente. Ela sorriu de novo e descruzou os braços, entrando no quarto. Aquilo só fez eu ficar mais vermleho ainda - apesar de eu considerar isso fisicamente impossível - , já que ela conseguiria ver a bagunça gigante que aquilo havia virado. Quero dizer, tinha calças e camisetas pra tudo quanto é lado. Ela só deu uma risada baixinha, como se estivesse acostumada com tudo aquilo e começou a mexer no meu armário, para ver se achava alguma coisa.

A morena fez uma careta após ficar uns cinco minutos naquilo e não achar nada bom, até que seu rosto se iluminou com um sorriso e ela tirou uma camisa pólo rosa escuro de lá. Suspiro.

Ok. Rosa. Eu supero. Aquilo devia ser a única coisa limpa que estava lá, eu não tinha opções. Fiz uma careta e a coloquei. Peguei a mão dela - eu meio que tinha superado a parte do contato físico, apesar de eu ainda sentir um choque elétrico entre nós dois quando isso acontece - e a puxei delicadamente para fora do meu bagunçado quarto, fechando a porta do com o pé.

Infelizmente...eu prendi a barra na calça lá e - adivinha - tropeçei e caí no chão, levando a Mel junto. Augh. Daqui á pouco ela vai achar que, sei lá, é perigoso demais para ela ficar do meu lado.

O que nem é mentira.

Bem, deitado ali, a lado dela, sentindo o rosto começar a enrusbecer, eu parei para pensar na única coisa que é certa de acontecer todos os dias da minha vida, sem exceção alguma. Porque é isso que eu venho fazendo desde que nasci.

Cair.

Ou, pensando bem, é isso que venho fazendo desde que a conheci.

O que, se você for parar para pensar, é bem estranho.

Voltando ao presente, lá estava eu. 17 anos, mais vermelho que uma coisa muito vermelha, estatelado no chão e de mãos dadas com uma morena de olhos azuis. Era digno de pena. Ok, exceto pela última parte, já que nessa eu era bem sortudo. De ter uma amiga assim. Acho. A única coisa audível era o som de nossas respirações arfantes, até que Mel olhou pra mim e começou a rir da minha cara, que devia estar bem parecida com aquela maçã que há na capa de Crepúsculo. Ela escondeu o rosto nas mãos, e então eu começei a rir também. Afinal, era engraçado.

Ela tirou as palmas da face e encarou o teto - Até que o carpete é macio - disse a morena, irônica. Apoiada nas mãos, sentou e me encarou, com um olhar risonho.

Sentei junto dela, tentando me certificar que não estava mais tão rubro e sorri, passando a mão no chão àspero - Hm, acho que quando eu tiver uma casa só para mim, vou ter que acolchoar o chão. Sabe, pra impedir que eu rale o joelho toda vez que eu dou um passo pra frente - Levantei e ajudei-a a fazer o mesmo, sentindo novamente aquela corrente elétrica quando pus suas palmas nas minhas. Era estranho que eu tivesse pegado na mão de tantas garotas durante minha vida - ok, talvez umas dez. Ah, está bem. Acho que no máximo quatro. Mas enfim - e só com aquela eu sentia esse choque.

Eu meio que devo ter ficado muito tempo pensando nisso, já que dei um pulo quando ouvi a voz de Mel, do pé da escada, pedindo se eu ia ficar ali com cara de bobo ou ia descer logo.

Ah. Eu sou patético.

- Hm, acho que quando eu tiver uma casa só para mim, vou ter que acolchoar o chão. Sabe, pra impedir que rale o joelho toda vez que dou um passo pra frente. – ele disse, e eu concordei, rindo.

Ele me ajudou a levantar, e eu olhei no fundo dos seus olhos para ver se ele sentiu a mesma corrente que eu, quando nossas mãos se tocaram.

Podia apostar que sim.

Eu desci as escadas, cantarolando alguma música sem propósito, quando percebi que Ed ainda estava lá em cima, no topo da escadaria.

- Edward! Vai ficar aí parado que nem um bobão ou vai descer pra gente ver o filme? – exigi, as mãos na cintura.

Ele piscou atônito algumas vezes e eu sorri quando ele começou a descer as escadas.

- Humn, hey, eu ainda não escolhi um filme, estava esperando você dar sua opinião. – disse, dando de ombros, apontando uma pilha com uns cinco DVDs [que, para surpresa de muitos, eram quase todos de ação] que estava em cima da mesa-de-centro da sala de Edward.

Ele olhou pensativo para os DVDs e eu sorri de novo.

- E aí, o que vamos assistir?

- Humn, hey, eu ainda não escolhi um filme, estava esperando você dar sua opinião – ela deu de ombros.

Eu observei a pilha de DVD's que ela segurava e começei a pensar seriamente em comprar uns discos novos se a Mel viesse assitir algo mais vezes aqui. Quer dizer, só tinha ação e terror ali! Eu já tinha visto aqueles filmes tantas vezes que se me pedissem para citar um diálogo de um deles eu faria com clareza, talvez até imitando o sotaque americano dos personagens.

Tipo o Jigsaw em Saw IV, com aquela voz rouca "Vocês podem achar que porque eu morri, tudo vai acabar...Os jogos estão apenas começando..."

Eu devo ter ficado tempo demais pensando, já que Mel sorriu compreensivamente e disse, meio impaciente - E aí, o que vamos assistir?

Aí veio a ideia. Ao inventor da TV à cabo, esteja onde estiver, OBRIGADA CARA!

- Mel...sabe, eu não acho que tenha muita coisa boa pra se assitir aqui - apontei os DVDs com a cabeça - meu gosto cinematógrafico não é que se pode chamar de refinado, porque bem, aqui só tem tiros, sangue e cabeças rolando. Não acho que você iria, sabe como é, gostar desse tipo de filme. Deve gostar de algo melhor - senti meu rosto corar ao dizer a última frase - Quer ver se tem algo bom passando na TV? -

Malditas bochechas.

Eu ri alto.

- Ed, eu gosto de filmes de ação e terror. Meus irmãos assistem muito a isso, sabe como é. – disse, dando de ombros, enquanto sentava no sofá. – Mas assistir a TV não parece uma má ideia para mim. – admiti, sorrindo e olhando para ele.

Eu mesma já estava cansada de sangue, carros sendo destruídos e assassinos/tarados/loucos a solta.

Suspirei, cansada. Muito provavelmente, não teria nada de bom passando na TV. É a chamada Lei de Murphy, sabe.

E, bem, eu tenho que admitir que queria passar mais algum tempo com Edward.

Como amigos, claro.

Então, ele se sentou ao meu lado e ligou a TV, e eu pude sentir o calor do corpo dele perto do meu e suspirei, relaxando no sofá e chegando mais perto dele inconscientemente.

Tá, um pouco inconscientemente.

- Nada de bom passando – bufei, enquanto ele zapeava entediado pelos bilhões de canais da TV a cabo. – Murphy nos odeia totalmente, sabe. – constatei, entediada, brincando com meus joelhos e tentando não olhar muito para Edward.

Porque, você sabe, eu meio que ficava tonta toda vez que olhava no fundo dos olhos dele.

Ela riu sonoramente, um som muito bonito e...foco, foco!

- Ed, eu gosto de filmes de ação e terror. Meus irmãos assistem muito a isso, sabe como é. Mas assistir a TV não parece uma má ideia para mim – ela sorriu, com uma fileira intacta de dentes perfeitos. Cara, acho que eu daria tudo pra ter esse sorriso só pra mim. Até meus dons mágicos - o que nem seria um sacrifício, já que na maioria das vezes eles só me metem em encrenca/me fazem estrupiar todo mundo

Ela sentou, dando um suspiro pesado. Ok, tanto eu como Mel sabíamos que nada que preste passava na TV em uma tarde de sábado. A não ser algumas reprises de Greek, que, sinceramente, eu fico doente só de assistir.

Sentei ao lado de Mel e começei a passar os canais da TV, entediado - Nada de bom passando. Murphy nos odeia totalmente, sabe – bufou. E tinha razão, principalmente quanto á segunda parte. Aquela lei praticamente me procura.

Ela se aproximou um pouco mais e eu podia sentir o calor de seu corpo próximo ao meu, os olhos azuis fixados nos joelhos desnudos. Eu me aproximei um pouco mais, e dali à pouco estavamos colados um ao lado do outro. A região do meu braço que encostava no dela parecia queimar com o calor.

Fiquei tão distraído com a sensação que ela me proporcionava que nem notei que botões eu apertava no controle remoto e acabei parando em um filme até interessante, pela sinopse. E se fosse verdade.

Bom, o enredo era...irônico. Uma mulher que está em coma e tenta fazer o cara que mora no seu antigo apartamento a salvá-la. Comédia, apesar de tudo. Mas veja bem, ele é um mediador. Fica meio estranho isso, não?

Lá pela metade do filme, eu resolvi, sabe, passar o braço em volta da Mel. Nada de mais, entre amigos, sabe como é.

Mas como eu sou um ser abençoado por Deus ou sei lá quem comanda o Universo com minha falta de coordenação incrivelmente idiota, quando fui levantar a mão, bati em cheio no rosto de Mel.

Oh-o. Aquilo ia dar um hematoma.

Idiota, estúpido, sem-noção...eu já disse idiota? - Oun...Mel, machucou muito? - questionei, ao que ela fez uma careta de dor.

Ah como eu queria não ter nascido...

Inspira.

Expira.

Inspira de novo.

Pisca os olhos.

Suspirei, tentando prestar atenção no filme. O que era, humn, difícil, com Edward ao meu lado, bem próximo de mim. Encostei minha cabeça no ombro dele, sentindo o calor dele e fechei os olhos, relaxando e aspirando o cheiro de Edward.

Que droga! O que diabos há de errado comigo?!, minha consciência gritou em minha mente, e eu meio que a mandei calar a boca.

Abri os olhos e mirei a tela de cristal líquido, tentando entender o que se passava no filme.

Tá, aquela mulher estava em coma, e...

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAI!

Eu cobri minha boca com minha mão, me soltando de Edward, sentindo minha bochecha e testa latejarem de dor.

Edward estava estático, sem mover um músculo e completamente envergonhado ao meu lado.

Senhor Jesus, como alguém podia ser tão atrapalhado assim?! Eu acabaria cheia de machucados se continuasse perto dele.

- Õun, Mel... machucou muito? – ele perguntou, preocupado.

Eu fiz uma careta de dor, trincando a mandíbula.

Acenei com a cabeça, concordando, meu maxilar ardendo pela pancada.

- Eu acho que preciso de gelo – admiti, baixinho, enquanto Edward me levava até a cozinha.

Acho que já disse isso, mas volto a afirmar: Edward Turner é a personificação masculina de Isabella Swan.

- Eu acho que preciso de gelo

Ah meow, por quê não me enterram vivo de uma vez, pra mim parar de fazer tanta besteira? Já que, além de me ferir, eu conseguia ferir os outros também.

Patético.

A peguei pela mão suavemente e a levei até a cozinha, onde pus gelo em um saquinho plástico, envolto com um lenço e dei à Mel, o que pareceu aliviar sua dor. Incrivelmente, não fiz o gelo pular das forminhas para o chão e o tornar um cenário letal para mim, como aconteceu tantas vezes.

- Está...está melhor? - perguntei, tropeçando nas palavras. Minha voz trasnbordava preocupação, e fiquei extremamente aliviado quando ela acenou um 'sim' com a cabeça.

Olhei o relógio escuro na parede, que marcava em torno de cinco horas da tarde.

- Mel eu...me desculpe, mesmo...vou ver se eu encontro algo pra tirar esse roxo...e com algo eu quero dizer feitiço - ela estremeceu ao ouvir a palavra e se afastou um passo de mim - Calma, eu não vou desfigurar seu rosto - respondi, rindo. Ela deu um sorriso nervoso, ainda com medo.

- Prometo tentar prestar mais atenção nas coisas quando eu estiver com você... - sussurei ao seu ouvido, enquanto passava a mão perto do lugar onde eu a havia atingido com meu cotovelo, nos separando depois e indo para sala, a fim de terminar o filme.

Engraçado, eu podia jurar que ela tinha ficado vermelha.

[Terminado o/]