Tell me everything, now! [rp fechado]

Seria bem difícil descrever a minha expressão você-é-doidinha-ou-quer-um-real? Que eu coloquei no rosto depois da pergunta que a minha vizinha fez para mim. Sabe, ela é uma mediadora. Como eu. Só pode ser, julgando pelo morto bonitinho que parece morar na casa dela, que fica de frente para a minha.
E olha que eu descobri isso menos de meia hora depois de ter pisado os pés em Caramel... Digo, Carmel.
Depois que eu explodi e fu gritando perguntar se ela era como eu, ela começou a olhar para todos os lados de forma bem... agitada. Talvez um pouco mais que isso. Aquilo estava mais para desespero. Mas qual é, quem iria nos ouvir naquele fim de mundo? Com exceção dela, do mortinho e da garota morena que, por algum motivo que tenho medo de descobrir, foi atrás de Michelle, eu não havia visto ninguém ali. Então eu só rolei os olhos e concordei com o convite da garota para irmos até uma sorveteria do parque ali perto.

Eu estava borbulhando de perguntas e, confesso, um pouco mais animada quanto à perspectiva de morar em Carmel. Pelo menos por enquanto. Eu torcia para que houvessem bastante fantasmas para que eu pudesse saciar minha vontade de chutar o traseiro de alguém quando estivesse estressada. Porque, acredite, fazer isso sempre foi o maior calmante para mim.

Logo depois de darmos alguns passos, eu comecei.
- E então? Vai me dizer que relação você tem com o morto bonitinho que estava ali com você? Porque, não negue, EEEU o vi!! – Coloquei as mãos nos bolsos e continuei caminhando. O parque não era longe dali, mas eu só iria “largar” a garota depois que ela me explicasse direitinho tudo ali. Afinal, tenho que conhecer o terreno onde estou pisando, mew!

- E então? Vai me dizer que relação você tem com o morto bonitinho que estava ali com você? Porque, não negue, EEEU o vi!!

Cara... O que ela quis dizer quando pergunta qual a minha relação com o Aidam? Quer dizer, eu não tenho uma relação com o Aidam... Ele é... Uma força que a natureza me impôs e eu lido com ele. Certo? Ok, talvez pudesse dizer que ele era meu amigo. Sério, o que ela quis dizer com isso???

- O Aidam é... Alguém que eu tenho que ajudar, mas não consigo. - Sabe-se lá por que. - Mas primeiro, não quer me dizer seu nome? Katharine Steel. Deslocadora.

Eu estendi a mão, sorrindo. É, eu sabia da diferença entre mediadores e deslocadores. Um senhor que minha mãe havia conhecido há anos havia explicado pra ela e ela me explicou pouco antes de morrer.

Foi estranho a cara que a garota fez depois de eu perguntar sobre a relação dela com o fantasma. Digo, ela mereceu ponderar e matutar bastante antes de responder. Talvez a mente dela seja fértil demais, ou então o contrario: Infértil. Vai saber...

Eu mori o lábio em sinal de impaciência. Eu realmente não pensei que pudesse encontrar tão facilmente uma pessoa com os mesmo dons que eu. Digo, eu não sou nenhuma tapada e sei que se existe um, existem mil, mas eu nunca topei cara a cara com uma pessoa assim, então eu, sei lá, só queria conversar e bater uma real, sabe como é.

- O Aidam é... Alguém que eu tenho que ajudar, mas não consigo. Mas primeiro, não quer me dizer seu nome? Katharine Steel. Deslocadora.

Não, eu não estava nenhum pouco interessada no nome dela. Tudo bem, eu estava, mas ainda assim, ela não...
DESLOCADORA??
Agora meus olhos se tornaram um pouco psicopatas e eu tive certeza de que ela sentiu um pouco de medo. Pois, veja bem, meus olhos já são altamente cortantes por si só, então imagina quando eles estão motivamos. Pode ter certeza de que eu fiquei meio maníaca. Olhei para a mão dela e encarei a face sorridente da mesma. Juro que tentei, mas sorri não estava fazendo parte de minha natureza há semanas, desde que eu soubera que iria me mudar para Caramelo. Levantei um dedo e a olhei.
- Hum, espera, acho que você se auto-denomina de maneira diferente. Eu chamo pessoas com os nossos dons de Mediadoras. E não de Deslocadoras. – Tentei não parecer muito maníaca e impaciente. Porque eu odeio ficar explicando para os outros coisas que eles já deveriam saber. Mas então o fantasma veio de novo a minha mente. – Ah, o nome dele é Aidam então... – Coloquei a mão no queixo em sinal de ponderação – De qualquer forma, eu sou Cadance. Interessante te conhecer Katharine. Interessante mesmo.
Meu cenho se franziu. Ele, involuntariamente, faz isso quando eu estou imersa em pensamentos ou concentrada em algo. E naquele momento eu estava digerindo o “encontro”.
Ela estava respondendo algo a que eu não dei muita atenção, e então perguntei.
- Qual é o problema com o morto bonitinho? – Já é, mano. “Morto Bonitinho” ficou um apelido legal para o fantasma lá.
Só que, antes que Katharine respondesse, ele respondeu por ela.

Olha, no momento que eu vi aquela garota da varanda eu sabia que ela era encrenca. Pelo menos pra Kath que não era, digamos assim, uma pessoa de pessoas. Não que ela não deva ser legal e tudo mais, mas era só olhar pra ela e ver que ela era agressiva demais pra alguém como a Katharine. Então eu fiquei só observando, do outro plano, pensando se deveria interferir. Ela já havia me visto e já sabia que a Kath podia me ver também, ou seja, ela havia ligado a maior parte dos pontos, mas achei melhor ver até onde isso ia dar antes de tentar interferir, até porque, seria bom pra Kath, pelo menos de acordo com a mãe dela, e que ela não saiba disso, mas a mãe dela vem falar comigo muito quando eu estou passeando pelo limbo. Ela realmente se preocupa com a Kath, o bastante pra me contar algumas coisas, já que eu estava sempre perto da filhinha dela.
Então eu fiquei apenas monitorando, até a garota começar a perguntar de mim. Observei com interesse quando a Kath parou para pensar sobre qual era a nossa relação e que ela ia tentar explicar para a garota que elas eram apenas parecidas, não iguais, mas a garota parecia obcecada por mim, me chamando de ''morto bonitinho''. Olha, eu posso até ser um morto bonitinho e pálido. Mas eu tenho um nome e ela já havia me confundido com um desenho animado mais cedo, qual é. Eu tive que aparecer. Me postei atrás da Kath, encarando a outra garota bem desconfiado.

- O morto aqui tem nome, se importa? - Eu disse, cruzando os braços. - Aidam Geller, muito prazer, e eu não tenho um problema. Bem, eu tenho, mas se eu quisesse sua ajuda teria te procurado não é?

Eu juro que estava tentando fazer a Candace me escutar, mas a garota, além de obviamente não prestar atenção em nada do que eu estava falando, parece que só tem uma coisa em mente. O Aidam. Ah, fala sério. Perda dela... Quer dizer, ela havia perguntado e eu pessoalmente acho mais interessante saber sobre o que nós temos em comum do que ficar falando sobre ele.

Mas claro, ele não ia deixar barato alguém chamando ele de "morto" e "fantasminha camarada". Estava além da capacidade dele ficar quieto quando devia, e logo eu soube que ele estava atrás de mim, antes mesmo dele dar a resposta meio mal educada dele.

Revirei os olhos e, sem olhar pra trás (oi, eu não ia querer parecer maluca né?) eu falei:

- O que você está fazendo aqui? Não é melhor... - Mas Candace me interrompeu. Eu falei. Uma coisa na cabeça.

- O morto aqui tem nome, se importa? - Foi a primeira frase que ele disse depois de ter se postado atrás da tal da Katharine e me olhou com uma expressão um pouquinho austera demais para o meu gosto. Não gostei do tom dele e, alem do mais, eu não havia falado nenhuma mentira. Sobre ele ser um morto, eu digo. Eu ia retrucar, mas aquela coisinha que parecia ser bastante implicante, me interrompeu. - Aidam Geller, muito prazer, e eu não tenho um problema. Bem, eu tenho, mas se eu quisesse sua ajuda teria te procurado não é?
Agora ele estava mexendo em um terreno perigoso. E ele não fazia idéia do quanto. Porque eu não gostava de ficar irritada. Ou melhor, até gostava, porque a raiva sempre me faz ficar ainda mais forte. De qualquer forma, eu retribuí a expressão intransigente e respondi.
- Olha, tanto faz o seu nome, você continua sendo um morto; fantasminha camarada ou o que quer que seja. E outra, se antes eu estava ponderando sobre resolver o seu problema, agora eu quero que você se dane. – Fiz uma pausa e sorri sarcasticamente – Cadance Fox, obrigada pela sua gentileza. Agora, por favor, será que você poderia deixar as pessoas com vida conversarem? – Dei ênfase total na parte do ‘com vida’ e ele fez uma careta. Obviamente não havia gostado e surpreendido-se com a minha sinceridade.
Coloquei a mão esquerda na cintura e analisei as unhas da minha mão direita. Um gesto displicente, mas que irrita qualquer um. Agora eu direcionei minha atenção para a Katharine, que permanecera calada todo aquele tempo. Talvez porque estivesse um pouco embasbacada.
Ih, to vendo que ela não faz idéia das minha “briguinhas” com fantasmas!

- Mas então, como você descobriu que podia falar com mortos? Como foi? Você conhece mais pessoas com esses dons? – Olhei diretamente para ela, fazendo questão de ignorar o Morto Bonitinho. E chato.

Candace deu um sermão no Aidam que desapareceu de raiva, com certeza voltando a observar de onde quer que estivesse. Qual o problema que esses dois tinham de ser o mínimamente bem educados um com o outro, de qualquer forma?

Então ela se virou para mim:

- Mas então, como você descobriu que podia falar com mortos? Como foi? Você conhece mais pessoas com esses dons?

Ela realmente queria saber? Ela não tinha cara de quem tinha paciência pra ouvir a história toda, então, vai ter que se contentar com a resumida.

- Minha mãe era como você. Ela era uma mediadora, e então não foi muito difícil descobrir que eu também era uma. Mas eu não sou exatamente uma mediadora... Uns anos atrás, antes de eu nascer, eu acho... Um senhor foi falar com a minha mãe... Ele fazia uma pesquisa sobre pessoas como nós... Médiuns... E ele descobriu que alguns médiuns iam além de ver fantasmas e tudo mais... Demorou um pouco pra minha mãe descobrir que eu era uma dessas pessoas, Deslocadores, era como o velho as chamava. Não que isso esteja te interessando, obviamente. Mas além da minha mãe de você eu nunca conheci ninguém mais que pudesse ver fantasmas, mas o Aidam já me disse que só aqui em Carmel haviam pelo menos mais uns três... Ele fica sabendo dessas coisas, lá por onde ele anda... Mas eu nunca... Uhm... Eu não tive coragem de ir atrás dessas pessoas...

Eu olhei meio sem graça pra ela. Mas o que ela esperava? Eu não teria nem ido falar com ela, se ela não tivesse gritado feito louca no meio da rua. E eu tinha plena noção que ela havia notado que eu era, bem, um tando anti-social.

Mesmo depois de eu ter terminado de falar, continuei olhando para a tal da Katharine. Não que ela fosse tãão interessante a ponto de realmente prender integralmente a minha intenção, mas porque eu queria irritar o fantasma. E, pelo que eu percebi, ele não era bom em agüentar discussões, pois simplesmente sumiu de nossas vistas e foi... sei lá, fazer o que os fantasmas fazem no plano deles.
A garota pareceu ponderar e repassar alguma coisa na mente. Talvez pensando sobre como responderia a minha pergunta.
Quando ela respondeu, veio a Bíblia. -.-

- Minha mãe era como você. Ela era uma mediadora, e então não foi muito difícil descobrir que eu também era uma. Mas eu não sou exatamente uma mediadora... Uns anos atrás, antes de eu nascer, eu acho... Um senhor foi falar com a minha mãe... Ele fazia uma pesquisa sobre pessoas como nós... Médiuns... E ele descobriu que alguns médiuns iam além de ver fantasmas e tudo mais... Demorou um pouco pra minha mãe descobrir que eu era uma dessas pessoas, Deslocadores, era como o velho as chamava. Não que isso esteja te interessando, obviamente. Mas além da minha mãe de você eu nunca conheci ninguém mais que pudesse ver fantasmas, mas o Aidam já me disse que só aqui em Carmel haviam pelo menos mais uns três... Ele fica sabendo dessas coisas, lá por onde ele anda... Mas eu nunca... Uhm... Eu não tive coragem de ir atrás dessas pessoas...

Uau, eu definitivamente não contava com uma biografia. But ok, ela respondeu o que eu queria saber. Ou melhor, não respondeu não.

- Espera aí, menina. Mas em que fator Deslocadores se diferenciam de Mediadores? Você rezou o pai nosso inteiro e eu não cheguei a nenhuma conclusão. Poderia ser mais específica?

Uau, eu fui... gentil.
Mas eu conseguia ser gentil também em muitas horas, sacas? Principalmente quando eu estou interessada em um assunto em peculiar. Nessas horas, inclusive, eu costumo ser até bem prestativa.
Eu só esperava que o fantasminha camarada não aparecesse e atrapalhasse a minha concentração, além de me interromper [E odeio que me interrompam]. Porque aí eu ficaria mais enraivada com ele. E adoraria inaugurar meu sistema especial de socos em Carmel.

E porque algo me dizia que ele iria meter as fuças de novo?

- Espera aí, menina. Mas em que fator Deslocadores se diferenciam de Mediadores? Você rezou o pai nosso inteiro e eu não cheguei a nenhuma conclusão. Poderia ser mais específica?

Putz, que pessoa delicada. Eu revirei os olhos e sorri de lado.

- Você não parecia interessada em saber o resto... Então eu deixei de fora... Mas se quer saber mesmo, a maior diferença entre os Mediadores e os Deslocadores, é que os Deslocadores podem...

Eu estava chegando no ponto crucial da questão quando ele resolveu aparecer de novo.

- Kath, você nem conhece essa garota, vai realmente sair contando tudo pra ela assim?

Ok, me chame de intrometido, mas alguém precisa tomar conta da Katharine! A garota parece que nunca ouviu falar de mentiras, traição, maldade. Ela não PODE sair por aí confiando em qualquer uma, muito menos em alguém que podia me ver. Claro que a "alguém que podia me ver" não ficou muito feliz com isso.
Problema dela. Eu não estava feliz também.

Eu ainda estava com a mão esquerda no meu bolso, mas tirei enquanto observava a garota branca e magra revirar os olhos e sorrir de lado. Não que tenha sido um gesto sarcástico ou, sei lá, impaciente. Achei ela até bastante paciente. Ao contrario do amigo morto dela, é claro.
Então ela se pôs a falar. Eu estava realmente curiosa para saber sobre a diferencia pacóvia entre Mediadores e Deslocadores. E isso se houvesse alguma diferença, é claro! Talvez a garota fosse só meio retardada e encara tudo isso de maneira mais sonhadora e... hum... idiota? Bem, vai saber.
Prestei atenção em cada palavra dela.
- Você não parecia interessada em saber o resto... Então eu deixei de fora... Mas se quer saber mesmo, a maior diferença entre os Mediadores e os Deslocadores, é que os Deslocadores podem...

Eu estava borbulhando. Meu cérebro pedia pelo termino daquela frase. Meu subconsciente se chacoalhou, louco para saber a real diferença entre os dons. Mas aí, como eu deveria supor, o nosso “convidado” morto, apareceu, com cara de poucos amigos.
- Kath, você nem conhece essa garota, vai realmente sair contando tudo pra ela assim? – Ele não olhou para mim. Apenas falou com ela como se eu não estivesse ali. Pior, ele falou como se eu fosse algum verme.
Juro que meus punhos coçaram de tanta vontade de serem usados, mas eu me conti. Por mais incrível que possa parecer, eu me contive. Uh, milagres acontecem! \o/

Bem, não vou dizer que eu não fiz nada. Direcionei-lhe um olhar fulminante. Minha língua ferina tilintou.
- Vem cá, camarada, no seu mundinho de gente morta alguém já te disse que é feio se intrometer em conversas de vivo? – Soltei meus braços e dei um passo em direção a ele. Minha expressão estava mais maníaca do que antes. – Porque você não procura algo para fazer? Tipo, SUMIR daqui? Mortos fazem isso, não é?

Com a minha experiência em discutir com fantasmas, eu aprendi que eles ficam bem danados quando jogamos na cara deles que eles não passam de nada, alem de mortos. E isso é bem difícil de engolir, principalmente quando a morte é recente. E julgando por suas roupagens, ele não havia morrido na Idade Média nem nada.
Deus, me ajude a não perder a pacieeeencia com este ser!

Eu não gosto de ser interrompida. Não é que eu odeie. Eu não odeio muita coisa nesse mundo. Nada, aliás. Eu sou bem... Bem, eu gosto de me esquivar de conflitos. Mas eu realmente não gosto de ser interrompida, e o Aidam me interrompeu, sendo muito desnecessário nos comentários que fez.

Só que aparentemente a Candace odeia ser interrupções. Não me importaria muito com isso se ela não tivesse levantado, como se fosse bater no Aidam. Eu me levantei também me colocando entre os dois, olhando para as pessoas que estavam lá ainda, e agora nos olhavam como se fôssemos duas malucas.

- Aidam, não importa há quanto tempo eu a conheço. Existem coisas que ela tem que saber. Que qualquer Mediador e Deslocador têm que saber. Eu não me importo com o que você acha. Por favor, você não está deixando as coisas mais fáceis. - Eu disse, sem olhar pra ele. Não queria atrair mais olhares falando com o nada. - Candace, você pode se sentar por favor? Ele só é... Bem, ele fica conversando com a minha mãe, acho que ela fica fazendo ele cuidar de mim, mas eu acho que ela entenderia o que eu estou fazendo. Por favor. Os dois...

Eu virei a cabeça para olhar para Aidam por alguns instantes, para ver se ele entendia o quanto aquilo era importante. Ele suspirou pela causa perdida, mas não desapareceu, contiuou em pé atrás de mim, defensivamente, analisando a Candace.

- Olha, continuando. A diferença entre Mediadores e Deslocadores é que os deslocadores podem se deslocar no tempo e entre os planos. É difícil e complicado, mas não precisamos de exorcismo pra ir pro outro plano e a técnica para viajar no tempo é ainda mais complicada... Eu nunca realmente tentei viajar no tempo, quer dizer, eu tenteeeei, mas nunca consegui. Mas eu consigo fazer a troca de planos facilmente, dentro do limite de 15 minutos. Nunca ninguém passou disso, no entanto.

Eu terminei de falar, encarando a garota seriamente.

O fantasma me encarava com um olhar extremamente incisivo, e eu não precisei me esforçar muito para que o meu fosse tão cortante quanto o dele. Se havia duas coisas que podiam ser intimidantes em mim, eram meu olhar e a minha língua ferina. Além de minha força corporal também, mas isso as pessoas não percebiam logo a primeira vista. Até porque, aparentemente, eu sou uma moça fofa, não é? ¬¬ Deus! O ser humano é péssimo por julgar as pessoas pela aparência. E olha que essa é uma característica nata!!
Só que Katharine, em um pulo, se colocou entre nós. E ela deu um show de palavras para o branquelo.

- Aidam, não importa há quanto tempo eu a conheço. Existem coisas que ela tem que saber. Que qualquer Mediador e Deslocador têm que saber. Eu não me importo com o que você acha. Por favor, você não está deixando as coisas mais fáceis. – Aêê garota! Mandou bem!! Ela falava meio que olhando para o vento. Porque, pow, não é como se as pessoas vissem o fantasma ali. - Candace, você pode se sentar por favor? Ele só é... Bem, ele fica conversando com a minha mãe, acho que ela fica fazendo ele cuidar de mim, mas eu acho que ela entenderia o que eu estou fazendo. Por favor. Os dois...

Eu respirei fundo e me sentei.
Ele ainda ficou alguns instantes em sua posição, mas logo baixou a guarda e foi, novamente, se colocar atrás de Katharine, basicamente suspirando. E posição dele chegava a ser defensiva e ele não parou de me lançar seus olhares ameaçadores. Mas eu só tentei ignorá-los antes que perdesse a paciência e o fizesse sentir seu nariz quebrandp [psicologicamente é claro. Afinal, fantasmas ainda sentem dor, apesar de ser apenas uma peça pregada por suas mentes. Mas sentem, e eu agradeço a Deus todos os dias por isso.] Eu estava começando a gostar daquela garota. De Kathatine, digo.


- Olha, continuando. A diferença entre Mediadores e Deslocadores é que os deslocadores podem se deslocar no tempo e entre os planos. É difícil e complicado, mas não precisamos de exorcismo pra ir pro outro plano e a técnica para viajar no tempo é ainda mais complicada... Eu nunca realmente tentei viajar no tempo, quer dizer, eu tenteeeei, mas nunca consegui. Mas eu consigo fazer a troca de planos facilmente, dentro do limite de 15 minutos. Nunca ninguém passou disso, no entanto.

Eu a encarei, completamente embasbacada. Quase senti meu próprio queixo tocando meus calcanhares, juro.
- Espera, você está dizendo que pode viajar no tempo?? – O resto das coisas que ela falou eu não dei muita atenção. Porque a PRINCIPAL diferença entre Meidadores e Deslocadores era muito mais do que eu poderia imaginar. – Isso é uma pegadinha, não é? – eu sorri, sarcástica.

O queixo da Candace foi caindo enquanto eu falava e teria sido engraçado se não fosse tão sério. A situação séria, eu quero dizer.

- Espera, você está dizendo que pode viajar no tempo?? Isso é uma pegadinha, não é? - Ela sorriu como tivesse descoberto todo o meu plano maligno. É, não, eu não tenho essa capacidade.

Ouvi Aidam atrás de mim dando uma risadinha e desapareceu novamente, indo fazer sei lá o que. De qualquer modo eu tinha a sensação que ele não iria mais nos incomodar. Pelo menos por enquanto e pelo menos não eu e a Candace juntas, mas eu tinha certeza que ia ouvir quando chegasse em casa.

- Eu até queria ter esse senso de humor, mas eu não tenho. Minhas pegadinhas são bem mais inocentes. - Eu sorri calmamente. - Mas como eu disse, isso é bem teórico pra mim, eu nunca realmente consegui viajar no tempo... - Suspirei profundamente. Essa era uma das maiores frustrações e provas de como eu não era corajosa como minha mãe, já que era meu medo que não me deixava concentrar pra isso e eu tinha plena consciênci disso. - Mas eu prometo que quando conseguir eu trago uma lembrancinha pra você. - Sorri de lado.

Depois que eu terminei de falar, olhei rapidamente para o fantasma e vi ele dar uma pequena risada [que era quase escárnio, juro. Ódio ¬¬] e desaparecer em seguinte. Era como se ele gostasse de me ver meio... sei lá, idiotona. Porque eu totalmente estava por fora de todo esse assunto de Deslocadores. Mas isso não faz de mim um tapada, okay? Aliás, eu pego as coisas bem rapidamente.
Torci para que aquele trambolho de chatice não voltasse mais a nos incomodar. Eu estava ficando cheia dele e, sem duvida, não responderia por meus atos na próxima vez em que ele falasse qualquer coisa.
Voltei, novamente, a minha atenção para quem, pelo menos naquele momento, mais merecia.
- Eu até queria ter esse senso de humor, mas eu não tenho. Minhas pegadinhas são bem menos inocentes. Mas como eu disse, isso é bem teórico pra mim, eu nunca realmente consegui viajar no tempo... Mas eu prometo que quando conseguir eu trago uma lembrancinha pra você. COMÉQUEÉ? Fiquei momentaneamente sem fala enquanto a via suspirar profundamente. Ela parecia um pouco frustrada, até. Mas eu dou total razão para ela. Afinal, se eu tivesse o poder de voltar no tempo e não SOUBESSE fazer isso, me afogaria em um copo d’água, fato. Putaqueobarril, como é que pode ISSO??

- C-a-s-s-i-l-d-a. – Foi só o que eu disse. E isso porque eu estava inteiramente embasbacada com o fato de que ela tinha um poder incrível nas mãos, e não fazia uso dele, obviamente por medo! – Cara, eu não consigo acreditar que você pode ser tão... – Minhas palavras sumiram. Eu não ia insultar ela nem nada; mas, oi, ela estava desperdiçando um dom fenomenal! – Eu só...
Mas então eu tive uma idéia.
Porque, cara, medo era algo que não fazia muito parte do meu cotidiano.
Então eu pensei: Porque não ajudar essa pobre alma a criar coragem?
E plim! Eusouumgeniomano.
- Katharine, você está olhando para a sua nova treinadora!!! – Quase gritei, tamanha a minha animação. Porque eu iria fazer ela a aprender a se deslocar. Nem que eu tivesse que mover montanhas para isso.

E ela só me olhou como se eu fosse uma psicopata. Obrigada!

Ela me encarou meio incrédula por instantes, e então meio... Desapontada. Eu achei que ela fosse me xingar, ou dar um discurso sobre como é preciso ser corajosa e enfrentar meus medos e seguir em frente, todas aquelas coisas que minha mãe sempre falava. Não que tenha adiantado muito, ela ficava com dó.

- Katharine, você está olhando para a sua nova treinadora!!! - Ela falou empolgada.

Ok, aquilo me deu medo. Algo me dizia que ela não ia ficar com dó de mim. E com toda aquela atitude... E também o fato de ela obviamente não se dar bem com o Aidam, e bem, o Aidam era parte da minha vida no momento, e com eles não se dando bem ia ser estranho.

Eu sabia que ela não iria mudar de idéia e bem, eu nunca ia conseguir fazer alguém como ela mudar de idéia.

- Mas Candace... Você tem certeza? Não quero te dar trabalho... Além do que, como você vai me ensinar a Deslocar se nem mesmo sabe fazer isso? - Eu mordi o lábio inferior, torcendo pra que ela não levasse isso como uma ofensa.

As feições de Katharine se alternaram entre surpresas e... assustadas.
Eu não conseguia entender todo aquele medo ou receio vindo da parte dela. Afinal, ela deveria estar feliz por ter alguém que soubesse do seu dom fantástico e, ainda por cima, estar disposto a ajudá-la a desenvolver seu dom. Eu estava debruçada sobre a mesa em sua direção. O excitamento que eu senti ali estava bem exposto em meus olhos.
Mas então eu descobri o porque de ela estar tão insegura quando à perspectiva de me ter como “treinadora”.

- Mas Candace... Você tem certeza? Não quero te dar trabalho... Além do que, como você vai me ensinar a Deslocar se nem mesmo sabe fazer isso?

Pff... que humilhação.
Digo, humilhação pelo fato de ela, inocuamente, jogar na minha cara que o poder dela era mais legal que o meu. E, tipo, se ela não tivesse dito isso de maneira que eu soubesse que ela não estava querendo me humilhar de propósito, nem sei o que meus punhos fariam. Mas, de qualquer forma, ela só estava sendo sincera, e pessoas sinceras rulam \o.
Eu me sentei direito novamente e me arrumei na cadeira. A olhei por alguns instantes e depois respondi.
- Katharine, honey... Eu tenho mais que certeza. Além disso, eu não tenho nada para fazer nessa cidade enfadonha. Mas juro que se você for me dar algum trabalho eu te libero. – Eu pisquei para ela, meio desleixada e sarcástica ao mesmo tempo. Uma façanha considerável de se fazer, modéstia à parte – De qualquer forma, eu posso não ser uma tal Deslocadora, mas eu conheço muitas técnicas de como ser uma boa “médium”. Além disso, sou mais corajosa, forte e experiente que você. É claro que eu saberia me deslocar se eu PUDESSE. Então, confia em mim, você está em boas mãos. – Fiz um estalo com a língua e me levantei da cadeira.
Por um momento pensei que o fantasminha chato apareceria, mas ele não o fez. Olhei no relógio e me perguntei se Jackson estaria procurando por mim. Provavelmente não.
- Mas e aí, topa? – Coloquei novamente a mão nos bolsos [um tique, eu acho] e esperei a resposta dela.

- Katharine, honey... Eu tenho mais que certeza. Além disso, eu não tenho nada para fazer nessa cidade enfadonha. Mas juro que se você for me dar algum trabalho eu te libero. De qualquer forma, eu posso não ser uma tal Deslocadora, mas eu conheço muitas técnicas de como ser uma boa “médium”. Além disso, sou mais corajosa, forte e experiente que você. É claro que eu saberia me deslocar se eu PUDESSE. Então, confia em mim, você está em boas mãos. Mas e aí, topa?

Eu sabia que não ia mudar de idéia. Sabia. Olhei para os lados, pensando se Aidam iria aparecer e tentar impedir isso, mas não, claro. Até porque, se ele fizesse isso, com certeza, aí sim que ela não iria mudar de idéia e eu teria um fantasma irritado e uma vizinha teimosa (ainda mais). Eu dei uma risadinha com o pensamento, tentando imaginar os dois interagindo, ainda que tentando ser civilizados, o que me parecia meio impossível, e então sorri para ela.

- Ok, Candace. Você me lembra a minha mãe, então eu acho que vou confiar em você. - Sorri, me levantando também. - Quando quer começar?

Ela, aparentemente, também possuía o leve receio de que o fantasma voltasse a aparecer. Talvez fosse pelo fato de ele nos ter interrompido certeza de zilhões de vezes em um intervalo de tempo inferior que sessenta minutos. Gosh, ele conseguia ser inoportuno.
Olhei para Katharine, que parecia estar momentaneamente imersa em seus próprios pensamentos. Não sei se ela estava com duvidas ou algum tipo de medo de me ter como “treinadora”, mas, vou te contar, eu consigo ser bem eficiente quando quero. E, na maioria das vezes, eu quero, então, as coisas que eu realizo acabam sempre sendo as melhores, modéstia a parte. Não que eu seja perfeccionista ou algo assim. Na verdade eu acho o perfeccionismo meio nerd, mas eu sou só profissional, entende? Confio no meu taco quando me refiro a duas coisas? 1ª Violência. 2ª Mediação.
Depois de um intervalo de tempo que eu realmente não medi, Katharine me deu um sorriso e deu sua resposta. Que não foi muito estimulante, devo acrescentar. -.-
- Ok, Candace. Você me lembra a minha mãe, então eu acho que vou confiar em você. – Eu tentei não fazer uma careta devido à esdrúxula frase de que eu me parecia com a MÃE dela e só a olhei meio... com cara de paisagem, sabe como é? - Quando quer começar?

Agora ela também já estava de pé.
- Certo, eu tenho três zilhões de coisas para arrumar na minha toquinha do coelho. Mas, hey, você vai estudar em que Colégio? – Ela me respondeu, dizendo que seria na Junípero Serra. O mesmo que eu – Então nos encontramos lá e batemos um léro. Eu preciso sondar toda a sua capacidade para depois começar a te treinar. – Me virei em direção à rua, sem espera-la. Depois olhei para trás e falei – De qualquer forma, hoje à noite eu estarei no... – pensei por alguns instantes e decidi o lugar com um sorriso nos lábios – cemitério. Se quiser, passa lá!
Me virei e, sem espera-la, comecei a andar, com direção à minha casa. Ela parecia estar congelada demais para me acompanhar, mas não me importei e continuei seguindo, pensativa. Sim, eu estava pensativa, porque, veja bem, eu iria precisar de um pequeno tempo para me inteirar de todo esse papo novo de Deslocadores, viajem no tempo e panz. Iria ter que pesquisar fundo e juntar todas as informações possíveis sobre o assunto. Também teria que conversar mais com ela e colher tudo o que ela sabia sobre o assunto e medir a coragem dela, é claro. Aliás, eu iria ao cemitério justamente para testá-la. Dependendo dos resultados, iríamos, então, passar para a prática. O grande momento. E eu iria junto, se fosse preciso. É isso aí, mano, me deslocar no tempo. Porque em X-man o Noturno pode carregar alguém junto para qualquer lugar que se desloque não é mesmo? Pois eu iria testar isso também. Eu só precisaria ter certeza de que eu e Katharine não iríamos morrer ou algo assim. Porque eu não me importaria com alguns ossos quebrados, mas cara, virar uma fantasma precoce estava longe dos meus planos!