What are you doing here?[fechado]

Fazia uma semana que eu vagava nos arredores do penhasco, talvez pensando que uma idéia repentina pudesse surgir para resolver minha situação. Eu rondava o lugar aos poucos, cada dia chegando mais perto do lugar em que Claire morrera e onde eu batera meu carro. Como o destino era cruel. Nos matar no mesmo lugar. Isso tinha que ser mais do que coincidência. Mas enquanto eu não descobrisse nada desse mistério, continuei por ali, desejando que uma idéia me ocorresse. É claro que nada aconteceu, as coisas não funcionam assim.

Acabei me sentado na pedra que fica bem na ponta dele, observando a extensão do mar. Como alguém poderia desejar morrer com tantas coisas pra aproveitar? Eu realmente não entendia. E já estava ficando realmente entediado de tanto pensar nisso e de tentar evitar procurar Katharine de novo. Eu sei que ela dissera que ia me ajudar, mas mesmo assim, eu não sabia se queria interferir na vida de alguém dessa forma, mesmo que a missão dela fosse ajudar almas como a minha.
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Quando minha capacidade de pensar a mesma coisa havia se esgotado, passei um bom tempo jogando pedrinhas perto de alguns humanos que estavam ali, logo cedo na praia. Era engraçado vê-los procurar quem estava fazendo isso. Me diverti um pouco, até que aparentemente um dos humanos olhou para minha direção. Não quis nem me certificar que ele pudesse me ver. Desapareci no mesmo instante.

Eu tinha que deixar o orgulho de lado e realmente aceitar a ajuda que eu mesmo havia pedido. Acho que se ela não quisesse me ajudar, teria me despachado àquela hora mesmo, da forma menos gentil possível. Decidi voltar a procurar Katharine naquele instante. Não sei ainda como funciona isso, se precisa haver algum tipo de ligação, mas o primeiro lugar que eu pensei procurar por ela, fora na escola Junipero Serra.

Era estranho voltar lá dessa maneira e rever tudo e todos, mas não ser visto. Eu já estava acostumado a isso, mas mesmo assim, num lugar como esse era estranho. Vaguei vagarosamente por todos os lugares que costumava freqüentar e um misto de saudades e tristeza bateram no meu peito. Era muito complicado sentir essas coisas nessa situação.

O pessoal estava na hora do intervalo e eu fiquei imaginando onde e com quem Katharine costumava andar. Pois as coisas nunca mudavam. Haviam os estudiosos, os populares, os brigões e mal caráter, os rejeitados e os solitários. Eu não me encaixava exatamente em nenhum desses grupos. Acho que o meu era misto.

Mas continuei observando a procura dela. Katharine, pelo que eu me lembrava, parecia ser do tipo quieto, sozinho. Não sei porque. Então, andando pelo pátio a vi sentada em um banco e como eu imaginara, sozinha. Fiquei morrendo de vontade de dar um susto nela, só de brincadeira, mas o lugar estava cheio. Decidi agir menos como um pentelho e tentei deixá-la me ver de longe, para se preparar.

Não demorou muito, ela me reconheceu, arregalando os olhos. Aproximei-me dela a passos lentos, parando de frente para o seu banco. - Hey! Acho que você está precisando de companhia não?- Falei, olhando para os espaços vazios ao seu lado. Bom, não podia chegar falando do meu problema logo de cara.

Eu nunca fui exatamente o tipo de pessoa que faz amigos. Ter uma mãe durona que te incentiva a ajudar fantasmas e ver fantasmas não é exatamente um ímã social. E pra ser sincera nunca exatamente me fez falta... Eu tinha a minha mãe. Era o bastante. Agora eu não tinha, apesar de meu pai ser ótima companhia, não era a mesma coisa... Quer dizer... Ele jamais iria saber quem eu realmente sou...

As coisas não foram muito diferentes socialmente ali em Carmel. Eu havia conhecido os outros mediadores, mas na escola... Eu ainda era... Estranha. Não que eu me importasse, não era o tipo de pessoa que se importava com isso, mas era um pouco estranho que tanto mudasse e isso não. Por isso cheguei a ficar satisfeita ao ver Aidam um pouco distante e então ele se aproximou.

- Hey! Acho que você está precisando de companhia não?

Eu sorri levemente e me levantei, puxando ele discretamente comigo em direção à uma sala de aula, vazia àquela hora.

- Eu achei que você tivesse desistido da ajuda. - Sorri, me sentando na mesa do professor.

Katharine sorriu levemente, se levantando e me puxando pela mão. Não pude evitar olhar ao redor, verificando se não tinha ninguém a observando, pois tudo o que eu menos queria agora era fazê-la passar por louca, por estar com o braço erguido puxando algo pela mão. Algo que para os humanos normais era invisível. Não sei, me bateu certa preocupação, pois eu sabia como as pessoas dessa cidade eram. Tudo bem que ali havia um grande número de mediadores, eu havia percebido isso, mas quando se quer evitar alguma coisa, ela bate a sua porta o mais rápido que você possa imaginar. E para alguém que não enxerga fantasmas, ver aquilo seria um prato cheio para fofocas. Mas da mesma forma que ela parecia se abster por ficar sozinha, ela sabia ser bastante discreta. Aparentemente ninguém nos vira, aliás, não a vira até que entrássemos em uma sala de aula.

Quando entramos na sala, ela falou: - Eu achei que você tivesse desistido da ajuda. – Sorrindo em seguida, enquanto se sentava na mesa do professor. Não pude deixar de observar mais uma vez, como o seu sorriso era bonito, como ela tinha traços delicados e contornos perfeitos, em sintonia. Como se sua boca tivesse sido moldada certinho para o formato do seu nariz pequeno e... ok, primeiro, eu sei que existem pessoas que não tem traços tão simétricos e parece que o nariz foi pego de uma pessoa, a boca de outra e os olhos de outro. Detalhes que parecem destoar. Mas dela não, parecia ter sido moldado à mão com perfeição e... calma, se concentre Aidam e responda, antes que ela te ache um idiota.

Sorri de volta e me sentei ao seu lado na mesa. - Bom, vamos dizer que em parte sim, eu havia desistido. Primeiro eu achei que fosse pelo fato de pensar que eu pudesse resolver tudo sozinho. Passei a semana toda rondando o penhasco em busca de algum esclarecimento. - Sorri fracamente para ela. -Mas sinceramente, eu achei que não deveria te incomodar tanto, porque você tem a sua vida e tal. Mas pelo que eu vejo, você é bem sozinha não?- Falei, colocando uma mecha do seu cabelo para trás, mas tirando a mão em seguida. Eu estava muito abusado, isso sim.

Enquanto esperava sua resposta, tentei prestar atenção aos sons lá de fora. Pelo jeito ainda estava na hora do intervalo e ainda podíamos ficar ali com tranqüilidade. Pensei trancar a porta para que ninguém pudesse entrar, mas eu estava sendo paranóico demais. Se alguém entrasse ali, provavelmente não poderia me ver e ela poderia fingir que só estava por ali estudando ou algo assim. A não ser que alguém nos ouvisse... não, era muita paranóia. Dei uma relaxada quando ela começou a responder, mas Katharine foi interrompida pelo barulho da fechadura. Ela estacou e eu fiquei só esperando. A pessoa entrou de forma muito esbaforida, encostando na porta com um livro ao peito. -Essa pelo jeito não pode me ver.

”... — Sim. — Caine baixou os lábios para os dela. Lentamente, roçou-lhe a boca com sensualidade. Aos poucos, foi trazendo-a para mais perto, até que o corpo de Diana estivesse colado ao seu...” Eu estava sentada no canto mais afastado de todo o agito da hora do intervalo, com esse livro em mãos. Podia sentir que meu rosto esquentava a cada palavra que eu lia, mas o pior é que eu não conseguia desgrudar os olhos do livro. Ao mesmo tempo em que eu queria fechá-lo e devolver para a escrivaninha da qual eu havia pego, eu conseguia visualizar as cenas como quando eu lia meus livros de história menos despudoradas favoritos. Maldita hora que mamãe me pediu para subir ao quarto de Cori!

Olhei para os lados, fechando o livro entre o maior de Geografia, pois eu tinha muito medo de ser pega por uma daquelas freiras. E o meu medo não tinha nada a ver com o fato de mamãe ficar brava por eu ser pega lendo um romance quente daqueles, mas sim porque agüentar Cori rindo da minha cara seria um pouco torturante. Sinceramente, eu não ligava sabe, porque ela adorava fazer isso a cada oportunidade que tinha, mas é que daquela vez a humilhação poderia ser pública e acontecer uma coisa dessas logo de início na escola não era legal.

Olha, falando assim, parece que Cori é o diabo de saia, mas não é tanto... Ok, é um pouquinho, mas acho que ela pega no meu pé porque gosta de mim ou sei lá. Se bem que ultimamente eu tenho ligado muito mais que o normal, meus nervos estão um pouco à flor da pele e isso tem rendido mais momentos de perturbação e.... Bom, não é isso que conta aqui.

Quando eu vi que não tinha mais nenhuma freira por perto voltei a abrir o livro: ”... Ela sentiu os dedos fortes deslizando por sua nuca, e criou imagens mentais do que aquelas mãos podiam fazer com seu corpo. Enquanto se distraía com isso, a boca de Caine tornou-se mais exigente...” Oh Meu Deus, seria ruim eu admitir que também estava criando imagens mentais. Não, eu não era nenhuma religiosa fervorosa, era até uma “inimiga” de qualquer religião, mas aquilo fez meu rosto esquentar muito mais do que o normal e eu deveria estar mil vezes mais vermelha que há minutos.

Continuei a ler, apesar de meu provável constrangimento, até que senti alguém passando perto de mim. Eu acho que estava ficando louca, pois estava me sentindo como uma daquelas fugitivas ou como quem está portando algo ilegal – não que ler um livro desses numa escola católica seja legal, mas... – e então, decidi sair dali e ler num lugar mais afastado, até que desse a hora de voltar para a sala de aula.

Será que eu não estava exagerando demais não? Ah, não sei, só sei que eu queria terminar o livro e que a mera hipótese de que alguém pudesse me pegar lendo ele era aterrorizante. Não que eu fosse uma donzelinha doce e meiga... Oh, tudo bem vai, se você for tentar me descrever será exatamente desse jeito, pois eu acredito em todas aquelas coisas de primeiro e único amor, de príncipe encantado. Pode falar vai, eu sou doida e minhas irmãs têm razão em zoar da minha cara, principalmente Deli que é mais descolada. Mas o que eu posso fazer se não consigo ver os homens e os relacionamentos da mesma forma que elas?

Mais uma vez eu estou fugindo do crucial. Levantei-me do lugar em que estava, tentando não olhar para os lados e coloquei o livro contra o peito. Chegando perto das salas de aula, olhei ao redor para ver se tinha alguém passando e vi apenas uma das freiras mais boazinhas, andando por ali pacificamente(?). Mas não iria arriscar.

Parei em frente a porta de uma sala e congelei ao levar a mão a maçaneta. Tinha alguém conversando lá dentro. Pensei em sair dali imediatamente, mas percebi que só havia uma pessoa falando. Sim – a menina no caso – falava como se estivesse conversando com alguém e continuava como se tivesse obtido alguma resposta, a qual eu não ouvia. A outra pessoa devia falar muito baixo, conclui por fim e então eu decidi achar outra sala. Mas quando estava saindo de lá ouvi passos e nem pensei. Do jeito que eu estava paranóica hoje, ser pega por uma freira seria fácil, fácil.

Corri de volta para a porta, entrando rápido e sem cerimônia. Fechei-a atrás de mim, encostando-me nela com o livro ainda grudado no peito e seguro por uma das minhas mãos. Não pude deixar de arregalar os olhos ao constatar que havia somente uma pessoa ali. A menina da qual eu ouvira a voz. Não sabia se a questionava sobre com quem ela estava falando – porque a curiosidade sempre fora uma das minhas características mais marcantes – ou se pedia desculpas por interromper daquele jeito. Por fim, acho que decidi pelas duas coisas e comecei a falar rapidamente:

-Hmm.. me desculpe, mas é que eu vi alguém vindo pra cá e tive que correr aqui pra dentro... Eu tinha ouvido você conversando com alguém e estava indo para outra sala estudar...- apontei para o livro -...só que me desesperei um pouquinho, e o mais estranho é que não tem ninguém aqui com você e... olha eu me enrolando mais ainda. -Você estava falando sozinha?- Falei, franzindo as sobrancelhas.

N.A.: Os trechos do livro que Morgan está lendo foram tirados de Destino Tentador, de Nora Roberts

- Bom, vamos dizer que em parte sim, eu havia desistido. Primeiro eu achei que fosse pelo fato de pensar que eu pudesse resolver tudo sozinho. Passei a semana toda rondando o penhasco em busca de algum esclarecimento. Mas sinceramente, eu achei que não deveria te incomodar tanto, porque você tem a sua vida e tal. Mas pelo que eu vejo, você é bem sozinha não? - Aidam falou, colocando uma mecha do meu cabelo para trás, num gesto aparentemente automático, que ele notou e imediatamente se conteve.

Era engraçado como de todos os fantasmas que eu havia visto e convivido por toda a minha vida ele fosse o mais fácil de estar perto... Como se ele não fosse um fantasma de modo algum. Eu dei uma risadinha com isso e me virei para encará-lo enquanto respondia.

- Bem, nunca ouvi falar disso, mas de repente a resposta pode pular do penhasco de um modo mágico, não ach... - Eu estava no meio da minha frase quando a porta se abriu rapidamente e uma garota entrou.

Se uma pessoa da minha idade e condições físicas pudesse efetivamente morrer de susto, eu tenho a sensação que àquela hora teria me juntado a minha mãe e ao Aidam. Mas como isso não é exatamente provável eu simplesmente suprimi o meu gritinho de susto e fiquei branca o bastante para me passar por morta, disso eu tinha certeza. Olhei rapidamente para Aidam que observou que a garota não podia vê-lo e depois me concentrei na garota que me encarava de um modo inquisitivo.

-Hmm.. me desculpe, mas é que eu vi alguém vindo pra cá e tive que correr aqui pra dentro... Eu tinha ouvido você conversando com alguém e estava indo para outra sala estudar...só que me desesperei um pouquinho, e o mais estranho é que não tem ninguém aqui com você e... Você estava falando sozinha?

Eu a encarei engasgando um pouco antes de conseguir falar.

- Ahm... Uhm... É... Eu... Ahm. E se eu estivesse? - Perguntei de um modo meio desafiador. Quer dizer, se eu virasse e falasse que estava falando com um fantasma ela iria achar que eu sou maluca. Se eu admitisse que estava falando sozinha eu poderia inventar uma desculpa muito melhor... Eu acho. - E se você estava querendo estudar... - Foi a minha vez de lançar um olhar questionador para a garota à minha frente, que ficou levemente corada. - ...por que se desesperou e teve que se esconder?

É, pela cara dela isso com certeza iria conseguir me livrar de mais perguntas por alguns instantes.

Eu mal pude prestar atenção no que Katherine havia começado a falar, até ser interrompida daquele jeito. Agora minha atenção se voltara para e menina que entrara na sala, cortando a nossa conversa. Ela olhava para nós dois...hmm... digo, para Katherine com os olhos arregalados. Eu só não sabia se era por estar fugindo de algo – dado o modo como ela entrou na sala – ou se porque ouvira Katherine falando aparentemente sozinha. Porque eu sabia que ela não podia me ver.

Por fim, eu acabei achando que ela estava realmente fugindo de alguma coisa, pois todos os seus gestos demonstravam isso. Primeiro, ela começou a falar de forma desenfreada, mesmo ninguém ali tendo pedido explicações. Depois, tinha o fato de ela estar ofegante e quem corre por estar estudando em... hmm.... uma escola? Ali tinha coisa. Sussurrei no ouvido de Katherine: -Aí tem coisa, hã?!

Mas Katherine não precisava que eu lhe dissesse nada. Começou gaguejando, e logo tomou um ar de desafio questionando o que a menina tinha a ver com o fato de ela estar falando sozinha. Dei uma risadinha e acho que ela teve que se segurar também, porque se desse a impressão de que estava se comunicando com outra pessoa que não fosse a menina que havia acabado de entrar, atrairia mais suspeitas. A menina balbuciou respostas, mas nada muito concreto o que fez Katherine tomar mais força e enfrentá-la com mais segurança.

E o que ela falou era exatamente o que eu pensava. Se ela estava querendo estudar, por que tinha que se esconder daquele jeito? Isso estava muito estranho. Fui para perto dela e percebi que ela se arrepiou um pouco. Será que ela era daqueles tipos mais sensitivos? Bom, eu não deveria ter arriscado, agora já era. Mas para não perder “viagem”, tentei olhar o titulo do livro que ela abraçava fortemente. Mas era apenas um livro de geografia. Percebi que ela ainda estava pensando no que responder e que agora Katherine lançava um olhar interrogativo para mim. -Ela está apenas segurando um livro de geografia, Katherine. É proibido estudar geografia hoje em dia?- Perguntei com ar de riso, vendo que ela também não poderia responder. É claro que eu sabia que não era proibido estudar geografia.

-Só tem um jeito de saber...- Falei, levantando as duas sobrancelhas duas vezes seguidas. Dizendo isso, puxei o livro dos braços dela com força, derrubando-o no chão, de forma que pareceu que ela havia derrubado. Katherine arregalou os olhos e não consegui evitar que uma gargalha saísse de minha boca. Olhei para o chão onde havia não um, mas dois livros caídos. Cheguei mais perto deles, mas sem tocá-los e percebi que o segundo era bem menor e mais fino e que deveria estar escondido entre o grande de geografia. Era um daqueles romances de banca, bem descarados que eu sempre via no quarto de minha irmã e que ela ficava muito vermelha quando eu tirava sarro sobre algum deles.

A menina ficou sem reação, mas logo se recuperou, pegando tudo do chão. Nesse ínterim, Katherine poderia ter visto tudo, mas não sei se ela conseguiu enxergar exatamente o que era. Por isso que ela estava com tanto medo assim! O Segundo livro é um romance daqueles beem.... picantes e imagina se alguma freira a pega?- Falei, me dobrando de rir logo em seguida.

- Ora, vamos... Você não pode esperar que eu acredite que você estava fugindo porque as freiras não iam te deixar estudar. Quer dizer, elas são rígidas e totalmente a favor de seguir os horários e tudo mais, mas duvido que elas iam te dar detenção por você estar estudando... - Eu continuei a conversar com a garota, tentando ignorar a movimentação de Aidam pela sala.

Eu estava realmente desconfiada que havia mais no que se referia àquela garota, e pelos comentários que fez eu soube que Aidam também estava. Ele se aproximou dela, tentando descobrir o que poderia ser que ela estivesse escondendo, e de repente, num daqueles movimentos calculados que só os fantasmas sabem fazer (sabe como é?) derrubou o livro da mão dela. No final das contas eram dois livros, ela estava escondendo o outro, e eu, tentando não rir da situação toda, tentei ver qual era o livro, mas não consegui.

Por isso que ela estava com tanto medo assim! O Segundo livro é um romance daqueles beem.... picantes e imagina se alguma freira a pega?

- Picantes? - Eu disse, não conseguindo segurar o riso, e nem mesmo ligando para o fato de que eu havia simplesmente soltado essa palavra totalmente fora de contexto.

Olha, olhando essa garota assim, de primeira, eu não ia imaginar que ela lesse coisas desse tipo... Ela parecia tão... Santinha. Bem, obviamente eu havia errado e ela estava pegando o livro desesperadamente...

- Então você realmente tinha um motivo pra fugir das freiras né? - Dei uma risadinha sarcástica. - Bem, se eu fosse você eu...

Eu não sei mesmo o que faria no lugar dela e nem ia conseguir inventar nada... A porta se abriu novamente antes que eu pudesse terminar.

”Burra! Burra! Burra! Burra! Mil vezes burra! Você é uma anta Morgan, uma anta de marca maior. Nem parece que é uma bruxa descendente dos super bruxos de Salém e dos Nurses!” Pensei, batendo com a mão na testa mentalmente, porque minha vontade era essa. Mas com certeza eu deveria estar com os olhos totalmente arregalados, do tamanho de não sei o que. Como eu poderia ser tão idiota assim? É claro que quem quer que estivesse ali perceberia que eu não estava realmente estudando. Claro, porque quem se esconde pra estudar? Se ali é uma escola?Mais uma vez, eu sou uma idiota!

Segurei o livro com mais força em meus braços, como se assim ele fosse sumir entre eles, de tanto apertar. E fiquei olhando para a menina ainda sem palavras. Além da vergonha e da sensação de ser uma idiota, eu estava sentindo tremendos arrepios de tempos em tempos, como se tivesse algo de diferente ali. E com quem aquela menina estava conversando? Apesar do medo de me verem com um livro daqueles, o que seria um tremendo mico, isso não me saia da cabeça. Eu acabaria tendo que ficar com a conclusão de que ela era louca e falava sozinha.

Mas mal tive tempo para falar mais nada, pois minha dor de barriga verbal havia me ferrado, claro! Primeiro que eu não deveria ter perguntado assim, na lata, com quem ela estava falando. Era problema dela e agora tinha o fato da minha provável cara de assustada e suspeita. Ela assumiu um ar bastante desafiador, dizendo que eu não tinha nada a ver, caso ela estivesse mesmo falando sozinha. Claro que não, eu que era uma curiosa ansiosa. E daí veio o pior. Ela indagou, ainda mais confiante, porque eu estava fugindo se estava apenas estudando.

Olha, eu devo ter ficado vermelha, roxa, verde, e depois muito branca. O que eu ia falar? Tá vendo? Pessoas como eu não podem fazer esse tipo de coisa, viu. Elas sempre são pegas. Minha boca mexeu como aqueles peixes bonitinhos de aquário que parecem sempre estar falando alguma coisa, mas nem um som saiu. Nada, nadica de nada. Eu fiquei pensando no que falar, o que deve ter feito as engrenagens do meu cérebro quase fundirem, até que eu senti aquele arrepio de um jeito mais forte. Ali tinha coisa, viu?!

Então, quando eu finalmente pensei em pedir desculpas e sair dali naquela hora mesmo, o meu livro caiu ao chão. Não sei como, pois eu estava segurando com tanta força... Eu sou a pessoa mais sem sorte do mundo mesmo! Como alguém pode ser assim? Mas não me deixei ficar parada pensando em como a vida estava me pregando uma peça hoje. Me abaixei rapidamente, xingando de todos os nomes faláveis e possíveis o maldito livro que poderia ter ficado escondidinho dentro do grande de geografia. Mas nãaoo, ele não quis que isso acontecesse. Apenas preferiu cair e se mostrar para todo mundo, me ferrando é claro.

Peguei-o do chão e o enfiei rapidamente dentro do livro de geografia de novo. Já estava ferrada mesmo, e vai que a menina não viu. Estava torcendo por isso, quando ela falou e ai, ela falou o que eu temia. - Então você realmente tinha um motivo pra fugir das freiras né? – Fechei os olhos rapidamente ao ouvir sua risadinha sarcástica e abri quando ela tornou a falar: ¬- Bem, se eu fosse você eu... Bom, ela com certeza iria fazer alguma brincadeirinha sem graça com o fato, mas olha, eu preferia ter ouvido o que ela tinha a falar do que esperar que a porta se abrisse.

Agarrei ainda mais o livro e olhei com os olhos quase saltando das orbitas para a pessoa que havia entrado na sala. -O que vocês duas estão fazendo aqui? O intervalo termina daqui a dois minutos.- Mal olhei para trás e sai pela porta apressadamente, sem nem olhar no rosto da freira que estava ali. Mas não fui para a sala de aula e sim para a biblioteca esconder o livro em um lugar qualquer até que fosse seguro sair com ele. Sim, porque vai que a menina espalha para os amigos dela e vem um daqueles engraçadinhos fuçar nas minhas coisas. Chega de passar vergonha por hoje.

Ok, aquele “passeio” estava sendo mais divertindo do que eu podia imaginar. Não vou dizer coisas clichês como: ”Ah, é normal uma menina daquela idade gostar dessas coisas e ao mesmo tempo ter tanta vergonha”Ou coisa que o valha. É ridículo demais. Eu só sabia que era muito engraçado ver alguém tão envergonhado e atrapalhado, assim como ela, reagia quando outra pessoa descobria os seus segredos. Por isso que era bom ser fantasma, eu poderia rir a vontade dela sem ter que dar explicações.

Eu percebi que apesar de tudo, Katherine estava achando muita graça da situação. E que depois de passado o susto ela também estava propensa a tirar uma com a cara da menina. Começou dizendo que ela realmente tinha um bom motivo em estar fugindo das freiras. Claro, imagine se uma daquelas mais bravas pega ela com um livro desses? No mínimo ela teria que ajoelhar no milho e rezar milhões de padre nossos e aves marias. Ok, bem menos, mas dependendo da freira, eu não duvidava muito não.

Estava me dobrando de tanto rir. Katherine iria continuar a zoar com a cara dela, começando a dizer o que faria se estivesse no lugar dela, quando a porta foi aberta. Eu parei de rir na hora, mesmo sabendo que a pessoa que entrara ali não podia me ver, mas mesmo assim me assustei por Katherine. Ela desceu imediatamente da mesa onde estava e menina estava mais branca ainda, se é que isso era possível. A freira indagou o que as duas estavam fazendo ali e avisou que logo o sinal bateria. A menina saiu correndo o mais rápido que pode e eu falei pra Katherine: -Ela pelo jeito se safou. É bom a gente sair daqui também.- Ela saiu o mais rápido que pode, comigo em seu encalço.

Quando vi que ela não estava indo para a sala de aula, coloquei a mão em seu ombro e falei. -Hey, tá doida? Não vai pra sala não?- Ela olhou para mim e riu, dizendo algo sobre andarmos logo para ela não ser pega. Dei de ombros e continuei a segui-la. -Cara, que menina era aquela?- Falei voltando a gargalhar. -Olha, dá um pouco de dó, mas imagina se a freira pega um livro daqueles?- Falei, em meio às gargalhadas.

Por fim, entramos na biblioteca e eu não sei o que Katherine queria com isso. Ali ela teria que falar muito baixinho e corria o risco de ser pega. -Por que viemos para cá? – Falei, mas mal pude dar tempo para ela responder. Havia enxergado uma cabeça loira, abaixada sobre uma mesa, lendo alguma coisa. -Olha quem está aqui!- Apontei para a direção da menina.

Deus do céu. Se eu não acreditasse no Senhor, com certeza estaria amaldiçoando toda a Igreja Católica por aquela freira que interrompeu tudo que estava tendo de produtivo no meu dia.

Eu precisava conversar com Aidam, isso seria produtivo. E eu estava quase liberando algo próximo a diversão dentro de mim. Não que eu fosse rir até cair da garota, ou sair contando pra todo mundo sobre como ela era... Ahm... Mas eu iria me divertir, disso sabia. Quer dizer, eu não tinha muitas oportunidades de deixar esse meu lado aflorar, já que não tinha amigos, e estava me divertindo um bocado só de ver o Aidam rindo da situação. Só que com a chegada da freira, isso tudo perdeu a possibilidade de acontecer.

Só quando a garota saiu quase correndo e eu fiquei novamente sozinha com Aidam, notei que havia uma opção. Eu poderia matar aula no único lugar onde se pode matar aulas na Missão. A biblioteca.

Me esgueirei para fora da sala, com Aidam no meu encalço, falando sem parar enquanto eu praticamente resmungava respostas rápidas que nem mesmo sabia se ele compreendia. Apenas quando chegamos à biblioteca, vazia como sempre, me senti livre para falar um pouco mais alto e interagir o máximo possível com ele.

-Por que viemos para cá? - Ele perguntou e eu comecei a dar uma resposta, nada perto do que se passava na minha cabeça, que levava ao fato de eu ter visto um casal entre as estantes no primeiro dia de aula, e o fato de que eu estar lá sozinha com ele ter me lembrado disso, eu tentava varrer pra longe da minha cabeça e da minha voz, quer dizer, não tem nada a ver. NADA. Mas pra minha sorte ele me interrompeu. -Olha quem está aqui!

Olhei meio tonta para a direção que ele indicara e vi a garota do livro picante, debruçada sob alguma coisa, talvez aquele mesmo livro e revirei os olhos dando um bufo de leve.

- Como eu vou conversar com você com essa garota em todos os lugares? Se ela me ver falando sozinha de novo vai sair contando pra todo mundo...

Me encaminhava a passos rápidos para a biblioteca, pensando em me livrar do livro o mais rápido possível. Sim, como eu queria ter o poder de sumir com os objetos. Sabe, fazer uma forcinha com o pensamento e ploft, ele desaparecia [queria só entender porque a player adora usar as onomatopéias erradas, mas prosseguindo]. Cheguei à biblioteca e andei pelas estantes procurando um lugar satisfatório para esconder o livro. Um lugar que eu pudesse achar de novo, mas que ninguém pegasse, sabe? Bem, eu sei que era impossível, então mais uma vez pensei naquele poder de fazerem as coisas desaparecerem. Por fim, juntando a minha indecisão, a falta de recursos materiais e a vontade de continuar a ler o livro, dei de ombros e fui me sentar no cantinho mais afastado. Era só fazer do jeitinho que eu estava fazendo, colocar o livro entre o de geografia. Se bem que isso me despertou um mau agouro, mas o que fazer se a curiosidade começava a comichar meus dedos para virar as paginas e meus olhos para ler? E foi o que fiz. Me sentei na última mesa e tentei parecer que estava estudando.

A cena da sala de aula já tinha até saído de minha cabeça. Pelo menos por hora a minha curiosidade acerca daquela menina estar falando sozinha já não estava tão latente. Ela poderia voltar depois, mas por hora a única coisa que me vinha à cabeça é que ela era louca mesmo. Voltei então a ler o livro, tranquilamente. Bem, não vou enganar ninguém que era com o máximo de neura possível e eu tinha que tomar cuidado.

” Diana segurou-lhe os ombros. Sua paixão parecia crescer como o vento, mas era quente, sufocante, enquanto ele depositava beijos em seus lábios e rosto. Ela ouviu o eco das ondas estourando, então nada além do seu nome sussurrado quando Caine traçou-lhe a orelha com a língua. Diana pressionou o corpo contra o dele, procurando pela boca maravilhosa.” Aquele livro por um acaso tinha poderes hipnotizadores? Porque, por mais que fosse bastante obsceno, eu não conseguia deixar de prosseguir. Mais uma vez senti meu rosto esquentar conforme lia.

Já havia virado umas três paginas, quando senti aquele calafrio de novo. Mas ignorei, de tão absorvida que estava na leitura. Tinha até parado de olhar para todos os lados como uma louca, a cada parágrafo que lia! Então, ao chegar a uma parte mais picante ainda, que minha razão me mandava parar de ler, mas minha vontade de continuar não deixava, ouvi vozes. Olhei para trás alarmada, mas não vi ninguém. Dei de ombros pensando que poderia ser uma dupla de estudantes, absortos em discutir o seu trabalho. Será que a neura havia ido embora? Parecia que sim e isso era mal sinal.

Então, quando achei que tudo tinha voltado a quietude, ouvi vozes de novo. Alias, ouvi uma voz, que tentava falar baixo, mas parecia um pouco exaltada. Me levantei vagarosamente e andei nas pontas dos pés, com os livros fechados em minhas mãos. Passei pela primeira estante e ouvi uma menina dizendo que não era pra perturbar não sei quem. Decidi dar a volta e me revelar. A pessoa se assustou e mal pode ter reação. Parei e cruzei os meus braços na frente do corpo: -Eu já te pedi desculpa, não precisa me seguir também! E com quem você estava falando de novo?- Falei, franzindo as sobrancelhas, muito mais intrigada do que qualquer outra coisa.

Eu poderia em lembrar muito bem que aquela seção em que estávamos, era a menos usada para o que servia e a mais usada para os amassos do pessoal quando eu estudava aqui. Sim, e nenhuma freira tinha pego nenhum dos casais. Pelo menos até quando eu estudei ali. Mas a coisa toda foi varrida da minha cabeça quando eu avistei a menina sentada lá, a poucos metros de mim, lendo. Era um convite e tanto para a diversão!

Katherine ainda falava comigo, quando eu apontei e não pude ouvir o que ela dissera, de tão empolgado que estava. Esperava que ela não ficasse brava comigo e depois a gente poderia conversar, mas bem, diversão é diversão né? Sorri para ela maliciosamente, colocando as mãos no bolso e tentando ver se ela compartilhava da mesma idéia que eu: -Hey, que tal pregar um susto nela?- Falei, levantando as sobrancelhas e rindo. Katherine não gostou muito da idéia, dizendo algo sobre o fato da menina questionar se ela estava falando sozinha de novo.

-Poxa Kat...- Falei, parando em seguida. Pigarreei um pouco embaraçado....digo, Katherine, o que pode acontecer? E no mais, você fica escondida só assistindo. Eu faço tudo.- Ela era muito boazinha! Um sustinho de nada não ia matar a loirinha pervertida envergonhada. -Aah, um ventinho básico, o livrinho dela sai voando e ela fica mais desesperada e...-Katherine me interrompeu falando um pouco mais alto. Olhei para ela alarmado, pois assim estragaria o nosso plano. Mas ela baixou a voz, para que a menina não ouvisse.-Hmm... E se eu só derrubasse uns livros? Pra ela pular da cadeira, feito uma doida?- Meus argumentos não estavam adiantando e mesmo aos sussurros, a voz de Katherine foi aumentando um pouquinho, para o silencio sepulcral da biblioteca. Eu nem estava mais olhando na direção da menina, quando para a nossa surpresa ela apareceu ali, cruzando os braços e um pouquinho brava.

-Fala pra ela que você não tem que dar explicações e vamos embora!- Mas Katherine não me ouviu e respondeu a menina. Bem e eu? Eu não resisti, derrubei dois livros, fazendo as duas pararem de falar. Dei um risadinha e Katherine olhou para mim, muito brava. -Desculpa, eu não resisti e...- Meu queixo caiu uns 30 cm se isso fosse possível. Parada ali, bem atrás da menina estava uma freira, a daquelas beem chatas, só pela sua cara azeda.

-Putz, ferrou...- Falei, colocando as mãos na nuca. Katherine não ia querer me ver nem pintado de ouro agora. A freira, com um ar imponente falou. - O que vocês estão fazendo aqui uma hora dessas? Não deveriam estar na aula?

Olha, eu não deveria ter discutido com o Aidam, não mesmo. E eu deveria ter escutado ele, ao invés de ter decidido ficar ali e discutir mais um pouco com a loirinha dos livros picantes. Devia mesmo. Mas eu que não vou falar isso com ele, muito mais fácil virar pra garota e falar que não era da conta dela (que foi o que eu fiz) e tentar assustar ela dali, afinal, eu queria falar com o Aidam sem ninguém achando que eu estava falando sozinha e muito menos pessoas que eu nem conheço me cobrando satisfações. Mas já havia algo estranho naquela garota, algo que eu não consegui distinguir muito bem o que é, mas que era o bastante pra não querer ser exatamente simpática com ela, principalmente considerando o tanto que ela queria se meter na minha vida.

Mas as coisas sempre podem piorar, isso é um fato. E antes que eu e a garota pudéssemos realmente começar a discutir nossos problemas uma com a outra, tudo aconteceu ao mesmo tempo. Aidam resolveu dar uma de engraçadinho e derrubar os livros dela, bem quando uma freira atarracada e com cara de má entrou, e imediatamente exigiu de nós o que estávamos fazendo ali. Lancei um olhar raivoso para Aidam, que se encolheu, e a freira achou que era para ela e antes que eu pudesse falar qualquer coisa, eu já estava em detenção. Então ela se virou com um olhar ainda mais irritado para a garota e, pegando os livros dela do chão imediatamente ficou com o pescoço vermelho.

- Mas o que diabos é isso?! Esse tipo de leitura é proibida aqui. Por isso vou dobrar a detenção das senhoritas!

Calma aí? Das senhoritas? Eu estava em detenção com a garota loira por causa do Aidam e dobrada por causa do livro idiota dela???

Legal. Muito legal mesmo.

Hmmm... E desde quando eu desafiei as pessoas daquele jeito? Porque apesar da minha curiosidade eu não era de me meter na vida de ninguém! No mesmo momento que eu decidi me levantar pra tirar satisfações e indaguei a menina, eu me arrependi. Juro! Talvez se eu tivesse pensado melhor, agora eu estaria no aconchego da sala de aula, sem ter que passar por prováveis constrangimentos desnecessários. Mas não, algum impulso maligno havia me levado até ali para tirar satisfações com aquela menina. Satisfações? Satisfações? Ah, eu estava louca e quem falava sozinha feito uma velha gagá – o que eu desconfiava que não era bem assim – era ela.

Mas já que eu tive a petulância de ir até ali, eu esperei. O máximo que eu poderia Recber de novo era um ”Vá se meter com a sua vida!”. E pronto. Tomava uma esfregada e encerrava tudo. O que eu duvidava, porque quando estou obstinada a saber de algo eu sou bastante exigente. Mas mesmo assim, prestei atenção em todos os seus gestos. Ao mesmo tempo em que ela parecia querer me mandar às favas, ela parecia meio desconfortável com alguma coisa. E eu também estava sentindo aquele calafrio bastante característico. Eu sabia o que aquilo queria dizer, mas ainda custava a acreditar. E alem do mais, se eu aceitasse aquilo como verdade, explicaria tudo o que estava acontecendo.

E é claro que ela falou mais uma vez para eu parar de me meter na vida dela. Eu não tinha combinado comigo mesma que iria receber aquilo como um ultimato e sair dali ilesa? É mas não foi o que eu fiz. O jeito que ela falava comigo, me dava vontade de revidar. Talvez fosse um reflexo do que eu tinha vontade de fazer com Corinne, mas não tinha coragem. Sei que meu sangue ferveu um pouquinho e eu estava prestes a falar que aquilo não era se meter na vida dela, pois ela havia me seguido até ali. Então estávamos...hmm... quites? Bem, eu não tive tempo de revidar e como se eu tivesse algum problema em minhas atividades motoras, meus livros caíram uma segunda vez aquele dia. Eu não sabia se chorava de raiva ou gritava feito uma louca desvairada, mas o fato é que eu mal tive tempo para nenhum dos dois.

Uma freira apareceu bastante nervosa, e por algum motivo obscuro deu detenção a menina. Eu lançara apenas um olhar de soslaio e me virara novamente de costas, decidida a fazer o máximo de força para que eu virasse pó junto com o meu livro. Mas como eu não tenho esse poder – e não acho que isso seja humanamente possível até mesmo para os bruxos – eu desejei do fundo do meu ser que.... - Mas o que diabos é isso?! Esse tipo de leitura é proibida aqui. Por isso vou dobrar a detenção das senhoritas! – ...exatamente isso. Que ela não visse o meu livro. Mas já era tarde demais. Além de nos dar detenção ela havia dobrado a mesma. Eu mal pensava na maldita detenção e minha única preocupação eram as palhaçadas que teria que agüentar de Corinne.

Abaixei a cabeça, provavelmente roxa de vergonha e nem quis mais olhar pro rosto da menina. Já não bastava o episódio da fonte e agora Corinne teria mais um século para zoar da minha cara. Fora que eu ainda não tinha plena certeza da reação de mamãe e de Deli. É, eu estava multiplamente ferrada.

Putz! Acho que eu sou o fantasma mais pentelho da face da terra. Seu eu fosse um mediador não ia querer me ajudar. Com toda a certeza! Mas poxa, o que eu posso fazer se essas freiras não têm um pingo de senso de humor? Por que ela tinha que dar detenção a Kat? Ela não fez nada e estava ali por causa da loirinha safada. Que era muito metidinha e não tinha nada que se meter na vida dos outros. Eu ia falar isso para Kat, mas perdi a coragem. O que eu poderia falar naquela hora?

Apenas observei os olhos da freira saltarem quando olhou para o chão. Eu tinha dado a volta para ficar do lado de Kat – não que isso ajudasse muito – e estava pressentido um ataque apoplético por parte do pingüim. Ataque esse causado pela falta do que provavelmente acontece no livro. Eu quase ri da minha piada interna, imaginando se aquele olhar que ela lançou para o livro não foi de inveja, mas me segurei porque tinha quase certeza que da próxima vez que visse Kat, eu seria exorcizado.

Mas ao contrário do que eu imaginei, ela dobrou a detenção das duas, por conta do livro maldito. E tudo por minha culpa. Se eu não o tivesse derrubado. Mesmo assim, quando a vi pegando o livro do chão – e que provavelmente levaria para o reitor – não pude deixar de imaginar que ela com certeza daria uma espiadela nele quando ninguém estivesse olhando. Deixei-me soltar uma risada, enquanto as duas saiam da biblioteca a caminho da sala do diretor, quando Kat me lançou um olhar bastante chateado e raivoso. Fiz uma cara de quem pede desculpas, porque eu estava profundamente arrependido e sumi. Esperava que ela me perdoasse por essa.

[rp finalizado]