Good day sunshine [Aberto]

Good day sunshine

Good day sunshine

Good day sunshine

Ah, sério. Que raios de horas são? Alguém deveria proibir o meu avô de tocar essas músicas às 7 horas da manhã de um domingo. Nada de errado com a música ou o ritmo, só o tom super feliz e animado dos Beatles e do meu avô, que ao contrário dos garotos de Liverpool não tem nenhum dom artístico.

Enrolei um pouco na cama, me espreguiçando e formando argumentos contra o querido Sr. Norrel. Vesti minhas meias antes de sair da cama e desci as escadas. Lá estava aquele velhinho bonitinho fazendo panquecas orgânicas. Não me pergunte o que vai nelas, aliás, porque eu não tenho a menor idéia. Disse bom dia, sentei e apoiei meus cotovelos na mesa.

I need to laugh, and when the sun is out

I've got something I can laugh about

I feel good, in a special way

I'm in love and it's a sunny day

Olhei para fora, através da janela. É, estava ensolarado, mas eu não estava apaixonada. E nem estava com vontade de rir só porque estava vendo o sol. E sim, eu acordo mal humorada. - Nunca te disseram que é falta de educação fazer isso, Arabella? – A voz rouca chegou aos meus ouvidos calmamente. Eu sou assim tão previsível ou esse cara tem um terceiro olho na parte de trás da cabeça?

Olhei para os meus cotovelos e logo os baixei. Ai, como eu sinto falta da minha casa. Eu ainda estaria dormindo, e quando acordasse poderia comer meu cereal cheio de gordura trans enquanto assistia o meu adorado Peter Dobbie. Acredita que aqui não tem BBC? Tá, são os Estados Unidos da América, mas meu vô poderia fazer a gentileza de assinar a BBC para eu me sentir mais em casa e tudo mais. – Já são 7:15, Arabella. – por que é que ele tinha que terminar cada frase com o meu nome?

- O senhor quer dizer que são só 7:15 de um domingo, certo, vovô? – encarei as panquecas que já estavam na mesa. Ele se virou repentinamente para mim, com as mãos na cintura. Uau. Ele estava de avental.

- Hoje é segunda. – ele lê mentes. Ele me ouviu reclamando sobre sempre falar meu nome. Só pode. Espera. Hoje é segunda-feira? SEGUNDA? Hoooooly crap.Tropecei na cadeira e comecei a correr escada acima.Dei meia volta e desliguei o rádio. Desculpa, John Lennon, mas hoje são era um bom dia.Não, hoje era segunda, meu primeiro dia de aula nesse país.E, adivinha. Estou atrasada, horay! Peguei qualquer blusa que estava no encosto da cadeira do meu quarto e uma calça qualquer que eu achei em uma das gavetas. Calcei meus tênis e comecei a descer.

Dinheiro? Check. Chaves? Check. Mochila? Onde está minha mochila?! Ela estava perto da porta, prontinha para hoje, mas onde está ela agora? Olhei para meu punho para ver que horas eram e não vi meu relógio. Ótimo. Corri para a cozinha – Oi, vô. Você viu meu...- parei de falar no instante que vi o que ele tinha nas mãos. Era o meu relógio. Ou do meu pai, se você preferir. Fui até ele com a cabeça abaixada e o abracei impulsivamente.

-Você está bem atrasada, Arabella. – ele se afastou e me entregou o relógio e minha mochila. Acenei com a cabeça e saí. Sabe do que eu preciso? Além de um carro? Um abraço de verdade.E de qualquer coisa que toque música se eu não ganhar um carro, porque ir a pé para a escola sem nada para ouvir não é legal.

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É isso que eu mais odeio nos primeiros dias de escolas. O recreio. Sério, pessoal, podem conversar comigo. Eu raramente mordo. Não precisam ficar me lançando esses olhares de canto de olho, como se eu fosse uma aberração ou qualquer coisa pior.

Abri minha mochila, procurando pelo dinheiro e tentando parecer ocupada. Esbarrei com a mão em algo metálico que tinha certeza de não ter colocado ali. Abri ainda mais a mochila e tirei o aparelho do fundo. Um discman. Se alguém visse minha expressão naquele momento...quem eu estou enganando? Todo mundo deve ter visto minha expressão naquele momento. Coloquei os fones e liguei.

Good day sunshine

Good day sunshine

Good day sunshine

Eu preciso ensinar meu avô a escutar música mais baixo, sério.

Eu não consegui dormir direito.

E eu simplesmente odeio quando isso acontece. Sabe, eu nunca tive muita dificuldade para dormir, e ficar a noite toda encarando o teto do meu quarto não é exatamente a minha ideia de “noite ideal”.

Então, por isso que, antes do meu despertador soar, às sete da manhã, eu já estava de pé, com minha bolsa para a escola arrumada, meu banho tomado e cabelo penteado. Batia os pés impaciente, esperando meu mp4 terminar de carregar, quando mamãe bateu na porta do meu quarto e entrou.

- Querida? Já é hora de... – ela olhou surpresa para mim, ao lado da mesa do computador. – Já está acordada, Lu? Deixe-me adivinhar: não conseguiu dormir. – falou, suspirando e sentando-se em minha cama.

Eu concordei com a cabeça, e ela me prometeu que tudo correria bem no meu primeiro dia.

Eu esperava que sim. Olha só, eu sou desastrada. É meio difícil para mim andar e não tropeçar, ou esbarrar em alguma coisa/alguém. Eu só queria também que minha magia não saísse de meu controle e alguma coisa explodisse.

Porque, afinal, esse não é o melhor jeito de começar o primeiro dia numa escola nova.

Por esse motivo eu prendi a respiração e me acalmei assim que botei os pés na Junípero Serra.

***

Eu gosto da hora do almoço. É quando eu posso respirar, ler um livro, ouvir música.

Mas o problema em ser aluna nova é que você não tem com quem sentar, e todos ficam olhando para você como se fosse uma marciana, ou algo assim.

Foi por isso que eu fui para os jardins do colégio. Queria que todos parassem de olhar para mim como se eu fosse fazer alguma coisa pegar fogo.

Do jeito que eu estava ficando nervosa, eu provavelmente iria.

Apertei a alça da mochila em meu ombro, sem prestar muita atenção no caminho.

Esse foi meu erro.

Sem querer, eu esbarrei numa menina loira, entretida ouvindo seu discman.

Nem preciso dizer que fiquei da cor de uma lata de coca por causa da minha falta de coordenação.

- Desculpe! – pedi, sentindo meu rosto pegar fogo. – Miiiiiil desculpas. Estava distraída. – suspirei. – Ãnh, oi. Sou Luisa. Nova aqui. Mas acho que deu pra perceber isso.

Eu estava sonhando... Meu sonho era simples e perfeito. Eu dormia no meu sonho. Sim, eu gosto muito de dormir. É uma de minhas ações preferidas.

Glamorous
Indie rock'n'roll is what I want
It's in my soul, it's what I need
Indie rock'n'roll, it's time
Two of us
Flipping through a thrift store magazine
She plays the drums, I'm on tambourine
Bet your, your bottom dollar on me

Meu pai tem que aprender a diminuir o volume do despertador dele. Eu rolei na cama e dormi mais cindo minutos. Estava tão grogue que nem sabia mais que horas o despertador do meu pai tocava...



O volume estava aumentando... Por que o volume estava aumentando? Que droga! Aquele barulho não ia parar não? Então ouvi minha mãe ao longe.

- ACORDA ERIC! - ela gritava... e eu rolava na cama.



Que saaaco! Aquela música parecia estar no meu ouvido! Então eu abri os olhos para poder pensar em me levantar, para depois ir até meu pai e quebrar seu celular. Mas, olha que incrível! A música parecia estar em meu ouvido porque estava em meu ouvido!!

- PAI! - eu gritei arrancando o celular dele e desligando. Nunca vi um pai gostar de The Killers, sério mesmo. - Que droga...! - eu sussurrei para mim mesmo e virei para o outro lado, tampando meu ouvido com o travesseiro.

Meu querido e adorável pai arrancou o travesseiro de cima de mim e os lençóis que me aqueciam. Eu não poderia faltar o primeiro dia? Que saco! Era só o primeiro dia!

- Acorda logo moleque! - meu pai disse me puxando, sem sucesso. Ele era fraco e eu pareço uma pedra na cama. - ÁRICA! - meu pai gritou. Pulei da cama. Minha mãe não estava em seus melhores dias, TPM. Ela veio marchando escadaria a cima.

- Já tô de pé! - falei para ela com os olhos arregalados. Ela me encarou com o cenho franzido, urrando. Depois desceu, ainda nervosa. - Que droga. - falei para meu pai que estava com pose de vencedor no meio do meu quarto. Saí resmungando até o banheiro, onde tomei banho, me vesti e escovei os dentes.

Desci as escadas e roubei uma maçã, guardando em minha mochilo. Dei um beijo na testa de dona Árica, também conhecida como minha mãe. Ela deu uma resmungada e eu me afastei levemente. Acenei para meu pai e saí. Ia a pé para a escola.

Primeiro dia... droga.

Coloquei os fones do meu mp4 e comecei a ouvir "Should I Stay or Should I Go" - The Clash. Era uma das músicas de minha vida, fato. Sempre fico confuso se devo ou não fazer algo.

Caminhei até a escola, caindo de sono ainda.



Café-da-manhã eu dispenso... mas o lanche na escola é algo necessário em minha vida!

Quando bateu o sinal eu fui o primeiro a sair de sala. Isso porque eu sento do lado da porta, sempre, e também porque sou o primeiro a arrumar o material. As aulas me enchem.

Eu estava cansado dos garotos ficarem me zoando. Então decidi ir aos jardins da escola. Eu caminhava lentamente ouvindo outra música que eu adorava.

I ain't freakin'
I ain't Fakin' this
I ain't freakin'
I ain't Fakin' this
I ain't freakin'
I ain't Fakin' this
Shut up and let me go
Hey!

Ting Tings... eu adoro, fato.

Então vi uma garota, acho que era a aluna nova, dando um esbarrão com uma outra menina. A aluna nova me interessou. A segui enquanto ela saía corada.

- HEY! - eu a chamei, apressando meu passo para alcançá-la. A segurei pelo braço. - É a aluna nova, né? - perguntei com um sorriso. - Sou Eric Harrison. - eu disse estendendo-lhe a mão.

Ela era bonita. Muito bonita. Gostei dela. Ok, nem a conhecia direito, mas ela tinha uma primeira impressão marcante.

Eu estava mais vermelha do que um pimentão, e quando a menina não me respondeu, isso só piorou a situação e me fez praticamente sair correndo do lado dela, corando cada vez mais.

Aumentei sensivelmente o volume do mp4, e me foquei em atravessar aquele pátio enorme sem tropeçar em ninguém/alguma coisa.

Bufei impaciente, olhando o relógio, só para sentir alguém envolver meu pulso com uma mão.

Olhei confusa para o moreno de olhos claros a minha frente, e tirei os fones de ouvido, curiosa. Em primeiro lugar: quem era aquele garoto? Em segundo lugar, mas não menos importante: o que diabos ele queria comigo?

Respirei fundo, tentando manter minha magia sobre controle.

- É a aluna nova, né? – ele perguntou, me soltando, e eu recuei um passo.

- Isso está escrito na minha testa? – resmunguei bem baixinho, duvidando que ele ouvisse, e encarando meus pés, ficando mais vermelha.

- Sou Eric Harrison. – ele se apresentou amigavelmente, estendendo a mão.

Eu suspirei e retribuí o aperto, meio insegura. Uma parte de mim queria gritar com ele por ter me agarrado daquele jeito, mas eu sabia que precisaria fazer alguns amigos aqui, e que esse não seria o melhor jeito de começar.

E, além do mais, esse tal de Harrison era bonitinho.

- Luisa Prescott – me apresentei, usando o nome do meu pai, e duvidando que ele conseguisse pronunciar “Oliveira”.

Sorri de lado, pra finalmente olhar nos olhos de Eric, que eram de um azul-esverdeado.

- E, sim, infelizmente, sou a aluna nova. – respondi a sua pergunta, fazendo uma careta.

Quando a soltei, a garota recuou um passo. Por quê? Estranha... Resmungou algo baixinho, que eu não pude ouvir, pois ainda estava com um dos fones no meu ouvido. Então, finalmente, ela pode apertar minha mão.

- Luisa Prescott – eu lhe sorri. Luisa, era um nome diferente... Na verdade, acho que nunca ouvira esse nome. Só em alguns filmes estrangeiros... talvez.

Luisa parecia estar nervosa, ou qualquer coisa do gênero. Ela me olhou nos olhos, com um meio sorriso, o que me fez sorrir também. Ai! Eu estava parecendo idiota de novo! Ok, eu costumo parecer um idiota somente na frente de garotas mais velhas. Luisa não parecia ser mais velha. Por que eu estava agindo feito um otário na frente dela? Aff... deve ser porque o primeiro dia de aula me deixa confuso e lerdo. Só então fui notar que seus olhos eram castanhos. Ok, eu estou particularmente lerdo essa manhã.

- E, sim, infelizmente, sou a aluna nova. – Ela fez uma careta. Eu dei uma risadinha. Depois olhei para trás, não tinha ninguém ali? Então comecei a andar lentamente, para ela me acompanhar. Quando ela começou a andar comigo eu comecei a andar normalmente.

Ela era simpática, até. Mas parecia ter algum problema a ser resolvido, talvez.

- Deve ser difícil ser aluno novo... Luisa... gostei do seu nome. É diferente. Você é estrangeira? - eu sou uma pessoa um tanto quanto curiosa, eu sei. Mas, eu sentia que queria saber mais sobre aquela garota. Era diferentemente intrigante. Não sei porquê, mas ela me deixava extremamente curioso, mais do que eu sou.

Estava cheio de perguntas sobre ela. Se ela fosse estrangeira, da onde ela veio? Por que veio a Carmel? Quanto tempo morava ali? O que ela fazia em sua cidade, estado ou país de origem? Tinha muitos amigos lá? Era divertido? Era longe? Provavelmente eu não poderia tirar todas as minhas dúvidas. Uma outra me aflingia... Ela tinha namorado? Não que eu quisesse algo com ela... mas... mas... Ok, ok... eu a achei interessante. Já falei que ela me deixou uma boa primeira impressão, certo? Mas, ela precisava de amigos! Eu estava a disposição para ser uma amizade nova! É... só amigos, eu acho, presumo.

Mas... quem sabe? Né? Eu não sei... Eu estou ficando confuso com essa minha conversa interna. Só o que sei é que eu gostei dela. Parecia ser uma ótima amiga.

Eu sorria feito um bobo perto dela. Não sei porquê. Minhas bochechas já estavam ficando dormentes, mas eu não conseguia parar de sorrir!

– Só preciso achar onde fica a classe de química. – ela disse voltando o olhar para mim. Eu nem sabia qual era minha aula agora... peguei meu horário e vi que era química! Olha! Igual a ela! Que ótima coincidencia... - Me ajuda? – ela perguntou corando. Eu abri um largo sorriso.

- Claro! - eu disse, observando-a alegremente. Ela parecia meio desajeitada e incômoda com aqueles livros todos nas mãos. Os peguei delicadamente dos braços de Luisa. - Licença... - eu falei ainda sorrindo. Gente! Eu tinha que parar de sorrir. - Vamos para lá, também tenho química agora. - eu disse me encaminhando ao prédio que se encontrava na nossa frente. Comecei a subir as escadas levando seus livros em minhas mãos.



Sim, começou a tocar Ramones no meu mp4. Eu olhei para Luisa nesse momento... Pra quê? Tropecei na escada após dar um sorriso a ela. Droga. Caí, mas segurei bem os livros, para não se espalharem por aí.

- Desculpa... - falei me levantando, um tom avermelhado ocupou o lugar do branco de meu rosto. Então eu continuei andando. Vi Arnold passando, um amigo meu. - E aí! - falei para ele, que me acenou e continuou andando. Então chegamos a sala de química. - É aqui. - falei para Luisa entrando na sala, éramos uns dos primeiros a chegar. Pousei seus livros em uma mesa e me sentei na mesa ao lado.

Nós conversávamos coisas normais, do dia-a-dia. Como comida, família, música, essas coisas. Então o professor chegou. Ah! Odeio aquele professor de meia-tigela! Dá uma raiva quando ele começa a falar. Porque ele cospe!! É realmente nojento. Acho que é por causa dele que não entendo nada de química. Fico prestando atenção naqueles respingos nojentos de saliva que teimam em sair por sua boca enquanto ele falava aquelas coisas que para mim não faziam sentido algum.

Então notei Luisa cantarolando alguma coisa. Nunca ouvira aquela música antes. E como não estava a fim de prestar atenção naquela aula, me virei para ela e sorri, pegando um papel e uma caneta. Voltei meu olhar aos objetos que se encontravam em minhas mãos e comecei a escrever.

"Que música é essa?" - eu escrevi e lhe passei o bilhetinho.

Então aquele professor continuava a falar, e falar, e falar. Ai! Que ódio!!

Dava tanta vontade de meter-lhe a mão na cara e mandá-lo calar a boca! Mas, se eu fizesse isso provavelmente entraria para minha lista de detenções... Então era melhor ficar quieto e aceitar as injustiças da vida.

Peguei um chiclete no bolso de meu casaco e o coloquei na boca, mascando... Menta. Bom. Eu estava feliz mascando meu chiclete. Já era expert em esconder chicletes de professores. Então, quando o professor olhou para mim, parei de mascar. Ele virava e eu continuava. Era assim, sempre. O professor me perguntou alguma coisa. Eu o encarei com uma expressão de pensativo.

- Bem... essa resposta é simples... - eu falei cutucando Luisa por baixo, para ver se ela me respondia pelo bilhetinho. Comecei a encher linguíça. - Se prestarmos atenção em sua pergunta... podemos ver... - e eu enrolava. E o Mr. Cuspe me encarava com uma sombrancelha arqueada. Eu esperava ansioso a resposta de Luisa.

Então senti o bilhetinho sendo colocado em meu colo. Virei meus olhos para baixo, fingindo que havia deixado meu lápis cair em meu colo.

“Regra de Hund: Um orbital só poderá apresentar dois elétrons, quando todos os outros orbitais do mesmo subnível estiverem semipreenchidos, ou seja, com pelo menos um elétron.” - Eu li o bilhetinho e sorri com os olhos brilhando a Luisa. Minha salvadora.

- Regra de Hund: Um orbital só poderá apresentar dois elétrons, quando todos os outros orbitais do mesmo subnível estiverem semipreenchidos, ou seja, com pelo menos um elétron. - eu disse ao professor com uma expressão de quem já entediatudo isso. Quem ou que era Hund?? Um boiola qualquer que estudava porque não gostava de mulher? Se essa minha teoria estivesse correta, que cagada, hein? Então, como não tinha nada pra fazer ficou inventando essas paradas sem noção, para fazer os jovens de hoje em dia sofrerem pelo fato de ele ser feio e nenhum homenzinho querer ele. Vai ver todo químico é gay. Sério, vou me afastar desse Mr. Cuspe.

Depois de eu tê-lo respondido, o professor me encarou com espanto, como se não acreditasse que eu havia acertado sua pergunta. Como quem dizia "Eric? Logo Eric???" É, ele sabia que eu não era um dos mais inteligentes da sala.

Eu me virei a Luisa e agradeci silenciosamente. Então eu li o nome da música. Realmente, não conseguia nem ler o nome direito. Então a respondi pelo bilhetinho.

"É... nunca ouvi falar. Depois me mostra. ;D" sim, eu desenhei essa carinha, só para constar. O professor voltou a falar, coisas sobre Thompson ou Thomson e seu pudim de passas, acho... Então voltei a escrever no bilhetinho. "Como pode perceber, não sou um dos mais inteligentes. D:" Também desenhei essa carinha.

Luisa era gente fina. Me deu até a resposta! Que legal! Tá, ninguém me dava a resposta. Sempre me deduravam. Mentira, as garotas sempre me davam a resposta. Mas, Luisa não era como as outras garotas. Sei lá... Acredito que nos daríamos bem.

Então lá estava eu, linda e moderna com toda aquela aparelhagem dos anos 90. Não me levem a mal, eu até que gostei do aparelhinho, meio vintage e tudo mais, porém aposto como deveriam estar rindo de mim. Menina estranho com headphones e um discman de 1900 e bolinhas. Eu entendo total. Eu me zoaria.

Fiquei divagando enquanto John Lennon se esgoelava cantando “Hey Jude”. Levantei e comecei a andar pelo pátio, tentando parecer ocupada o bastante para não ser abordada por ninguém. Não é que eu sou super anti-social e odeio todo mundo, não, darling. Eu sou tímida ao extremo. Eu até converso com pessoas que não conheço, mas não fica muito natural e tals.

Bam. Ótimo. Alguém deve estar me batendo por eu ser patética demais. Isso que é primeiro dia de aula. Adoro. Levantei a cabeça lentamente, não sabendo se queria ver quem era o agressor.



Ahn? Ah, sim. Se quiser entender e manter uma conversa civilizada com alguém é preciso retirar os headphones das orelhas por um minuto, Strange. Ela ficou com o rosto vermelho, tipo um morango, mas sem aquelas coisinhas, porque , diga-se de passagem, ela tinha uma pele perfeita.

Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ela saiu andando rapidamente. Ah, qual é, pessoal? Como é que eu vou ser educada e socialmente normal quando não me dão a chance? Fiquei olhando enquanto ela se afastava e um menino corria atrás dela. Sério. Por que raios não chovem meninos para mim?!

Suspirei, olhei em volta e comecei a segui-los. Essa era uma nova Arabella, e eu não ficaria esperando que viessem conversar comigo. Eu vou conversar com as pessoas. Quase um Maomé me tornarei. É isso aí.


Cheguei atrasada na classe de química. Noooormal. Pedi desculpas e fui para o fundo da sala. Tipo, não foi minha culpa se ninguém me avisou que o segundo andar ficava três andares acima do térreo. Peguei meu caderno e comecei a anotar o que o professor falava. Tudo mentira, claro. Quem é que acredita nisso? Mas abri minha mente para essas matérias tipo química e física. Expandindo fronteiras.

Resolvi os exercícios de aula e comecei a olhar ao redor. A menina! E o menino! Meu casal preferido! Eu deveria total ter seguido eles. Eu teria chegado adiantada, feito amigos e sentado mais para frente. Maomé era tão mais esperto e cheio de iniciativa do que eu.

Fiquei olhando para eles o resto da aula inteira. Eu não sou estranha. Só no nome, juro. Vi quando um papelzinho voou furtivamente antes de o menino responder corretamente a pergunta do professor. Ahá! Eu não o condeno, porque eu não fazia idéia do que era a pergunta, muito menos a resposta. Prefiro muito mais química orgânica.

Quando o sinal tocou eu já estava com a mochila arrumada e pronta para sair. Mas ei, eu estava no fundo, e tem tooodo aquele pessoal da minha frente querendo sair correndo. Esperei um pouco e vi que o casal ficou para trás. Eu podia ser legal e ir lá pedir desculpas ou eu podia ignorar os dois e ficar zanzando pela escola.

- Oi, tudo bem? Então, desculpa sobre meu blackout lá fora. Eu deveria ter pedido desculpas, mas eu estava escutando música muito alto e como eu sou nova aqui, fico meio receosa de fazer contato com as pessoas. Mania de perseguição e tudo mais, sabe? Puts, falei e falei e não pedi desculpas. Hm, desculpa por esbarrar em você. - terminei de falar e sorri. Não foi um sorriso super contagiante, foi mais um sorriso do tipo “Abortar missão. Você é uma droga iniciando conversas.”

Well, posso dizer que eu aquele dia estava saindo melhor do que o esperado.

Menos a parte de dar cola a Eric. Quero dizer, eu nunca fazia isso, mas estava numa situação de emergência, então não contava.

Contava?

De qualquer forma, foi uma cola “inocente”. Não foi uma prova nem nada, certo?

Certo.

Respirei fundo, e batucando com as pontas dos dedos a mesa de tampo preto, enquanto o professor continuava a falar, e falar e falar mais um pouco. Deus, como esse homem fala! Ele consegue tornar química maçante.

Química orgânica deve ser melhor, anyways.

A aula demorou um pouco para passar, mas quando o sinal finalmente tocou, eu guardei as minhas coisas sem pressa – minha próxima aula era educação física, e não era exatamente a minha matéria preferida.

Então, a menina que eu derrubara veio até minha mesa.

Meu queixo caiu, e eu fiquei super vermelha. Me concentrei em jogar as coisas dentro da mochila, para que a loirinha não visse como eu fiquei vermelha.

- Oi, tudo bem? Então, desculpa sobre meu blackout lá fora. Eu deveria ter pedido desculpas, mas eu estava escutando música muito alto e como eu sou nova aqui, fico meio receosa de fazer contato com as pessoas. Mania de perseguição e tudo mais, sabe? Puts, falei e falei e não pedi desculpas. Hm, desculpa por esbarrar em você. – ela falou, dando um sorriso desconfortável ao terminar.

Eu abri um sorriso em parte amigável e parte de desculpas.

- Eu que tenho que pedir desculpas. Estava totalmente distraída, e nem te vi.

Fora que a minha magia pode ter saído do controle sem que eu percebesse. Mas whatever.

- Ah, que legal, você também é nova aqui! – sorri com alívio. Eu não era mais a única novata nesse colégio onde parece que todos se conhecem. – Sou Luisa. – me apresentei, ainda sorrindo, e indicando Eric com a cabeça. – E esse Eric. Prazer em te conhecer. – falei sinceramente.

A menina parecia realmente legal, embora um pouco deslocada. E, como eu estava desesperadamente querendo fazer amigos, logo pensei na possibilidade de ela se tornar minha amiga.

Até que esse dia não está saindo tão mal quanto eu imaginei.

A aula passou tão devagar para mim... aquele professor era muito chato! Fiquei observando Luisa a aula inteira.

Quando o sinal finalmente bateu, eu comcei a arrumar meu material lentamente, queria conversar mais com Luisa... Será que eu poderia chamá-la de Lu?

Nem notei a garota dos enormes fones de ouvido se aproximando. Quando a percebi eu já havia sido apresentado.

- Ah! Olá! Prazer... - falei acenando com a cabeça. Voltei meu olhar aos livros, mas depois desviei novamente meu olhar a garota. Uau! Ela também era bem bonita! Fiquei lá... babando. Não literalmente, claro. Mas, babando. Tudo bem que eu achava Luisa mais bonita, mas aquela garota era linda idem. Ela não se apresentou! - Qual o seu nome? - perguntei sorrindo de lado.

Não me culpem. Eu gosto muito das garotas, entende? E... além do mais, eu ainda não tinha nenhum relacionamento com Luisa. Se tivesse vocês poderiam me acusar. Eu sou apenas um garoto!! Eu não era desastrado perto daquela nova garota. Sou bem mais desastrado com Luisa. É verdade.