E a primeira parada é: (totalmente Aberto)

Não dá pra negar que no começo a idéia de mudar, mesmo que só por um ano, me assustou de início. Não dá pra negar que no começo eu sempre me assusto com as mudanças e depois realmente as acho a melhor coisa que poderiam ter acontecido. A sensação de frio no estômago quando o avião pousou em Los Angeles dias atrás reaparece algumas vezes. Claro que no começo foi bem uma correria, e mesmo que eu não estivesse sozinha, a Dahi e a Lety estavam comigo, eu me sentia amedrontada. Sabe quando você tem medo que tudo dê errado mesmo que não haja chances para tal? Ok... pode dizer, eu sei que sou insegura para caramba. Fui até a universidade, fiz minha matricula e tudo deu certo, conseguimos um lugar para ficar, tudo bem que não foi exatamente fácil, mas o lugar é bem legal.

Finalmente depois de uma semana super corrida eu tinha tempo para respirar um pouco. Tempo para sair pela cidade e conhecer tudo. Eu estava sozinha, mas isso não me incomodou de verdade, as meninas estavam realmente ocupadas e nunca tinha me preocupado por fazer coisas sozinha. E uma coisa que realmente me faltava fazer era passar na biblioteca da cidade. Queria fazer a minha carteirinha e na próxima semana quando as aulas começassem seria uma coisa a menos com o que me preocupar. Parei em frente ao prédio que me lembrava uma casa. Bem diferente da Biblioteca Estadual do Paraná ou a da PUC, que eu tinha me acostumado a usar em Curitiba quando vivia lá. Mas cidade nova normalmente significava tudo novo e isso incluía uma biblioteca em uma escala bem menor.

Entrei no lugar e comecei a andar por lá. Não era a melhor biblioteca do mundo, mas com certeza daria conta do recado. Na estante de destaques havia muitos livros novos e lançamentos, isso me deixou realmente fascinada. Pelo menos eu iria encontrar atualidades. Depois de dar uma olhada não tão rápida em todas as seções me dirigi ao balcão de informações, onde um senhor de meia idade estava sem fazer nada no balcão. Me dirigi a ele com um sorriso:

_ Olá, eu gostaria de fazer meu cadastro. - o senhor foi muito simpático e não demorou para ter a minha carteirinha. Voltei para as estantes e sai a procura de um livro para levar. Estava tão distraida a procura de um livro da Jane Austen que não me dei conta que havia outra pessoa no lugar e acabei esbarrando nela.

_ Ah... Me desculpe!

Eu já me acostumei com Carmel. Não vou mentir, levou um tempo, principalmente depois de deixar meu melhor amigo Burt para trás. Foi bem traumático para mim, ele era meu melhor amigo! E pra falar a verdade, ele ainda é, porque apesar de eu ser bem comunicativo (como diria o velho Burt) eu não fiz nenhuma amizade, hm, sólida. Mas eu não estou reclamando, pois a vida em Carmel é bem mais agitada do que em Minnesota. Tipo...é.

Mas esse não é caso. A razão de estar aqui nesta biblioteca não é porque eu sou viciado em livros, não, nada disso. Eu até leio umas revistinhas aqui e ali, mas o verdadeiro motivo de estar aqui é porque eu preciso de um emprego. Esse seria o meu qüinquagésimo quarto, se eu conseguir, claro, mas depois que eles derem uma olhada no meu currículo eles vão ver que tenho uma vasta experiência em...praticamente tudo, o que é uma coisa boa, eu acho. Eu com certeza me contrataria se tivesse uma biblioteca.

Estava parado, na frente de uma estante, treinando o que eu responderia se me perguntassem sobre o emprego de modelo de mãos, quando senti alguém esbarrando em mim. Eu não me importo, às vezes eu acabo sendo meio invisível, ou assim parece. - Ah... Me desculpe! - Observei bem a garota (Sim! Sim, era uma garota!) e levantei a sobrancelha direita.

- Não. - eu não sou mal educado nem nada, mas só queria ver sua reação, ela parecia tão educada e tudo mais. E não vou mentir, ela era bem bonita. Tipo...muito bonita. - Você deveria ter mais cuidado, sabe? - Me aproximei um pouco e falei um pouco mais baixo - E se eu fosse alguém que não gosta de ser empurrado em bibliotecas e estivesse tendo um dia muito, muito ruim? - Olhei em seus olhos e depois de alguns segundos me afastei sorrindo.


Tá, se eu não voltar lá neste exato momento ela vai pensar que eu sou um imbecil ou pior. E essa é a última coisa que eu quero que uma garota bonita pense de mim, certo? Dei meia volta e estendi a mão - Mas eu não sou esse tipo de cara...Prazer, Johnny Mountain. - mas eu também não ia dar meu verdadeiro nome para qualquer pessoa que eu encontro em uma biblioteca! Nunca se sabe o que elas podem ser...

Você pode me chamar de "a pessoa mais azarada do mundo" foi o que pensei logo que o carinha abriu a boca, por que num primeiro momento ele não pareceu nem um pouco receptivo às minhas desculpas. Ele foi um pouco grosso sabe. Afinal eu não queria ter trombado com ele assim de graça, só para fazer bonito. Pelo amor! Bem capaz mesmo... E além do mais eu pedi desculpas não pedi? Juro que pensei em soltar uma resposta bem mal criada, mas não fiz pro dois motivos simples: primeiro eu nunca consigo pensar em uma resposta realmente boa na hora, só fico me martirizando depois por não ter dito algumas coisas, e segundo... bem eu não estava realmente a fim de começar a arranjar encrenca. Eu sou bem do tipo que prefere mesmo pagar para não entrar numa briga.

E para ser sincera eu fiquei totalmente aliviada quando ele voltou e veio me cumprimentar. Ele na verdade parecia ser bem o tipo oposto de pessoa que ele descreveu a princípio. Deu para perceber só pela brincadeira. Olhei bem para a cara dele enquanto decidia se me apresentava ou não. Afinal eu deveria não ter gostado da brincadeira, mas antes um cara brincando do que um zangado de verdade. Ainda mais numa cidade pequena, não parecia ser tão legal assim já começar fazendo uma inimizade por causa de um acidente besta. Depois de pensar um pouquinho acabei sorrindo para ele. O cara era bem ajeitadinho até sabe. Ok admito... ele era uma graça e lindinho.

_ Janaina Sabidussi - estendi a mão aceitando o cumprimento dele. - Você realmente me deu um susto sabia? Achei que tinha ficado zangado de verdade!

Ok foi dado um primeiro passo para a conversa.... Agora... O que exatamente eu deveria dizer? Pelo amor de deus... só não queria começar com essa idiotice de falar sobre o tempo! Por que... isso realmente é assunto de quem não tem absolutamente nada melhor para dizer. E eu tinha que ser um pouquinho mais interessante do que isso.. eu tinha mesmo! Até pensei em fazer uma brincaderinha com o sobrenome dele, o fato de ele ser o garoto da montanha, mas bem.. eu não conhecia o cara para ter esse tipo de intimidades né? Vai que ele era traumatizado com o sobrenome e resolvesse dar uma de suicida louco e resolvesse me matar antes de finalmente acabar com a própria vida! Olha eu e minhas paranóias mais uma vez... haha!

_ Não dever ser muito legal mesmo receber trombada das pessoas... mesmo que seja sem querer...

Fiquei com a mão estendida por alguns segundos. Foi durante esses segundos que eu pensei se não tinha brincado com a pessoa errada. Sabe como é, hoje em dia todo mundo está estressado com alguma coisa e muitas pessoas reagem de uma maneira nada, qual é a palavra? Dócil. Ela olhou para minha cara e senti que estava sendo analisado. Eu normalmente não ficaria tão preocupado assim, afinal eu sei que sou, no mínimo, apresentável, mas confesso que queria causar uma boa impressão.

Eu soube que estava tudo bem quando ela sorriu e estendeu a mão para mim:
- Janaina Sabidussi. Você realmente me deu um susto sabia? Achei que tinha ficado zangado de verdade! – Eu preciso dizer que ela tinha um belo sorriso? Acho que não, certo? Eram os dentes mais retos que eu já vi em toda minha vida! E olha que eu já vi muitos dentes por aí quando trabalhei em um consultório de dentista.

Após separarmos as mãos o silêncio veio. Eu precisava de um assunto. E rápido. As chances dela dizer “Ok, preciso ir” eram grandes, afinal ninguém fica esperando uma pessoa puxar assunto em uma biblioteca por muito tempo. Bom, eu não esperaria, mas o caso era outro, porque eu queria conversar com ela. Enquanto eu estava nesse duelo mental, pensando no que dizer e fazer, ela foi mais rápida, o que eu agradeço, já que eu não acho que ela queria conversar sobre porquinhos-da-índia ou sobre o tempo.- Não dever ser muito legal mesmo receber trombada das pessoas... mesmo que seja sem querer...

Legal. Resposta inteligente, ativar!

- Bom, na minha opinião, que por sinal não vale muito, quando é sem querer não tem problema. - Dei um meio sorriso e olhei para a estante. – Então, Janaina, que livro você estava procurando que te deixou tão distraída a ponto de esbarrar em um estranho? – peguei um livro qualquer e olhei a capa. Emma, by Jane Austen. Ok, que nome mais estranho para um livro.