What am I supposed to do now? [fechado ;)]

Muita coisa havia acontecido ontem. E quando eu digo muita coisa, eu quero dizer... muita coisa. O que eu sabia com certeza ontem já havia se provado mentira e o que eu achava bastante improvável terminou sendo verdade. É, basicamente isso. Então se eu dissesse que eu tive pesadelos com tudo o que aconteceu... eu estaria mentindo. Não que não fosse algo bem coerente, dado o meu estado de espírito. Mas ter pesadelos implica em dormir. E dormir foi algo que eu não cheguei nem perto. Passei a madrugada inteira em claro e a cena que havia acontecido antes se repetiu na minha cabeça várias e várias vezes. As vezes eu parava em um momento ou em outro, procurando analisar tudo. Duas ou três vezes eu ainda tentei substituir uma ação minha por outra e aproveitar o resultado, ao menos na minha cabeça. Mas eu sabia que dela não ia sair. Uma vez durante esse tempo todo acordado eu ainda me levantei e fiquei parado diante da porta. Depois de uns quinze segundos, voltei para a cama. E esse foi o mais perto que eu cheguei de ir atrás dela. Patético. Não era a toa que ela havia levado tanto tempo pra ter certeza dos meus sentimentos. Eu podia culpá-la? Bem, certamente era melhor pra a minha sanidade fazer isso. Mas no fundo eu sabia que a culpa era minha. Claro que eu sabia.

Enfim... Com tudo isso, não é difícil imaginar o meu estado quando finalmente amanheceu. Sem ter pregado os olhos por um instante, eu levantei simplesmente porque sabia que dentro de mais ou menos uma hora Chloè chegaria. E eu realmente não fazia idéia de qual explicação lhe daria pra a cara de zumbi de clipe de Michael Jackson que eu devia estar. Essa minha suposição foi confirmada assim que eu cheguei ao banheiro e dei de cara com um espelho. A minha cara estava péssima. Respirando fundo, eu lavei o rosto e torci pra que desse jeito. Era o máximo que eu podia fazer, de qualquer forma. Depois de escovar os dentes e trocar de roupa, desci as escadas quase que me arrastando até chegar à cozinha. Para o meu alívio, ela estava vazia. Eu definitivamente não estava em condições psicológicas pra encontrar Mary naquele momento. Pegando um copo no armário, abri a geladeira e peguei uma jarra de suco, colocando um pouco no copo. Era o máximo de alimentação que eu conseguiria ingerir naquele momento.

Então me sentei em um dos bancos que ficavam ao lado da bancada da cozinha, colocando o copo na superfície. Apoiando os dois cotovelos na bancada, passei as duas mãos pelo rosto. Quando é que a minha vida tinha começado a virar de ponta cabeça? Diabos, como é que eu tinha chegado a esse ponto? Tomando mais um gole do suco, respirei fundo. Como é que eu poderia encarar Mary depois de tudo o que havia passado? Como é que eu poderia encarar Chloè? Ela não tinha nada a ver com toda a minha confusão, eu não podia colocá-la no meio disso tudo. Eu tinha que me manter são. Sem discussão sobre isso. Garret, mantenha o controle. Mas... como?

Não, eu não era idiota. Se havia alguma coisa que não pertecia a gama de qualidades e defeitos que me rodiavam era esse. Também não era totalmente ingênua como diziam que eu era. De fato, eu costumava observar, observar muito, para depois realmente dizer as coisas que eu achava serem importantes. Eu falava muito, e isso era um fato, porém, isso se relacionava a banalidades. Em coisas importantes eu ficava compenetrada, e, como tudo, falava quando tivesse a plena certeza. Em certas ocasiões eu dizia que o meu poder de observação e conclusão era um karma, isso porque eu, frequentemente, sabia o que estava acontecendo, e, certamente, em muitos casos a ingenuidade é uma bênção. E era exatamente aquilo que estava acontecendo naquele momento a que eu estava me referindo.

Olhei para o relógio, estava de madrugada, e não havia conseguido dormir. Não tinha agora a certeza do que estava fazendo nos Estados Unidos. Indubitavelmente eu sabia que havia ido por Gary, uma coisa que eu nunca havia feito antes. Sempre fui totalmente independente, e, me vendo agora fazendo algo por alguém, era surpreendente. Se eu estava arrependida? Não sei bem se seria esse o sentimento que caberia agora, na verdade, eu não tenho a mínima certeza do que eu estava sentindo. Na verdade, era uma gama de sentimentos tão grande que eu não sabia distingui-los. Abri meus olhos, enquanto acendia o abajur da cabeceira da cama. Não conseguiria dormir, minha cabeça revirava com tudo que eu estava pensando.

Levantei, porém, não devia ter feito isso, visto que uma ligeira tontura me arrematou. Suspirei fundo. Eu sabia o que eu sentia por Gary. era algo que eu não havia sentido antes por ninguém, uma coisa que eu não sabia lidar muito bem, algo que fugia às fórmulas matemáticas e às equações primárias. Um emoção totalmente diferente da indiferença que me era costumeira no que diz respeito a esse assunto, e, pela primeira vez que eu sentia isso, as coisas não estava correndo para que eu fosse correspondida. Bem, talvez no princípio tudo estivesse correndo muito bem, porém, agora, eu sabia que as coisas estava indo para um rumo totalmente diferente.

Desde que eu adentrei na casa dos pais de Gary eu notei. Era tangível. Gary sentia alguma coisa por Mary, e, ao meu ver, aquilo era totalmente recíproco. Talvez ambos estivessem querendo esconder o que sentiam, ou talvez fosse o momento de abraçar o sentimento, ou, quem sabe, talvez nem eles mesmos saibam o que realmente estão sentindo, porém, seja lá o que for, não há espaço para mim. Bem, talvez eu estivesse sendo um tanto quanto extremista demais, porém, havia sido analítica a minha vida toda, e agora, com todos esses sentimentos, não sabia o que fazer.

Eu havia ido para Carmel por Gary. E agora estava sozinha.

Algumas lágrimas caíram dos meus olhos naquele momento. Suspirei fundo. Voltei para a cama. Talvez fosse hora de voltar a ser analítica.

Acordei, ou melhor, despertei do meu sono de 2 horas, já pegando o corretivo da minha bolsa para acabar com as olheiras. Olhei para o relógio, estava um tanto quanto adiantada para ir à casa de Gary. Eu deveria colocar na minha cabeça que era por causa dos pais que ele estava ali, e não somente por causa dela, mas era completamente difícil me desligar dessa opção.

Desisti de ficar esperando, e peguei as chaves do carro. Cheguei mais cedo, bati na porta, e, usando a chave de Gary, entrei, com medo de alguém estar dormindo, e acordar pelo toque da campanhia. Adentrei calmamente, e, me deparei com Gary na cozinha. Nossos olhares se encontraram. Ele estava tão cansado quanto eu. Meus olhos se encheram de lágrimas novamente, não podia evitar. Minha voz saiu falha e seca:

- Noite ruim também?- disse, encarando-o

Eu precisava me ocupar com alguma coisa. Pensar naquilo tudo estava acabando com a minha sanidade mental. Eu precisava fazer algo, por mais simples que fosse, qualquer coisa que pudesse tirar a minha mente das últimas horas. Eu tinha que ir embora dali. Mas... Se eu fosse embora e Mary descesse e não encontrasse ninguém... Seria a comprovação da minha covardia. Não que já não estivesse bastante evidente, mas ao menos eu ainda tinha a aparência. E eu tinha que manter a aparência se quisesse ter algum sucesso em deixar aquilo tudo de lado. Além do mais... Chloè chegaria logo e eu realmente não teria energia para pensar em uma desculpa pra explicar porque eu teria resolvido ir embora dali tão cedo. Nem queria ter que inventar desculpa. Chloè nunca havia sido senão atenciosa, prestativa, companheira... e sincera. Ela não mentia pra mim e eu sabia disso. Já era ruim o bastante que eu não tivesse esclarecido toda a história com Mary para ela. Respirei fundo mais uma vez. Então ouvi um barulho leve na sala.

Levantando a cabeça para a porta da cozinha, vi a figura de Chloè após alguns segundos. Ela não tinha uma cara muito boa e pela sua expressão, parecia notar o meu cansaço. Meu coração apertou quando vi seus olhos se encherem de lágrimas. O que eu estava fazendo com ela?

- Noite ruim também?

Dei um riso sem muito humor. Não queria nem começar a descrever a minha "noite ruim". Eu não queria nada daquilo. Quer dizer, eu queria aquilo anos antes. Agora era tarde demais. Agora eu tinha Chloè e não iria magoá-la simplesmente por um capricho de Mary. Eu tinha que sair dali, voltar havia sido um erro. Se não fosse por minha mãe, era capaz de eu arrumar as malas e voltar para a Irlanda naquele mesmo momento. Mas, por ela, eu tinha que ficar e aguentar tudo que tivesse que aguentar. Ela precisava de mim ali e aquilo era maior que qualquer problema que eu pudesse ter.

- Noite péssima. Mas hoje é um novo dia... - Falei, numa voz baixa. Levantando, fui até Chloè e a abracei, passando uma mão pela sua cintura e a outra afagando seus cabelos. Respirando fundo, enterrei o rosto no pescoço dela, seu perfume tomando conta de mim. Eu precisava daquilo, eu precisava esquecer. Ela havia sido o meu porto seguro em Dublin e seria agora outra vez. Eu não queria mesmo machucá-la, queria fazer o possível para aquela relação dar certo. Havia sido uma relação saudável, simples, desde o início. Eu precisava de simples. Complicado já havia tido a sua cota na minha vida. Eu simplesmente não tinha mais cabeça para o complicado.