A strawberry ice cream [fechado... ;~]

Eu não tenho nada contra Carmel.

Quero dizer, vá lá, a cidade é um tanto entediante, e extremamente pequena. Nós não temos um shopping decente (tendo que me fazer ir até a cidade vizinha), nem um restaurante de comida chinesa.

Mas, fora isso, Carmel é uma cidade bacana de se viver.

Se você ignorar os turistas que simplesmente começaram a chegar do nada... Nada contra, só que eles encheram a cidade.

Por isso, mamãe teve a brilhante idéia de alugar um quarto em nossa grande casa, e eu não ia muito com a cara da nova hóspede, que parecia ter teimado comigo. Ela queria fazer tipo uma "transformação". Justificativa? Ela me achava "masculina demais".

Ah, dude, quando ela me disse isso, eu segurei um "Você vai ver quem é masculina depois que eu encher sua cara de sopapos."

Mamãe (in)felizmente chegou lá na hora, e eu resolvi me trocar e sair. Eu precisava espairecer. Não é fácil ser a única menina de quatro; Luigi tnha saído com a nova namorada; Lorenzo estava apostando corrida contra um amigo no Wii que ele ganhara de Natal (finalmente ele ia ganhar, porque eu detono com ele) e Vitorio estava no quarto dele, enfurnado há algumas horas, com seu kit de alquimia.

Não ia sair alguma coisa boa dali. Vitorio pensa que é cientista desde o dia que ele descobru a pólvora.

Ou como ela explode, para ser mais exata, obrigando papai a consertar metade da garagem. Graças a Deus eu tenho o sótão, o meu refúgio.

Mudei de roupa, e avisei à mamãe que sairia para tomar um gelato. Uma coisa boa de ser italiana é poder comer o que quiser e nunca engordar. Tipo, eu como tanto quanto meus irmãos mais velhos, e meu manequim é 36. É, as meninasdo colégio morrem de inveja de mim.

Sorri enquanto caminhava em direção a minha gelateria favorita.

Até que alguém derruba sorvete a minha blusa nova.

Definitivamente, eu precisava sair um pouco. Conhecer a cidade, sabe como é. E, é claro, sair daquele mar de caixas que era nossa casa nova. Mamãe resolveu arrumar tudo sozinha e deu no que deu, estamos aqui à duas semanas e nada de casa arrumada e tudo mais.

Ainda que eu achasse Carmel uma coisa minúscula, um pontinho insignificante no mapa, comparado a Pisa e sua torre pendente. Quando eu era criança sempre achava que um dia ela cairia em cima da cidade, mas se passaram anos e anos, e ela continua intacta. Do outro lado do oceano. Ah como eu queria estar lá...

Parando com o negócio de sonhar acordado, achei uma gelateria por pura sorte. Quero dizer, sorveteria. Eu ainda preciso me acostumar com os Estados Unidos, com licença? Americanos e seus nomes estranhos. Humpf.

Acabei pedindo uma casquinha de morango e saí de lá com o objetivo de seguir para a praia, pelo menos explorar um pouco e poder me localizar em Carmel. Fiquei observando o pouco movimento da rua, pensando que nada de muito ruim aconteceria comigo até que...

Quer dizer, estava DEMORANDO. Porque sabe, a lei de Murphy me segue onde quer que eu vá, como uma sombra. Se uma coisa tem a possibilidade de dar errado, tenha certeza que dará errado. Odeio isso.

O caso é que, distraído como eu estava trombei com uma morena. Ah, que lindo, mais um mico pra minha coleção, e esta que já é gigantesca - GAH, DESCULPA. Sabe, eu tenho uma propensão pra, hm desastres - Falei, enquanto ela quase tinha um ataque por causa da blusa. Vai entender as mulheres.

Minha. Blusa. Nova.

Toda. Manchada. De. Sorvete.

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!

- GAH, DESCULPA! – pediu o moreno muito bonitinho que derrubou sorvete em mim.

Ou melhor, na minha blusa nova.

Alou, Gucci não nasce em árvores sabia?

- Sabe, eu tenho uma propensão para, hm, desastres. – ele prosseguiu, as bochechas ficando vermelhas.

Okay, não vamos ser hipócritas: ele era bonito, fato.

Mas...

- Minha. Blusa! – surtei, olhando o estrago.

Nota mental: nunca mais usar blusas de cores claras.

- Caramba, essa blusa foi CARA, sabia? – perguntei, encarando-o diabolicamente.

Sem contar que era a minha blusa favorita.

Oops, o sorvete já estava escorrendo para a calça...

- Pega um guardanapo, por favor? – rosnei, tentando ser o mínimo educada, tentando conter a avalanche de sorvete.

Graças a Deus eu tive sucesso.

- Minha. Blusa! - Ela berrou, enquanto eu sentia meu rosto começando a ficar ruborizado - Caramba, essa blusa foi CARA, sabia? - Continuou a morena que por sinal era muito gatinha, com um tom de voz ainda elevado. Não, eu não sabia. E como poderia? Tínhamos nos "conhecido" à hm, minutos.

O sorvete havia lambuzado toda a blusa da garota e estava ameaçando escorrer para a calça. Ela praticamente ordenou que eu fosse buscar um guardanapo, e eu não tardei a obedeçer.

Se quer saber a minha opinião não adiantou lá muita coisa, já que ainda havia uma mancha rosa enorme na frente da estampa - Ah...desculpa mesmo...sou Edward, mas pode me chamar de Eddie - Falei, ainda com um pouco de culpa na voz - E você é... - Indaguei, enquanto jogava o guardanapo, ou pelo menos o que restava deste, no lixo.

- Ah... desculpa mesmo... sou Edward, mas pode me chamar de Eddie. – ele se apresentou, me ajudando a secar a enxurrada rosa da minha roupa.

A gente não teve muito sucesso, sabe.

Peraí... Ele disse Edward?

Oh, man! Por que o nome dele tinha que ser logo esse? Explicação: eu sou viciada em Crepúsculo, e o nome do personagem principal é Edward.

- Ah, tudo bem. – disse, corando também, por ter sido tão estúpida. – Foi mal ter pirado assim. – me desculpei, num tom de voz surpreendentemente mais gentil.

Droga, Antonella! Qual é a sua? É só o nome do garoto! Não é como se ele fosse Edward Cullen ou algo assim...

- E você é...? – ele perguntou, arremessando os restos mortais do que um dia foi um guardanapo no lixo.

- Mel. Melissa, na verdade. – disse. – Mas, hm, Edward – era meio impossível chamá-lo de Eddie – você é novo aqui, certo? – indaguei, sem querer forçar muito a barra.

Droga, odeio ter memória fotográfica! Por que eu fui me lembrar de todas as fotos de Robert Pattinson que eu já vi na vida só de olhar para esse garoto?

Assim que me apresentei, ela ficou estática por alguns segundos, as sombrancelhas erguidas, olhando fixo para mim. Em seguida, se desculpou por ter dado um piti, e, para a minha surpresa, com um tom de voz mais calmo e gentil.

- Mel. Melissa, na verdade - Melissa...nome bonito...igual a dona de olhos azuis. Ora, vamos admitir, ela era muito bonita. E muito parecida com as garotas da Europa...

Enfim, despertei dos meus devaneios com a pergunta dela - Mas, hm, Edward, você é novo aqui, certo? - Indagou ela, curiosa. A morena provavelmente morava a muito tempo naquele lugar para saber que eu era novo por aquelas bandas. Ou então era adivinha. Nunca se sabe.

- Ah, sim. Troquei as massas pelos hambúrgueres - Respondi, fazendo uma clara alusão à Itália e aos Estados Unidos - Hm, e deixe-me adivinhar, você mora aqui desde que nasceu? Estou certo? - Terminei, com um sorriso no rosto.

Ele era fofo, fato.

O nome ajudava, outro fato.

Mas não havia nenhum motivo aparente (ao menos para mim) para que eu me sentisse confortável ao lado dele.

Alou, Antonella, ele é um menino. Você é o tipo de garota que tem mais amigos do que amigas... Dã.

- Ah, sim. Troquei as massas pelos hambúrgueres – Edward respondeu com um meio sorriso.

Eu percebi a referência à Itália quase que imediatamente, e ergui uma sobrancelha. Então ele era italiano também? Que legal!

- Hm, e deixe-me adivinhar, você mora aqui desde que nasceu? Estou certo? – ele chutou, me olhando nos olhos.

Eu neguei com a cabeça.

- No, signore. – respondi, dando um sorriso. – Nasci em Milão, mas mudei com minha família quando era ainda um bebê. E meu nome do meio que é Melissa. Eu gosto mais dele, mas meu primeiro nome é Antonella. – disse, dando de ombros. – Quer, hm, dar uma caminhada por aí? – perguntei, olhando a praia de longe.

Uma das coisas em Carmel que eu nunca me cansava (e você pode contá-las nos dedos) é o mar. Quero dizer, você pode confiar no mar. Ele vai estar sempre ali. Às vezes instável, mexido, tempestuoso. Mas ali.

Spoiler:

Os olhos dela me hipnotizavam cada vez mais, e eu não conseguia parar de fitá-los. Eu estava longe da conversa, perdido naquele azul brilhante ate que...

- No, signore – "Acordei" a tempo de ver um sorriso despontar no rosto da morena – Nasci em Milão, mas mudei com minha família quando era ainda um bebê. E meu nome do meio que é Melissa. Eu gosto mais dele, mas meu primeiro nome é Antonella – Falou ela, dando de ombros. O fato não parecia ter lá muita importância para Mel, e provavelmente não tinha.

– Quer, hm, dar uma caminhada por aí? – O convite me surpreendeu, não pelo fato de termos nos conhecido à menos de meia hora, mas porque, na Itália, nenhuma das garotas gostava de ter a minha companhia, pelos simples fato de acharem que eu trazia azar. Não era à toa que meu apelido na escola era "Black cat".

- Claro! A propósito...quer o meu casaco para esconder essa mancha aí? - Perguntei, enquanto tirava a jaqueta preta e oferecia à ela - Acho que não deve gostar de andar por aí suja - Abri um sorriso, enquanto começávamos a caminhar para a praia, meu destino inicial.

O sol estava a ponto de se pôr, e eu apostava dez euros que o crepúsculo de Carmel era lindo, visto no mar. Não tão lindo quanto o de Pisa, mas vá lá. Dá pro gasto

Eu parei na parte que o chamei para caminhar, certo? Certo.

Quero dizer, eu não vi problema nenhum em ir ver o crepúsculo com Edward; não é como se a gente fosse se agarrar nem nada...

Eu e minha mente poluída... Conseqüência de anos só andando com os meninos.

- Claro! – ele concordou sorrindo. Era tão fácil fazê-lo sorrir... – A propósito... quer o meu casaco para esconder essa mancha aí? – ele ofereceu, apontando para a minicratera rosa na minha blusa.

- Ah, valeu. – eu disse sorrindo e aceitando o casaco preto de um corte bonito que ele me ofereceu.

– Acho que não deve gostar de andar por aí suja. – ele disse, e sorriu de novo.

Eu retribuí.

- Não gosto mesmo. – respondi, enquanto nos dirigíamos a praia. Já anoitecia, e o clima estava ficando bem mais frio do que algumas horas atrás. Por isso eu fechei o zíper da jaqueta e enfiei as mãos nos bolsos. – Então, Ed... – comecei, tentando puxar assunto. – Onde você morava antes de vir pra cá? Porque vamos concordar, a Itália não é exatamente aqui do lado. – comentei, dando um grande sorriso.

Assim que pusemos os pés na areia, eu avistei o rochedo em que gostava de sentar para observar o mar e o pôr-do-sol.

- Ah, o pôr-do-sol é ainda mais fantástico dali de cima. – eu anunciei, apontando as pedras que se atiravam mar adentro. – Vamos! – incentivei, rindo e puxando-o pela mão.

Mel acabou aceitando pôr o casaco, tanto pela mancha quanto pelo vento frio que batia ali naquele momento. Deu um sorriso para mim, e que sorriso! A morena fechou o zíper e colocou a mão nos bolsos, que provavelmente ainda deviam ter migalhas de biscoito. Maldita hora em que resolvi comer aquele cookie escondido de Amelia, na loja de decoração. Saco

– Então, Ed... – Ela começou, tentando quebrar o gelo - Onde você morava antes de vir pra cá? Porque vamos concordar, a Itália não é exatamente aqui do lado - Perguntou a garota, quando já estávamos pisando na fofa areia da praia.

Bem, ela tinha razão. Entre a Europa e a América há uma considerável distância, digamos que do tamanho do Atlântico - Ah, a janela do meu quarto dava para aquela famosa torre que parece estar caindo. Conheçe? - Falei, irônico. Era óbvio que ela sabia o que era e onde ficava. Não era a toa que milhões de turistas apareciam por lá todos os anos.

- Ah, o pôr-do-sol é ainda mais fantástico dali de cima – Falou Mel, enquanto apontava para alguns rochedos que se inclinavam ameaçadoramente para o mar, este batendo com violência nas paredes das pedras. Notando minha hesitação, ela agarrou meu braço e praticamente me arrastou até lá.

Realmente, o lugar era maravilhoso. O cheiro do mar, o céu virando uma mistura de laranja, vermelho e roxo, a vento entre meus cabelos...e, é claro, uma ótima companhia.

Edward – o moreninho vindo de Pisa que preferia ser tratado como Eddie – ficou meio hesitante em subir no rochedo, mas ele meio que ficou embasbacado com a vista.

Qualquer um ficaria, mas... Sei lá, ele parecia meio surpreso demais. Talvez achasse que o crepúsculo (lembrete: PARAR de usar essa palavra. Me faz querer suspirar e falar, com um sorriso irônico: “É o crepúsculo, de novo. Mesmo o dia perfeito tem seu final...”) de Carmel não se comparasse ao de Pisa...

- Eu falei que valia a pena. – impliquei, cutucando-o.

Então suspirei, meio frustrada. Quero dizer, o que eu estava fazendo ali, com um garoto que eu havia conhecido há somente meia-hora, observando a coisa mais romântica de Carmel?

Desviei o olhar dele e me concentrei nas nuvens rosadas, tentando pôr um pouco de ordem em minha cabeça.

Como o usual, não consegui ter sucesso.

- Eu falei que valia a pena - Mel implicou. E ela tinha razão. Suspirou e dirigiu o olhar ao céu, para aquelas nuvens rosadas que pareciam ser feitas de algodão-doce. O cenário era lindo e...hm, bem romântico. Não que eu estivesse gostando da Mel, não daquele jeito. Nada disso. Só me veio a cabeça, simples assim.

- E valeu mesmo. Aqui é...lindo. Me arriscaria a dizer que é até melhor que o da Toscana. E olha que pra ser melhor que o de lá...é difícil hein - Sorri novamente. Sentei mais perto dela e joguei as costas pra trás, e apoiando os cotovelos na rocha. As ondas violentas já haviam cessado à tempos, e o único som que se ouvia era o da água batendo suavemente nas pedras.

O brilho característico das estrelas despontou no céu já mais escuro, e eu falei, totalmente por falar - Sabe, dizem que quando a primeira estrela aparece no céu...você pode fazer um pedido - Tudo ok até aí certo? Poisé. Quando fui apontá-la, meu braço bateu nas costas da morena e...ela acabou caindo no mar.

Eu devia ser considerado um perigo para a sociedade. Quando falei para ela que eu era propenso a desatres, não estava brincando. Sou um verdadeiro imã para catástrofes.

- MEL, VOCÊ ESTÁ BEM? - Berrei, do alto. Não obtive resposta e resolvi me jogar de lá, mesmo não sabendo nadar muito bem. Tirei a camisa e mergulhei, procurando por ela. A água estava gelada, e todos o meu corpo gritou em protesto.

Eu sou um idiota.

Eu não sei como fui parar lá.

E, sinceramente não quero saber.

Quero dizer, num minuto eu estava em cima de uma pedra, vendo o pôr-do-sol, e depois eu estou no fundo do mar, com meus pulmões ardendo e sem conseguir tocar o chão.

Nada desesperador, cof.

Enfim, eu finalmente consegui subir até a superfície, e peguei uma grande lufada de ar. Quando ia começar a ir nadar em direção da praia, eu vejo quem está no fundo, desacordado.

Edward.

Cara, ele não estava brincando quando disse que era propenso a desastres.

Sinceramente? Eu acho que propenso não é a palavra certa.

Olá, Bella Swan de calças!

- Merda. – praguejei, submergindo de novo na água fria. Eu tivera sorte de não ter batido em nenhuma pedra, mas parece que Edward não.

Eu ia soltando o ar aos poucos, e finalmente cheguei até Edward, e o puxei para cima. Graças a Deus ele não estava sangrando, mas um galo começava a se formar em sua nuca.

E, olá, ele estava sem camisa.

Que droga, se foca, Antonella!

O arrastei até a praia, que já estava completamente deserta.

Senti o pulso dele, e soltei um suspiro de alívio ao ver que ele estava vivo.

Ferrado, todo molhado, pálido, com batidas de coração instáveis, mas vivo.

Aí eu lembrei de que deveria estar furiosa com ele.

- Merda, Edward! – sibilei raivosa, ajudando-o a se sentar. – Você não é nenhuma porra de Jacob e eu não sou nenhuma porra de Bella! – ralhei, tentando tirar a água de seus pulmões.

Ok, eu admito: eu já pulara daquela pedra diversas vezes; conhecia as correntes, e onde as pedras estavam, consegui me desviar delas e chegar sem muitas avarias (além de estar tremendo de frio, totalmente encharcada, e com a blusa ainda mais arruinada) à superfície.

Mas não meu colega aqui.

Ele tossiu diversas vezes, água salgada saindo de sua boca, e finalmente olhou para mim.

Eu tirei o casaco dele e o devolvi.

- Toma, você precisa mais do que eu. – falei, envolvendo-o na lã e me sentando de volta na areia, arruinando totalmente meu Levis. Minas sandálias ainda estavam em meus pés, graças às tiras que as prendiam nos tornozelos. – Se bem que está todo molhado, e não vai adiantar muito... – disse suspirando e fazendo uma careta.

Me virei para o mar de novo, pensando como eu iria chegar em casa e explicar tudo isso para minha mãe.

Spoiler:

Quando caí na água, a primeira coisa que fiz foi abrir os olhos e...bem, fecha-los de novo. A razão?

Bati em algo duro. Muito duro. E de cabeça. Tentei abrir os olhos novamente, mas o esforço foi em vão e tudo escureceu.

Quando me senti acordado, dava pra sentir a areia molhada grudando nas minhas costas e o ar entrando pelas narinas. Oxigênio, amém!

Que poético não? Mas a coisa não foi bem assim. Parecia que estavam martelando minha cabeça e eu não tinha forças nem pra mexer o dedão do pé. Ouvi uma voz conhecida resmungar algo que eu não pude assimilar muito bem naquele momento e senti algo me levantar pelas costas.

Tossi. Água do mar. Um gosto salgado e horrivelmente amargo preencheu toda a minha boca. Argh.

Até que encontrei forças, sabe-se lá aonde, para mexer as pálpebras. Vislumbrei uma Anotonella encharcada dos pés a cabeça, tremendo e olhando para mim com uma cara que ficava entre preocupada e serial killer. Oh-o. Eu estava pressentindo que ia apanhar, e o pior, de uma garota.

- Toma, você precisa mais do que eu. Se bem que está todo molhado, e não vai adiantar muito... – Falou a morena, e para a minha surpresa, tirando o casaco preto e colocando este em mim. Recusei, impedindo-a - Não. Fique com ele - Ela abria a boca para argumentar - Questão de cavalheirismo, srta. Mastriani. E você não está pior que eu, admita. Vamos, sua mãe deve estar começando a ficar preocupada - Apontei o céu negro minado de estrelas sobre nossas cabeças.

E falando nisso, a minha ia ter um piti quando me visse encharcado na porta de casa. Amelia Turner tem zelo demais para com seu filho único. Mais do que eu gostaria, até.

Ai de mim.

O doido do Edward recusou o casaco.

- Não, fique com ele. – disse, me estendendo o casaco. Quando eu ia abrir a boca para reclamar, ele continuou. – Questão de cavalheirismo, Srta. Mastriani. E você não está pior que eu, admita. Vamos, sua mãe deve estar começando a ficar preocupada. – falou, começando a se levantar. Relutante, eu o segui.

- Turner, espera aí! – eu o chamei, arremessando a camisa para ele. – Olha, tudo bem eu ficar com o seu casaco. – falei, andando ao lado dele, enquanto ele punha a camisa. – Mas eu faço questão de devolver. Palavra de Mastriani. – brinquei, sorrindo.

Fomos andando pela areia fofa, e finalmente chegamos a calçada, onde tinha um vendedor de pipoca. Eu pedi pro moço um papel e uma caneta e anotei rapidamente meu endereço.

- Toma, Ed. – falei, estendendo o papel. – Mamãe vai fazer questão de lavar, e tals... – tentei explicar, dando de ombros. Então olhei o relógio, e arregalei os olhos. – Olha, tenho que ir mesmo. Tchau! – meio que guinchei, acenando.

Corri para casa o mais rápido que podia. Nós, os Mastriani, temos uma regra, e só uma: não se atrase para o jantar, que é servido, todos os dias, às sete e meia.

Quando eu saí da praia já eram sete e quinze.

Spoiler:

Eu começava a me levantar, tentando não dar muita bola ao fato de estar semi-nu, encharcado e com dor de cabeça. Ah, eu já devia estar acostumado. Sou um imã para encrencas mesmo. Porque hoje seria diferente?

Enfim, eu começava a andar quando ela atirou a camiseta cinzenta para mim - Turner, espera aí! – Parei imediatamente e coloquei a roupa, mesmo com as costas ainda cheias de areia. Mel se postou ao meu lado - Olha, tudo bem eu ficar com o seu casaco. Mas eu faço questão de devolver. Palavra de Mastriani - Continuou a morena, sorrindo. Retribuí a gentileza e recomeçamos a caminhar.

Chegamos a calçada, um vento frio açoitando nossos braços. A garota viu um pipoqueiro ali perto e me puxou até lá, pedindo papel e caneta. Rabiscou algo apressadamente e me entregou - Toma, Ed. Mamãe vai fazer questão de lavar, e tals... – Ela parou por um instante, olhando fixadamente o relógio - Olha, tenho que ir mesmo. Tchau! - Ela gritou, já correndo para o outro lado da rua e acenando.

Me vi acenando para uma morena de olhos azuis(eu tenho que ressaltar, ok?), que acabei de conhecer, e com o endereço desta em mãos, escrito em um saquinho de pipoca.

Uau.

Então eu me lembrei que se eu não estivesse em casa em três minutos, seria eletrocutado, enforcado, esfaqueado e frito em óleo fervente. Ok, talvez não isso. Mas é praticamente equivalente à levar um sermão da minha mãe. E o pior é que ela sempre tem bons argumentos para me levar a fazer "serviços comunitários" por uma semana. Algo como dispensar a faxineira e me botar para limpar a casa.

Não foi preciso mais que isso para eu imitar Mel e sair em disparada dali.

[fechado]

Spoiler: