I see dead people. - Oh, so do I! [fechado]

Hoje era um dia importante. Não só porque Allegra vinha aqui em casa buscar o tijolinho dela, mas também porque hoje eu conheci o Trajano. Eu não sabia que existiam coisas como o Trajano no mundo. Fala aí, não é sempre que você encontra um cachorro-fantama rondando pelas ruas, e se você for pensar, ele é o cachorro perfeito: não precisa de comida, não se alivia em qualquer lugar – aliás, não se alivia – e ainda é bonitinho.

Ela viria às 3:00. Já eram 2:50 e eu não tinha arrumado a casa. E ainda tinha um cachorro eufórico cheirando tudo. Não que a casa estivesse uma zona, mas aposto que a Allegra não ia gostar nada de chegar e ver uma pizza em cima da tv e uns copos de Coca espalhados pelo quarto. Não. Eu não estou pensando em levá-la até o quarto. Não agora. (!!!) Próximo assunto.

Comecei a jogar minhas camisetas nas gavetas e jogar algumas meias fora. Estavam num estado lastimável, até a moça da lavanderia se recusaria a lavar. Foi aí que eu achei o livro embaixo do meu travesseiro. Eu não tinha perdido, só não estava achando. E como eu suspeitava, era a cura para a insônia.

- Trajano! Não. – Por que raios cachorros-fantasmas precisam roer móveis?! Eles estão mortos, os dentes não vão nascer, cara. – Cara, a gente precisa combinar uma coisa: nada de roer os móveis. – eu acho que ele entendeu. Não sou nenhum expert em cachorros, mas se eles abanam o rabo e olham pra você é bom, certo?

Peguei o livro e coloquei em cima da tv. Seria menos difícil eu não achá-lo. Sentei no sofá e chamei o Trajano. Eu precisava de companhia para ver o melhor filme da vida: O Diário dos Mortos. Só que, óbvio, conspiraram contra mim e no instante que o Trajano finalmente se acomodou, a campainha tocou. 3:01. Droga, ela era pontual.

Tudo bem, eu não estava há mais de uma hora procurando uma roupa por realmente me importar em ir na casa de Shawn hoje, afinal, era uma coisa qualquer, indo na casa de uma pessoa normal, para pegar meu livro. Simples. Rápido.Prático. E indolor. Ou ao menos eu assim esperava.

Eu decidi ir com um look mais diferente, mais bonitinho, arrumado não, eu não estava fazendo isso porque era o Shawn, mas simplesmente porque gostava de me arrumar, ok?, e resolvi colocar uma saia branca, uma blusa rosa e uma jaquet jeans, branca com detalhes em rosa. Eu me olhei no espelho, deixei meus cabelos soltos, a franja no rosto, um gloss nos lábios, mas não aquele que gruda, não, não,eu não estava pensando em beijar o menino ou algo do gênero, mas eu não gostava quando o cabelo grudava e o rosto ficava todo melecado. Ew.

Mas tá, eu gostava do que via no espelho, então, me vi pronta para ir, ,e logicamente, estava com meu senso de horas londrino. Pontual tá? Então peguei o papel com o endereço dele, e coloquei meus óculos para tentar ver as coisas com a luz horrível do meu C3. Ah, isso, eu era praticamente cega. Bem, nem tanto, mas o bastante para ver as coisas turvas. Mas eu me recusava a ver o mundo por um quadrado.

Após algum tempinho desvendendo os lugares, eu cheguei na casa de Shawn, algum minutinho atrasada, creio eu. Ele abriu a porta, e, eu fui logo dando dois beijinhos nele.

-Hei, Hill, beleza?- falei, enquanto ele me levava para dentro. E foi quando eu vi a coisinha fofa que estava perto da televisão.- Oh, que cachorro lindo, Shawn- disse.

E foi quando ele fez uma cara.

E não era muito legal.

Era tipo assim: o filme que estava passando na tv

Demorei uns dois segundos até levantar e ir até a porta. Parei e ajeitei minha camiseta. Não custa ficar ajeitado para receber visitas, certo? Passei a mão no cabelo e abri a porta. Eu juro que quase fechei. Faltou muito pouco, porque sério, nunca nenhuma garota tão bonita assim entrou na minha casa. Depois dos dois beijos que eu recebi, disse para ela entrar e ir se acomodando. Tipo... não é um encontro formal nem nada.

-Hei, Hill, beleza? – ela já estava indo para o sofá. Sério, eu amo a Allegra. Sem frescuras nem nada. E linda. Eu posso ver nossos filhinhos loirinhos e bonitinhos brincando com espíritos no jardim, porque alguém tem que herdar esse dom. – Fala ae, Allegra.. – eu sou tão otário às vezes.

Estava fechando a porta quando escutei uma certa comoção atrás de mim, e não era o fato da menina ter usado um desfibrilador na cabeça de um zombie. – Oh, que cachorro lindo, Shawn - o Trajano. Ela estava vendo o Trajano. Um fantasma.

Me virei com os braços cruzados e com as sobrancelhas franzidas. “E se isso fosse verdadade, Hill? Espera, não, e se além de eu ver ''gente morta'', eu ainda fosse detentora de outro tipo de ''dom'', e seu eu fosse uma bruxa?” Aquele dia no banheiro...ela estava falando sério? Ela via gente morta, de fato. Fiquei encarando seus olhos azuis até que me sentei no sofá e pedi para que ela sentasse também.

- Allegra, esse é o Trajano. – dei pause no filme bem na hora em que o zombie do desfibrilador revive. – Eu não quero te assustar nem nada, mas...olha a cara desse zombie, meu! Você precisa assistir esse filme. Eu tenho pipoca se você quiser. – eu não ia largar a bomba de que o Trajano estava morto faz um tempo. Não agora. Talvez quando ela aceitasse assistir o filme comigo. Zombies, fantasmas, ela com certeza estará mais no clima depois do filme.

Eu não era muito fácil de lidar, e isso eu sabia, não precisava que ninguém me dissesse, porém, eu confesso que era muito mais dócil com o Shawn do que com qualquer outra pessoa. E eu não tinha a menor idéia do porquê isso, mas era legalzinho ser uma garota amável, mesmo que por alguns instantes e claro, ainda tinha o fato dele ser extremamente fofo.

Allegra, esse é o Trajano.- eu olhei para o totó embaçado...bem, não, o cachorro não estava embaçado, eu qe tinha esquecido de usar as lentes, na verdade, mas ainda sim podia ver que ele era absurdamente fofo,apesar de não chegar perto, afinal, eu gosto de manter distâncias com criaturinhas que têm dentes afiados.

Eu não quero te assustar nem nada, mas...olha a cara desse zombie, meu! Você precisa assistir esse filme. Eu tenho pipoca se você quiser.

Eu me virei para o filme que estava passando da televisão. TERROR!. Ah dude, eu amava filmes de terror, apesar de ter medo. Era uma coisa estranha, do tipo, não assistir a filmes de terror quanto estiver sozinha, mas assistir filmes de terror na madrugada quando tem alguém do seu lado.

Adrenalina rulez.

O fato é que eu me sentei no sofá, enquanto meus olhinhos brilhavam por pipoca com bastante manteiga, coisa que Shawn trouxe para mim com toda a polidez do mundo. Ele se sentou do meu lado, enquanto colocava o filme, da parte do zoombie e do desfribilador.

Mas o filme dava medinho. E eu fiquei me enconstando diversas vezes nele, tapando os olhos, e vendo como ele ria da minha cara, enquanto as coisas iam ficando mais sinistras, e até que as coisas que haviam se passado em minha vida estava cada vez mais distantes.

Mas tudo que é bom dura pouco. E eu com certeza não estava preparada para o que vinha a seguir

Ela fez um draminha, mas aceitou assistir o filme comigo. Eu preciso dizer como eu fiquei feliz? Desde a primeira vez que eu vi Allegra, eu sabia que valeria a pena levar uns tapas e umas respostas atravessadas. Claro que eu não fui estapeado, mas sobre as respostas eu estava certo. E ta, eu sei que eu sou simplesmente chato às vezes, mas ela poderia ter se livrado de mim facilmente.

Tentei fazer a pipoca o mais rápido possível, mas não dependia de mim e sim do microondas. Enquanto esperava o ciclo terminar, fiquei olhando Allegra da cozinha. Será que ela surtaria demais quando soubesse do Trajano? Bom, eu tranquei a porta da frente, assim ela não vai poder sair correndo daqui de casa. Pelo menos não seria tão traumático, afinal Trajano era bonitinho.

Peguei a pipoca e fui para o sofá. – A senhorita faça o favor de tirar os sapatos. Na casa de Shawn Hill, ninguém assiste filmes de sapatos. – ela riu e os tirou rapidamente. O filme dava uns belos sustos, e eu podia sentir seu corpo cada vez mais perto do meu. Sério, você acha que eu tinha escolhido esse filme do nada? Além de bonito eu sou esperto, cara.

O filme acabou e eu desliguei a tv. Já eram 5:00, mas ainda estava claro. Eu poderia fazer duas coisas nesse momento. Eu poderia beijar Allegra, ou poderia falar sobre Trajano. Eu estava louco para beijá-la e nem seria grande coisa, porque esse já era nosso terceiro encontro. Mas meu pai sempre me disse que eu faço as piores escolhas, então aqui vai.

- Allegra. – me virei no sofá e fiquei de frente para ela. – Tem uma coisa que eu preciso te falar. – olhei para minhas mãos. Cara, só fala de uma vez! – O Trajano. Ele está morto há cinco anos. - o que é total mentira, porque eu não faço idéia de quando ele morreu. Pode ter sido ontem, ano passado ou século passado.- Mas, tudo bem sabe, ele continua sendo um bom cachorro. Né, Trajano! – fiquei esperando por sua reação enquanto coçava as orelhas do meu mascote. Tenho que admitir uma coisa: meu pai estava certo sobre eu sempre fazer as piores escolhas.

O filme era legal, devo confessar. E também devo confessar que eu estava gostando de estar com Shawn mais do que deveria, mas isso era uma coisa que ele não poderia saber. Ao menos não agora.

Depois de tirar os sapatos, no melhor estilo casa japonesa, ficamos assistindo o filme, e cada vez mais próximos, que me fez esquecer completamente do que tinha ido fazer da casa de Shawn... porém, a verdade é que filme havia acabado, e já estava na hora de ir embora, era mais ou menos 5 da tarde, e eu devia voltar para estudar.

Ah, isso! O livro! Eu me virei para falar com Shawn sobre o livro, e, quando eu me virei, ele estava também virado para mim.

Allegra. – – Tem uma coisa que eu preciso te falar. - eu ergui uma sobrancelha. O que ele queria me dizer? Oi Allegra, eu sou um serial killer em ascenção e você será a minha primeira vítima?, eu sinceramente odiava essas paradas dramáticas antes de falar alguma coisa.

O Trajano. Ele está morto há cinco anos- eu olhei para ele. Quem? Mas quem diabos...e foi quando eu vi o que Shawn estava acariciando,e foi quando eu comecei a tremer levemente.-as, tudo bem sabe, ele continua sendo um bom cachorro. Né, Trajano! .

Imediamentamente eu senti minha mão se fechando em pulso, enqunato eu pegava o óculos, trêmula, na minha bolsa, somente para ver que, através dos óculos, Trajano não estava mais turvo. Estava normal. E com uma atmosfera azul em volta dele.

Eu senti como se houvesse passado um tornado na minha mente. Era a primeira vez que eu via um fantasma tão nitidamente assim, enquanto tirava os óculos, e murmurava negativas, senti que a cortina de Shawn serpenteava. Toda vez que via um fantasma meus poderes ficavam mais difíceis de controlar. Quase que ao mesmo momento o vaso de vidro que estava perto se quebrou, jogando cacos para todos os lados.

Oh Deus, desculpe por isso...oh, Shawn, eu...eu preciso ir...- eu precisava ir, antes que não pudesse mais saber o que estava fazendo.

Ela pegou os óculos e piscou duas vezes. Era como se ela tivesse certeza que depois dessas piscadas o Trajano voltaria ao normal, sem aquela aura azul envolta de seu corpo. Ei, isso não vai funcionar, gata. Ele está morto, mortinho da silva. Cara, quem fala essas coisas? Eu preciso parar de passar tanto tempo com o meu pai.

Ela começou a murmurar alguma coisa, algo que não entendi direito, mas que pelo visto não eram palavras dóceis. Fiquei olhando para ela, sem saber muito o que fazer. Ela bem que poderia se jogar em mim e me abraçar e falar "Shawn, estou com tanto medo, me proteja", mas aí não seria Allegra. Ou ela correria ou...ela correria.

Foi aí que as coisas começaram a ficar estranhas. Primeiro que as cortinas de 5 dólares que eu comprei começaram a balançar violentamente. Bom, poderia ser o vento, mas as janelas estavam fechadas. Mandei o Trajano para a cozinha, porém não surtiu efeito. Levantei e tentei levá-lo a força, claro que seria inútil, porque ele atravessa paredes, logo não poderia trancá-lo lá. Fui parado pelos cacos de vidro que antes eram um vaso. Certo. Super normal.

Olhei para todos os cantos da sala, para ter certeza de que não havia nenhum fantasma além do Trajano. Nada. Niente. Rien. Enquanto Allegra pegava o livro de cima da tv, peguei um copo de água. Ela não escaparia de mim tão fácil.

- Allegra, pode parar aí mesmo. - ela se virou para mim e antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, eu fiz. Joguei água no rosto de Allegra Hoew. Bom, se era para ela se acalmar, eu tentaria de tudo. Os fins justificam os meios ou algo do tipo, certo?

-Ai. Meu. Deus. - fingi espanto e entreguei uma toalha - Tem como você arrumar o meu vaso, por favor? - só me diz por que raios eu não a beijei.

Tudo bem, se alguém pudesse colocar estado de choque na wikipedia, sairia um pequeno vídeo de mim, naquele momento, passando no YouTube, porque, sinceramente, eu nunca esperava que aquele dia pudesse chegar. Só que, infelizmente, eu não ficava normalmente em estado de choque [ou ao menos o mais normal que uma pessoa em estado de choque possa ser, ao menos], não, além de ter na minha frente uma coisa azul gosmenta e morta é engraçado como o aspecto de extremamente fofo pode ser variável.

Eu tinha que arcar com a verdade: eu era uma bruxa. Tá, certo, com isso eu podia pensar em lidar, já que tinha convivido a vida toda com esse tipo de realidade, porém, eu também era, ou estava disposta a ser, ou sei lá o que.......uma ahn...uma...MEDIADORA TAMBÉM??????

O que eu tinha que fazer agora? ir embora antes que quebrasse tudo na casa de Shawn, afinal, primeiro foi o vaso, e não estava certa de que pudesse me controlar mais um pouco.

- Allegra, pode parar aí mesmo. - eu me virei imediatamente. Como poderia explicar em meros segundos que eu era uma bruxa, e talvez, apenas talvez eu pudesse ser algo mais [sim, porque eu não estava querendo acreditar que pudesse ser mais weirdo do que já era, portanto, eu estava ainda no estágio da negativa]. Entretanto, antes que eu pudesse ver, fazer, bater ou qualquer coisa mais, eu sinto algo no meu rosto.

E não foi nada de uma brisa refrescante das manhãs de domingo.

-Ai. Meu. Deus. - Tem como você arrumar o meu vaso, por favor?

O que aconteceu depois foi mais estranho ainda. Olha, não deixei uma brixa com raiva, porque, a minha reação, foi fazer com que a toalhe voasse no mínimo uns 15 metros, caindo sabe-se lá onde, e o copo onde estava a água, quebrasse em mini-micro pedacinhos, e a televisão ligar e desligar. Err.

Ops?

-Acho que você acabou de notar porque eu queria ir embora....- falei, irritada. - Isso é o que uma bruxa pode fazer- falei, enquanto esperava sua reação.

A Inquisição acabou, fikdik.

Certo. O fato de eu ter jogado água no rosto de Allegra pode ter causado sérias conseqüências à minha casa. Primeiro que a toalha que eu estava oferecendo voou longe e o copo em minha mão se estilhaçou. Logo depois a televisão começou a ligar e desligar tão rápido que em cinco minutos ela pifaria. Mas sabe o que foi bom? Minhas amadas cortinas estavam paradas.

Olhei mais uma vez ao redor, me assegurando de que não havia mais nenhum fantasma na casa. Lá estava o Trajano abanando o rabo e Allegra. Só podia ser Allegra que estava fazendo todo esse estrago. - Acho que você acabou de notar porque eu queria ir embora....Isso é o que uma bruxa pode fazer.

E de repente tudo fez sentido. A conversa no banheiro não era mais tão surreal e bobinha,afinal ela tinha falado a verdade! É muita sorte a minha, não? De todas as meninas que eu podia levar lá em casa, eu tinha que escolher logo uma bruxa?! Good job, Hill.

- Vamos sair daqui antes que você destrua meu Astro Juicer.- peguei ela pelo braço e a levei até a porta. Foi aí que eu percebi. Ela era uma bruxa que via gente morta? Qual éééé? Essa menina era muito zoada!

Fechei a porta e comecei a andar em direção à cerca que contornava minha casa. Coloquei as mãos nos bolsos e parei de frente para ela.

- Então...gostou do filme? - eu não podia simplesmente começar a perguntar sobre tudo o que aconteceu, podia? Era bem capaz de levar minha caixa de correio na cabeça, se não tomasse cuidado.

Eu vivo ao redor de loucos, só pode! Aliás, eu nem realmente sei se posso crer na minha própria sanidade mental, visto que eu não poderia ser uma bruxa/mediadora...aliás, como se chamaria isso? Uma medibruxa? Aargh! Não poderia mais pensar em nada desse gênero, ainda acreditaria que isso poderia ser um episódio esparso, e logo tudo iria voltar o normal. Bem, ao menos o mais normal que uma bruxa pode ser. O que eu deveria fazer agora? Bem, logicamente que sair dali seria o melhor a fazer, já que eu não tinha a menor idéia de quão longe meus poderes poderiam ir.

Vamos sair daqui antes que você destrua meu Astro Juicer.- - arqueei as sobrancelhas, enquanto ele me levava para longe de casa, ou melhor, longe de todas aquelas coisas quebráveis. Eu não sabia se pensava em tudo que acontecia ou não, o que eu mais queria naquele momento era voltar para casa, e fazer com que tudo isso desaparecesse.

Então...gostou do filme?- já estávamos do lado de fora quando ele me veio com mais essa. Quer dizer que agora ele ia dar uma conversa de paisagem?

-Claro Shawn, especialmente aquela parte que o filme vira 3D e sua casa é destruída- fiz um sinal com as mãos-- Demais!- voltei a olhar para o chão, tentando aclarar minha mente. Eu não sabia o que dizer e....

ESPERA! Calma um segundo! O que ele disse mesmo? Que o Trajano estava morto?Não entedi como minha cabeça só veio funcionar naquele momento. Se o TRjano estava morto, e Shawn estava vivo, e se Shawn podia ver então....

- Você é um mediador?- minha voz falhava e gritava de choque, ao mesmo tempo.

Comoassim?

Ela estava nervosa e falava rapidamente, fazendo gestos com as mãos. Eu não pensei que eu veria Allegra desse jeito nunca, porque vejamos...é a Allegra! Ela não demonstrava muuuito suas emoções e tudo mais, então foi meio que um choque para mim. Mas se você for pensar, era meio que uma tempestade num copo d'água, porque o Trajano era a bola peluda mais adorável da outra dimensão. Imagina como ela ficaria se visse meus outros clientes.

- Claro Shawn, especialmente aquela parte que o filme vira 3D e sua casa é destruída. Demais! - Srta Atitude está de volta. Custa responder direito? Ah, se ela tivesse sido educada pelo meu pai, tsc. Ela olhou para o gramado, como se estivesse procurando por alguma coisa. Educação, talvez? Ok, eu confesso, eu adoro essa garota.

E de repente, num estalo ela levantou a cabeça e soltou A pergunta:- Você é um mediador? - ela só percebeu isso agora? Eu tenho quase certeza que eu já tinha contado...Não? Ok.

-Aham. - cheguei mais perto e coloquei meu dedo indicador na testa molhada de Allegra - E pelo visto você também. - olhei para minha porta e vi metade do Trajano para fora. Ótimo. Agora que a menina tinha parado de destruir a minha casa e estava se acalmando, lá vem o causador de tudo isso.

- E claro, você também é uma bruxa. - fiz uma cara de nojo e sorri. - Eu te ofereceria uma toalha, mas não tenho idéia de onde está, ou talvez um copo de água, mas o meu quebrou do nada. Que tal um outro filme? - Com quem é que estava minha cópia de Ghost?

Eu ainda estava esperando pela hora de meu despertador tocar, porque, logicamente, aquilo era uma espécie de pesadelo. Eu me sentia num livro de Stephen King, sem a parte do sangue jorrando por todos os lados, e um lunático com um machado. Ele era um mediador, e não sei por que cacharolas levei tanto tempo para juntar o tico e o teco no meu cerébro inundado. Hill paracia não saber o porquê de tanta agonia da minha parte, porém, se ele descobrisse de um dia para o outro que seus poderes paranormais estavam à toda, ele também surtaria. Sério.

--Aham.- ele chegou mais perto e colocou o dedo na minha testa- E pelo visto você também. - nesse momento a bola de pêlos fantasmagórica estava de volta. Geez, eu não conseguia parar de pensar que aquilo tudo era um episódio de Além da Imaginação.

-- E claro, você também é uma bruxa. - ele fez uma cara de nojo. Era fato que bruxas e mediadores não se davam. Não se davam totalmente. E eu agora era as duas coisas, deveria haver um grande conflito interno em mim - Eu te ofereceria uma toalha, mas não tenho idéia de onde está, ou talvez um copo de água, mas o meu quebrou do nada. Que tal um outro filme?- revirei os olhos

- Banho- falei, e ele com certeza não entendeu nada. - Eu preciso de um banho- na mesma hora peguei minha mochila do carro, que tinha um top e uns shorts de academia e uma toalha. A única coisa que me acalmava totalmente era um bom banho.- - O banheiro por favor- e ele me olhou como se não estivesse entendendo nada.

Eu precisava tomar um banho. E sozinha, ew., já que vocês estão com cara que estão entendendo outra coisa.

Sabe uma característica de Allegra que eu ainda estou me acostumando? O fato de ela simplesmente soltar palavras em meio a situações diversas. Na primeira vez que eu a conheci, a primeira palavra fora de contexto que ela falou foi "sorvete." E foi por isso que eu não fiquei tão confuso assim quando ela falou "Banho."

-Certo...eu não sabia que você era desse tipo, senhorita, mas meu box só tem lugar para uma pessoa - esperei por sua reação, que não demorou a vir. - Ok, ok, eu estava brincando... - ou não. Afinal, eu não vou mentir para mim mesmo: um banho com Allegra não seria má idéia.

Fui na frente. Abrindo a porta, me virei rapidamente - Rapidão, um minuto. - Corri para o banheiro e comecei a jogar toda a bagunça no armário: meias, toalhas, tudo.Deus queira que essa menina não abra essa parte de baixo do armário. Fui para o quarto e estiquei o lençol da cama por cima do meu pijama.

Abri a porta com cara de mordomo e esperei que ela entrasse - Olha, vê se não surta de novo. O Trajano tá lá na cozinha, dormindo. Apenas finja que ele não existe...porque na verdade ele literalmente não existe - ri comigo mesmo por causa da piadinha inteligente e apontei para o banheiro.

-Tem certeza de que não precisa de ajuda aí? - e sorri e pensei no que eu faria depois que ela tomasse banho para que ficasse mais tempo aqui comigo.