Tom and Jerry 2 - The Chase and the surprise - rp fechado!

Eu poderia mais uma vez começar aqui com o tema sorte e azar, mas todos já estão cansados de ouvir sobre ambos e como eles se passam na vida de Neil não é? Pois bem, não vou começar a falar sobre isso, apesar de ser um assunto pertinente e que fica martelando no meu cérebro, mandando mensagens que chegam até meus dedos que digitam involuntariamente sobre o assunto. Mas o que eu posso fazer se apesar de todas as situações adversas ele é um cara mais do que sort.... Ok! Eu disse que não ia falar sobre isso. Começa a ficar chato martelar em cima de mais do mesmo. Portanto, vamos tentar passar longe disso, apesar de que ele é um caso a ser estudado cientificamente, pois dizem que um dia a sorte acaba e.. Lá vou eu de novo! Mas tá, sabemos também que ele acabou perdendo um pouquinho de todo esse mel(?) no episodio com o fantasma, mas temos mais certeza ainda que isso foi apenas um resultado de quem abusa dela! (yay, não usei a palavra!)

Mas o fato é que apesar de tudo, os últimos acontecimentos fizeram com que Neil parasse pra pensar um pouco. Bem, não pense antes que eu termine de lhe contar o que realmente aconteceu. Você deve estar pensando que Neil tomou vergonha na cara e decidiu não mexer mais com coisas sobrenaturais, mas muito pelo contrário; é bastante obvio que isso só iria fazer com que ele ficasse mais agitado e tivesse mais certeza de que estava no caminho certo. Mas por incrível que pareça, não era nada disso que se passava pela cabeça dele nesses últimos dias.

Só uma pessoa ocupava os seus pensamentos. Beatrice Del Vecchio. Pode suspirar e dizer que ele está apaixonado e coisa e tal, mas nem é tanto por isso. Aliás, não chega a ser isso. Ele a acha bonita, atraente, gosta de provocá-la, mas acho que não, talvez ainda não seja paixão. E ela não saia da sua cabeça por vários motivos e o principal fora o acidente na pensão e o fantasma. O que nos leva de volta aos últimos dias dele no hospital.

Depois de tentar convencer Beatrice a ser honesta com ele e lhe dizer a verdade sobre o fantasma e o fato dela ser mediadora, ela jogara sujo. Sim, Neil sentira que havia um fantasma ali por perto bem na hora que ele estava tentando conseguindo encostá-la na parede, quando ela lhe apagou, aplicando uma dose de morfina em sua veia que deixaria qualquer um desacordado. Aquilo não era nada justo e só confirmava os seus segredos. Mas pela a primeira vez em muito tempo, alguém conseguira tirá-lo completamente do sério. Ele tinha que fazer com que aquela cabeça dura entendesse que ele sabia sobre aquelas coisas e era muito mais do que um humano normal e ponto. E afinal, quem havia começado tudo fora ela, então Beatrice não poderia reclamar.

Quando ele finalmente acordou e tentou falar com ela mais uma vez, Beatrice tirou o corpo fora, aproveitando da imobilidade de Neil, tendo ainda falado para ele ficar longe de coisas que não conhecia. Aquilo só o deixou mais possesso e estando impotente para agir, ele tentou atingi-la de outra forma. Voltou a ler as cartas para as enfermeiras, a receber suas clientes no horário de visita e foi mais do que mimado. Bem, ele não tinha do que reclamar, pois alem de tudo tinha comida e cuidados de graça. Neil sabia que isso a irritava profundamente e nas poucas vezes que a viu de longe, podia ver seu olhar de reprovação. Ela tinha pedido aquilo e ele não ia poupar esforços para irritá-la cada vez mais.

Saiu do hospital após duas semanas desde que havia falado com ela uma ultima vez. Ainda não estava completamente bom, mas já podia ficar em casa. Voltou para a pensão, e mais uma vez o fato de já ter algumas clientes assíduas, o ajudou muito. Agora me diz, devo ou não falar de sorte? Acho que os fatos falam por eles mesmos não? É, acho que falam.

Teve que ir algumas vezes ao médico, mas logo já estava bem para voltar as suas atividades de novo. E dera bastante tempo para Beatrice pensar. E todo esse tempo não tirou nada daquelas coisas de sua cabeça. Ele iria atrás dela assim que estivesse pronto, pois tinha que saber qual era a daquele fantasma e se tinha algo ou alguma outra criatura sobrenatural envolvida naquilo. Deixou passar mais de um mês depois de seu acidente, até para que ela pudesse achar que ele tinha se esquecido dela. Acabou se deixando levar pelas lembranças do quanto gostava de irritá-la e juntando o fato de que ele estava igualmente aborrecido, acabou decidindo que não dava mais, tinha que agir.

Foi até o hospital num horário que ele sabia que ela não estaria lá e usando de sua lábia com uma das enfermeiras conseguiu o endereço de Beatrice. Sabia que não era necessário esperar mais e rumou dali mesmo para a casa dela. Se ela não estivesse lá ele esperaria, mas não deixaria passar dessa noite.

Andou a pé até lá. A distância não era grande, mas também nada de muito assustador. Era bom que assim ele colocava as idéias em ordem para que pudesse finalmente encostá-la na parede com firmeza.

Tocou a campainha e ela não demorou muito a atender. Mesmo que ela quisesse disfarçar, não pode deixar de notar o seu olhar de surpresa, substituído em seguida pela expressão de quem vive a chupar limão. Ações e emoções tão conhecidas que já não assustavam mais. Neil imaginou que ela poderia fechar a porta na sua cara e como uma premonição ela o fez, mas ele foi mais rápido, colocando a mão com força, empurrado-a. Ela foi pega desprevenida e ele entrou, parando na soleira da porta para evitar que ela repetisse o gesto, colocando a mão direita espalmada na porta, para que ela não tentasse de novo. -Você sabe que me deve explicações e vai ter que me ouvir. Chega desse joguinho de esconde-esconde e de se achar uma super heroína. Eu agradeço que você tenha me salvado, mas preciso saber de quem você me salvou!

The worst of us are a long, drawn ou confession
The rest of us are geniuses of compression
You say you're not gonna leave the truth alone
I'm here 'cause I don't wanna go home

Quando Neil metia uma coisa na cabeça, não tinha quem conseguisse tirar. Ele se tornava meio obcecado, mas não de um jeito doentio, não exatamente, claro. Mas ele não era o tipo de pessoa que perdia tempo com coisas que ele sabia que não valeriam à pena, portanto nada mais do que certo se ele martelasse em cima do assunto até conseguir resolve-lo. Bem, é só pegarmos como exemplo a sua obsessão por fantasmas. Já fazia muito tempo que ele descobrira sobre isso e se não quisesse chegar a algum lugar – como ser capaz de ao menos senti-los e expulsa-los de vez desse plano – ele não pararia. E no fundo ele sentia que não era exatamente um farsante. Ele estava longe de desassociar suas visões reais dos palpites certos, mas ele sentia que tudo o que ele fizera até hoje não fora em vão.

E com Beatrice não seria diferente. Agora, querendo ou não ela já estava mais do que envolvida nas coisas que Neil fazia e até que ele conseguisse provar tudo o que queria não sossegaria. Observou a expressão dela ficar ainda mais demoníaca. Um dia ele conseguiria entender como uma pessoa pode ter tantas expressões que denotam ódio. Alguma coisa devia atormentá-la demais – e talvez ele até soubesse pelo que vira no parque, mas isso não era relevante. Não ainda. – e ele descobriria o que era.

-Eu não devo explicações a você- Beatrice vociferou jogando a toalha de lado. Neil não deixou que a sua expressão se alterasse, com a mão ainda espalmada na porta e esperando a continuação do show dela. - Você está bem, não está? Nada mais aconteceu, então eu aconselho a você voltar a enganar as pessoas e me deixe em paz, não há nada que devemos conversar. Eu não acho que sou super-heroína ou coisa nenhuma, apenas é que você se mete em problemas demais-Ele levantou uma sobrancelha, tentando empurrar a mesma raiva que o levara até ali. Neil ainda não esquecera que fora apagado por ela no hospital e não esqueceria tão tarde. -Agora saia daqui antes que eu chame a polícia.

Ela finalizou o discurso com uma ameaça. Tão ridículo da parte dela e tão previsível. Mas não era isso o que ele queria. Neil queria apenas resolver o mistério que cercava o ataque. Poderia até dizer que depois deixaria ela em paz – o que não seria de todo verdade – mas tinha que resolver. Respirou fundo e pensou que responder no mesmo tom só iria piorar as coisas. Beatrice parecia ser movida por brigas. Se ele aumentasse o tom, ela faria o mesmo e não viraria nada. Decidiu agir de forma calma e sem sarcasmo.

-Tudo bem...- respirou fundo mais uma vez, retirando a mão da porta. Seu tom era completamente calmo, ponderado e sério. -Então vamos começar de novo, ok?- Ele percebeu que a expressão dela se tornara um pouco mais confusa com essa mudança súbita de humor. Expressão essa que se acentuou quando ele fechou a porta com calma, esperou alguns segundos e tocou a campainha apenas uma vez. Esperava que ela tivesse entendido o recado.

Ela demorou alguns minutos para atender e Neil quase foi impelido a agir de forma brusca de novo. Mas não foi necessário. Talvez tenha sido o susto pela reação dele que a paralisou um pouco, pois logo ela abriu a porta. Não que a expressão dela tivesse melhorado.

-Boa noite, Beatrice!- Ele falou, ainda sem dar um único sorriso. -Será que podemos conversar?

Ps.:Uma pequena nota, pois achei muito pertinente:

Musica que estava ouvindo ao finalizar o post: "Janie's got a gun." Do Aerosmith! Acho que dá pra entender, non? AHUAUAHAUAHU

Quem disse que Neil não sabia conduzir uma conversa a seu favor quando queria? Não que isso tivesse acontecido, pelo menos não ainda. Mas só o fato de Beatrice ter aberto a porta para ele, já provava que ele estava no caminho certo. Neil não queria se envolver com a policia e era irracional levar as coisas daquela maneira. Observou-a ficar boquiaberta com a reação dele e passar as mãos pelos cabelos. Esperou que ela o convidasse para entrar, pois estavam agindo como adultos civilizados não? Mas quando ela finalmente falou alguma coisa, não foi o esperado.

-Banho!- Ela falou bruscamente e foi à vez de Neil ficar ligeiramente boquiaberto. Ela era louca ou o quê? Bem ele sabia que sim e...- Sente-se no sofá, enquanto eu tomo banho, um segundo, por favor!- Agora sim, pois Neil estava começando a questionar as suas capacidades mentais. Não que ele já não tivesse feito isso antes e ela muito provavelmente o fez diversas vezes.

Beatrice nem deu tempo de Neil responder e já havia desaparecido para os outros cômodos da casa. Em vez de se sentar, ele ficou em pé observando tudo a sua volta. Ela parecia morar sozinha, o que não era muita novidade para ele. Andou pela sala, examinando tudo e se deteve em alguns retratos. Viu fotos de Beatrice quando criança e como se fosse uma memória sua, lembrou-se da criança chorando e dos pais brigando, aos quais ele reconheceu nas fotos ao lado das primeiras.

Aquilo fora bastante estranho para ele, e talvez na hora ou mesmo nos dias que se passaram ele não analisou como ele descobrira coisas tão profundas. Sua mente estava tão focada em ir atrás do fantasma e conseqüentemente entender as motivações por trás do ataque dela que não fora capaz de pensar no quanto aquilo fora estranho.

Poderia até ter tentado se convencer de que foi um palpite certeiro, ainda mais que as reais imagens não ficavam tão vividas em seu subconsciente, mas agora ao ver o retrato ele parecia se lembrar de algo que nada tinha a ver com ele. Como isso era possível? Talvez ele já tivesse visto os dois em algum lugar e juntando com o seu palpite ele poderia ser levado a pensar que...

Os passos de Beatrice interromperam o seu raciocínio. Não que Neil fosse burro, mas talvez ainda demorasse bastante para ele chegar à verdade sobre ele mesmo. Acho até que pelo fato de que nem ele acreditaria que tinha tal poder.

Ele se virou a tempo de ver que ela não havia gostado nada da atitude dele. Bem, o dia que Neil conseguisse tirar um sorriso sincero do rosto de Beatrice por algo que ele fizera, choveriam fantasmas. Observou seus cabelos molhados e sua saia bastante chamativa, mas antes que perdesse o fio dos pensamentos, ouviu-a falar com ele.

-Então Neil, o que você quer conversar?- Ela se sentou e Neil fez o mesmo. Mas não porque ela acha que mandou. Olhou para ela seriamente e decidiu não enrolar mais.

-Certo! Acho que você sabe sobre o que eu quero conversar, Beatrice. Eu quero que você me diga em primeiro lugar porque aquele fantasma me atacou. Não adianta dizer que isso não é da minha conta e que eu não deveria mexer com isso. Eu sei muito mais do que você imagina e talvez eu não seja esse farsante que você pensa. Você sabia que enquanto esteve desacordada eu travei uma luta com ele? Que eu consegui acertá-lo, que consegui colocar minhas mãos em cima dele?- A expressão dela era de puro desdém e Neil completou antes que ela pudesse falar. -Não estou falando isso pra me gabar, até porque eu sai muito mal daquilo tudo, mas sim porque se eu consegui fazer isso, talvez não possa ficar completamente afastado dessas coisas.

Neil estava sendo completamente sincero e pela primeira vez não queria se gabar na frente de alguém. Bem, pelo menos, não muito! E falou tudo aquilo esperando que ela pudesse pelo menos pensar no assunto. Não era possível que ela não pararia para considerar os fatos. Nem por um momento que fosse acerca de tudo o que estava acontecendo. Mas a expressão dela foi ficando cada vez mais irônica.

E se ele fosse parar pra pensar, ainda não entendia porque estava explicando tantas coisas a ela. Pelo menos em parte, ou mesmo esperando que ela acabasse cedendo e concordasse com ele. Era esperar demais. Mas não, ele não se deixaria enganar por completo. Ela era o tipo de pessoa cabeça dura e seria bastante difícil Neil ouvir da boca de Beatrice que ela estava errada. Terminou de falar, ciente de que ela poderia insultá-lo. Esse era o seu jogo. E essa era a tática de pessoas que se sentiam encurraladas e não davam o braço a torcer por nada.

Ele esperou, sentindo sua declaração ser recebida com muito sarcasmo. Era melhor estar preparado para o pior. Não que isso fosse detê-lo. Ouvi-a suspirar, como se fosse um prenuncio de que ela responderia.

-Você está certo- Ela falou de forma seca e Neil olhou-a de forma surpresa, sem poder evitar. Você está certo, você lutou com um fantasma. Aquilo não condizia com o que ela pensava que aconteceria. -Você está certo porque está doente. Olha Neil, eu tenho uma teoria de que você deve ter alguma deficiência no lóbulo parietal, o que faz com que você tenha visões, e alucinações. Creio que deve ser isso, ou algum tipo de esquizofrenia- Neil borbulhou por dentro, entrando em um estado de quase ebulição. Mas para a sua surpresa, ele conseguia fazer com que pouco de seus atuais sentimentos transparecessem em seu rosto e percebendo que ela havia notado, tentou relaxar. Ela não iria acabar com ele assim, com essa facilidade. --Pois bem, eu creio que fantasmas possam existir. Falando em um sentido filosófico, e até adentrando no plano espiritual, porém, se você sabe tanto quanto diz que sabe, como conseguiu bater nele? Fantasmas, pelo que eu entendo, não têm corpo físico para tal coisa, não acha?- Certo, estava difícil para ele agüentar com tanta neutralidade. Sentiu-se levantar leve e involuntariamente, mas voltou a se sentar. Fechou uma das mãos em punho, tentando por tudo parecer calmo, mas com certeza deve ter feito uma careta. Como aquela mulher poderia despertar tanto ódio assim nele ao mesmo tempo em que ela o atraia? Pelo menos até antes dela abrir a boca. Mas não, isso não viria a cabeça dele, não nesse momento. Apesar de que os dois sentimentos eram separados por linhas muito tênues. --Sim Neil, você vê coisas, mas apenas porque seu cérebro é defeituoso- Ela terminou, triunfalmente, mesmo que tentasse disfarçar o jubilo de acabar com ele.

Neil respirou fundo e baixo, e pensou por alguns segundos. Não iria dar o braço a torcer. Se ele tinha amor próprio? Claro que eu acho tinha! Só que era bem melhor não agir conforme ela estava esperando. Ia rebater da mesma forma. Abriu um sorriso leve, o que poderia fazer com que ela confirmasse a suspeita de que ele era louco sim e falou, sem levantar do seu lugar no sofá:

-Certo, então vamos ponderar alguns fatos. Acho que você tem pelo menos a capacidade mínima para acompanhar o que eu falo. Em primeiro lugar, quem começou tudo foi você, sem nenhum motivo aparente, já que nunca me vira em sua vida. Em segundo, você mesma foi avisar que eu estava correndo perigo e já que não era um fantasma, era o que então? Viu-a titubear um pouco, mas não deu brecha para argumentações. -Agora, juntando todos os fatos, acho que seria necessário um tratamento psiquiátrico para você também, porque não duvido nada que a esquizofrênica aqui seja você, já que se mete em tudo o que se meteu comigo, mas acha que não é verdade.- Não que ele não estivesse explodindo por dentro, ainda, mas achou que se a tática de ser calmo dera certo, poderia funcionar agora também. Apesar de que sua vontade era ter falado tudo aquilo de forma bem menos polida. Neil não achava que ela merecia ser poupada, mas mais uma vez se lembrou que partir para as atitudes extremas não levaria a nada. Não que ele não pretendesse fazer aquilo, até o fim da noite.

Olha, se Neil não a visse explodir dessa vez ele não saberia mais o que fazer. Porque, veja bem, não que ele seja adepto de brigas, como ela parecia ser, mas o fato é que ele tinha que incitar alguma reação nela, qualquer reação que a fizesse pedir para ele demonstrar ser digno de participar de tudo aquilo e não de ser o afetado. Ele não era e muito menos gostava de ser a vitima dessa historia toda. Não era machismo da parte dele, até porque Neil não era assim, só que era um pouquinho inadmissível que ela fosse a heroína com ele a par de tantas coisas.

Ele poderia também ter partido para um confronto mais direto e ofendido Beatrice do mesmo jeito que ela fizera, com o intuito de expulsar Neil dali. Mas estava ai mais uma característica dele: Neil não ofendia ninguém tão facilmente. Ele não achava necessário e por incrível que pareça, com ela era ainda mais difícil. Preferia agir com igual sarcasmo e mascarar as reais palavras por detrás de sua opinião. Ok, ele não se abstinha de chamá-la de louca também, mas vamos dizer que isso não era nada menos do que a verdade.

Viu-a respirar fundo, mas pode perceber que não era de resignação ou de cansaço, e sim de raiva. Suas feições voltavam a transparecer aquele ódio que parecia ser reservado somente para Neil, desde o começo dos tempos. Sim, Neil sabia reconhecer que aquela expressão era somente dele e para ele. Riu internamente de suas constatações e por achar que mesmo uma animosidade personalizada era bastante interessante. Passada a raiva por ela tê-lo apagado, a vontade irritá-la começava a voltar com força total e se a isso se juntasse o que ele tanto queria aquela noite, a sua missão ali seria cumprida com perfeição. Mas, decidindo que era melhor não cutucar mais a onça, manteve a expressão neutra, quando ela começou a falar.

-Olha só, Acker! Você não entende não é? Já não basta quase ter morrido? Vê se faz um favor e voltar pra casa, e deixa a sua segurança e assuntos sobrenaturais comigo, e não me diga que é da sua conta, pois não é da sua conta um assunto que você não entende, e não venha me avisar que você entende, pois a única coisa que você sabe fazer da vida é mentir para as pessoas, porém, isso não vai ajudar em nada! Então deixa de atrapalhar a minha vida, e vai voltar para o lugar de onde veio- Neil apenas arqueou uma sobrancelha, se levantando do sofá, fingindo que ia embora dali. Voltou-se no mesmo instante, como se tivesse ponderado realmente que sair não valia a pena.

-Não! Eu não vou sair daqui, Beatrice. Nós vamos levar isso até o fim. Eu quero apostar com você que eu sei onde estou me metendo. Aliás, muito melhor! Vou te mostrar que não engano as pessoas como você mesma diz. Que tal essa aposta? Eu te mostro que não sou uma farsa. Se eu ganhar, você admite que é uma mediadora e me põe a par de tudo o que está se passando. Se eu falhar, eu sumo de sua vida! – Ele falou, torcendo fervorosamente, mas não pela aceitação da aposta e sim para que ele não falhasse caso ela concordasse.

Eu não sabia o que tinha feito de mal para o eqilíbrio cósmico para ter alguém como Neil Acker em minha vida. Parecia que quanto mais eu fugia de qualquer contato com ele, as coisas sempre mutavam para o contrário. Mais uma vez esse karma que me acompanha, o fato de ser mediadora, me atrapalha mais do que alguém poderia prever. Eu não imaginava como poderia terminar o meu curso desse jeito. Eu estava praticamente dormindo em cima do laptop todas as noites, e, quando não, estava correndo atrás de algum fantasma que resolveu ter problemas pendentes.

Sinceramente eu não conseguia ver como a mediação poderia ser um dom. Sim, de fato tinha a parte de ajudar os outros e toda aquela parvoíce inicial, mas, honestamente, acho que não sou a pessoa certa para tais fatos. Na verdade, pelo que pude ver, quem mais queria ter o tipo de dom que eu tinha era o homem que estava a minha frente: Acker!

Eu estava ponderando se realmente ele tinha algum tipo de poder psíquico, mas, de fato, eu acho que isso tudo é fruto de algum tipo de pertubação psíquica. Ou, ao menos, era o que eu gostaria de achar, visto que eu não sabia mais de nada. Se eu era uma mediadora, falava com fantasmas, não conseguia fechar minha mente, por mais que eu pudesse, totalmente para o fato de que Neil nunca poderia ser o que ele afirmava que seria.

Mas logicamente eu nunca poderia dizer isso a ele.

Eu resolvi testá-lo. Saber se realmente havia algum tipo de constatação verídica em tudo que ele dizia, saber até onde o misticismo e as crenças eram reais, ao menos naquele caso. Bem, possivelmente não era só por aquilo que eu o estava testando, eu gostaria de ver Neil falhando, e isso era um fato. Ele mexia comigo de um jeito que nem o mais puro ódio poderia elucidar.

Porém as coisas não saíram do jeito que eu planejava, de fato, as coisas saíram do meu controle. Eu nunca poderia imaginar que aquilo poderia vir à tona novamente. Aquilo que eu nunca poderia deixar de pensar, mesmo que eu quisesse. Todo o passado que eu gostaria que fosse embora, em um passo Neil estava trazendo novamente em voz alta. Eu nunca deixei de dizer que tinha ódio dele, mas nunca o havia expressado com tanta intesidade como naquele momento. De repente toda aquela raiva transbordou: eu queria bater, causar dor física nele, queria passar para ele algum pouco do que eu estava sentindo. Mas ao mesmo tempo eu não poderia dizer que havia vencido. Nunca.

E foi então que aconteceu. Eu fiquei surpresa, e, ouso dizer, talvez até tão surpresa quanto o próprio.

Eu iria dar mais um tapa nele. Eu ainda não tinha acabado de infligir toda a dor que eu pudesse. Mas ele me parou, e, de repente, sem ao menos eu saber como aconteceu, nossos rostos ficaram colados. Eu ainda respirava alto, ofegante, de toda a raiva que estava ainda reprimida, mas tudo foi rápido demais. Ele me pegou em seus braços, nossos lábios se tocando, e, naquele momento, eu não sabia o que fazer. Uma pequena parte de mim dizia que deveria continuar, que não havia nada de errado, mas, a maior parte, os outro 95% ainda estavam lúcidos o bastante para que eu me distanciasse dele, e, o faria, se ele não tivesse feito isso primeiro.

-Expressar o seu ódio é uma forma de demonstrar uma atração reprimida.-Eu vou te provar que não sou uma farsa, Beatrice

Eu apenas o mirei, enquanto ele voltava para me dar mais um beijo rápido, e, pela primeira vez, estava sem reações. Ele foi embora, enquanto eu ainda permaneci olhando a porta fechada em minha frente, e parecendo que toda a minha concentração e capacidade de raciocínio tinha ido embora. Passei minha mão levemente pelos meus lábios, que outrora ele havia tocado.

E foi quando eu me dei conta que o ódio ainda permanecia.

-Você não tem como provar uma mentira, Acker- disse, para o nada, enquanto meus olhos enchiam de água com as palavras que eu havia acabado de dizer. Palavras que eu queria que fossem verdade.

Rp Finalizado.