Cutie Pie! Hey, what are you doing? STOP! [privado!]

Eu estava precisando de um carro, isto era fato. Mas eu não tinha dinheiro, e este era outro fato. Eu não ia chegar em casa pedindo um carro. Não era porque eu tinha ficado órfã recentemente que todo mundo deveria ceder aos meus desejos. Nope. Onde ficaria minha honra? Você acha que um aspirante a cavaleiro chegaria em casa falando “Ow, e aí, mãe? Me dá um cavalo, vai.” Não, eles lutavam, batalhavam, quase morriam pra ganhar um cavalo. Eu acho.

Então quando eu vi um anúncio de “Precisa-se de babá” no jornal eu quase vibrei. Digo quase, porque muitas pessoas não ficam muito entusiasmadas para ir trabalhar, e eu era uma dessas.O anúncio era muito simples. Tinha isso escrito e um número de telefone. Estranho. Muuuito estranho. E se eu adormecer durante o trabalho e quando eu acordar estiver numa banheira de gelo sem meu rim esquerdo e/ou meu pulmão direito? Algo para se pensar...Mas como eu precisava de dinheiro eu até faria um acordo sobre meus órgãos, logo sairia ganhando dos dois jeitos.

Peguei o jornal e fui até a cozinha. Estranho como estou começando a agir como meu avô. Estou até lendo jornais! Daqui a pouco estarei surfando como ele. Disquei o número e aguardei. Por favor não caia na caixa postal. Eu sei que não sou obrigada a deixar um recado, mas quando toca o bipe eu já começo a falar e sempre fica uma droga. Comecei a desenhar no jornal quando escutei a voz de uma mulher na linha.

- Alô? Oi, então, eu estou ligando por causa do anúncio no jornal. Da babá e tals...Arabella, aqui é Arabella. – esquece. Eu sou ruim em falar mesmo. Ela confirmou e pareceu bem animada com a idéia. Me passou o endereço e pediu para estar lá dentro de uma hora. Se arranjar emprego é assim tão fácil, porque a taxa de desemprego só cresce? Talvez eles não tenham tanto carisma como eu.

Subi até meu quarto e comecei a me arrumar. Prendi o cabelo e vesti a calça mais confortável que eu tinha. Decidi não usar nenhuma camiseta de banda, já que os desenhos poderiam assustar a criança. Caveiras e homens encapuzados não são as melhores imagens para uma criança ver antes de ir dormir. Peguei minha mochila – deixei minha bolsa na Inglaterra. Esperta? Eu? – e escrevi um recado para o bom velhinho com quem morava.

Não era muito longe de casa, mas também não era super perto. Levei uns minutos até chegar no lugar. O que eu posso dizer? Essa era a casa mais bonita que eu já tinha visto. Completamente diferente da minha, cheia de ângulos e com a pintura descascando. Essa tinha telhadinho vermelho e ah, eu adoraria viver aqui. Me encaminhei até a entrada e toquei a campainha.

Eu preciso falar que a moça que abriu a porta era linda? Ela ficou me olhando até que eu respondi quem eu era e o que eu estava fazendo ali. Ela me convidou para entrar e bem ali, no meio da sala estava a coisa mais bonitinha do mundo: uma criança loirinha e de bochechas rosadas. Ah,sério, isso seria fácil fácil.

Sabe quando dizem que as aparências enganam? Então, eu nunca fui de acreditar nisso, porque todas as pessoas que eu julguei antes de conhecer eram exatamente o que eu tinha pensado que eram. Tipo o carinha da locadora. Ele estava todo dia com os olhos vermelhos e sempre sonolento. Sim, eu acertei, vi ele fumando cigarrinhos suspeitos no beco outro dia. E aquela menina da escola...vaca. E ela é. Foi por isso que quando eu vi a criancinha na minha frente, calma assistindo tv, eu pensei que não teríamos problemas, mas vou ter que admitir: eu estava enganada.

O primeiro sinal que me fez perceber que estava enganada foi a agarração com a mãe quando esta me apresentou como sua babá. Fez cara de choro e pensei que nunca se desgrudaria da moça. Fiquei olhando para frente, esperando que aquela cena acabasse logo. Alguns segundos depois a pequenina pareceu se resignar com a atitude da mãe e voltou calmamente seu olhar para a tv.

Eu não sou uma expert em crianças nem nada, mas tinha alguma coisa errada. Primeiro é aquele escândalo de “não me abandone”, e agora ela quase está expulsando a mãe de casa com suas respostas vagas. Depois de todas explicações e recomendações Summer, a bonitinha, desceu do colo e foi brincar no quintal. Se eu tivesse um quintal daqueles, com certeza, passaria o dia inteiro lá. Sei lá do que eu brincaria.

Mexi um pouco na mochila, ajeitando ela no meu colo. Enquanto a mãe olhava lá pra fora, me dava as instruções, números de emergência, coordenadas para a cozinha, o que fazer de lanche e a hora do soninho. Claro que eu não prestei muita atenção porque estava tudo anotado em um bloquinho, e também porque Summer parecia super calma. Não sei como, aliás, porque se fosse eu, nossa. Surtaria, me rebelaria contra a babá e tudo mais. Ainda bem que ela não era como eu.

Ela foi até o quintal, deu um beijo de despedida na filha e se despediu de mim. Ok. Agora somos só nós duas. Deixei minha mochila com as tarefas do dia seguinte no canto da sala, perto da porta e fui até o quintal. Eu não preparei nenhuma tarde cheia de jogos e brincadeiras, e só pra me ajudar talvez chovesse de tarde.

-Oi, Summer. – me abaixei para conversar melhor com ela. – Meu nome é Arabella, mas pode me chamar de Bella. – Ela não estava olhando para o meu rosto. Suas mãozinhas se mexiam rapidamente. Oh boy, ela estava agitada. – Então...você quer alguma coisa para comer? Ou prefere fazer alguma outra coisa? – sorri e esperei pela resposta, que por sinal demorou para vir.

Eu não sou uma criança má.Muito menos com quem aparenta gostar de mim e me trata bem.E Bella era assim,mas infelizmente eu teria que fazer alguma coisa pra “tira-la do meu caminho”.Só não queria ficar em casa tendo que ir pro trabalho da minha mãe ver o Andrew e ficar junto dos dois.Como eu faria pra sair sem que Bella visse?Não...essa era uma idéia ruim,pois a escola era um pouco longe pra se ir andando.Hoje certamente seria um dia perdido pra isso,mas amanhã e depois não podiam ser,então eu teria que sacrificar o dia de hoje (sem ter opções né),para que salvasse os próximos dias.Isso,era isso que eu tinha que fazer!

Após encontrar minha motivação pra fazer Bella desistir de seu trabalho como Babá da Summer,pensei em mil formas do que fazer pra isso acontecer.Eu não queria e nem teria coragem o suficiente pra fazer algo terrível,principalmente com ela.Mas eu poderia assusta-la,certo?Só um susto...nem era tão ruim assim.Um dia assustei minha avó com algumas coisas se mexendo sozinhas,ventos e formas na chuva,e ela nem se assustou tanto.Seria isso então,decidido.Bella era uma estranha,não estava acostumada com essas coisas que sei e amo fazer,poderia assustá-la no ponto certo pra que fosse embora.Sorri comigo mesma ao concluir isso tudo e fiquei empolgada pra começar.

-Oi, Summer. Meu nome é Arabella, mas pode me chamar de Bella.Então...você quer alguma coisa para comer? Ou prefere fazer alguma outra coisa? – Prefiro que você me deixe na escola aonde minha mãe e o Andrew trabalham e volte pra casa .Pensei logo após a pergunta dela,mas eu não poderia falar isso,então procurei na minha lista mental,uma brincadeira pra começar a por meu plano em prática.

- Uhn... – Eu ainda não olhava pra ela,eu não podia – Quero brincar de pique - esconde,sabe como é? – É claro que ela não sabia...não o meu jeito de brincar.Mas não vamos avisar como eu brinco...deixa ela brincar do jeito dela,e eu do meu.É isso que dá ficar com estranhos né...

Ela respondeu,eu sorri,e logo corri pra casa pra me esconder.Eu era boa nisso,ninguém nunca me achava,e algo me diz que não era só pra me deixar ganha.Veremos hoje,se estou certa.

Me escondi na sala,dentro do sofá.Foi Dave que me ensinou isso,e ninguém me achava,assim como nunca achavam ele,quando era pequeno.Dalí de dentro também podia se ver a sala toda,não sei como,mas dava,e seria assim que eu assustaria ela.Ela começou a procurar,sorria e parecia tranqüila,eu mentalizava desculpas a cada minuto,mas os meus motivos eram maiores e não via outra opção a não ser essa.Olhando fixamente um dos meus brinquedos,consegui rolar a bola colorida de plástico que John tinha me dado.Bella olhou e pensou que eu estaria debaixo da mesa,aonde foi procurar.Mas nada... Vendo o carrinho da Barbie na escada,consegui fazê-lo cair por 3 degraus,e ela foi me procurar perto de onde ouviu.E nada... Outras coisas aconteceram,mas eram só barulhos,eu parecia invisível,e isso a estava preocupando,pois seu sorriso e tranqüilidade sumiram após os 5 primeiros brinquedos e objetos rolando e caindo.Nada quebrado,nada além de barulhos,e era justamente isso que a estava assustando.

-Uhn... Quero brincar de pique - esconde, sabe como é? – eu preciso falar que ela a coisinha mais linda da vida? Ou pelo menos assim parecia. Ela ficou me olhando com aqueles olhinhos mais fofos, enquanto eu respondia que sim, e então sorriu e saiu correndo em direção à casa. Ela não foi super rápido, mas eu decidi dar uma vantagem e não olhar exatamente para onde ela estava indo. Olhei para o céu e suspirei. Eu precisava pensar em uma outra atividade, porque eu a acharia em uns cinco minutos, sério.

Recolhi os brinquedos do chão e levei para dentro. A casa estava bem quieta, nenhum sinal de Summer. Parei no meio da sala, com as mãos na cintura, olhando em volta. Tá. – Oh, meu deus, onde será que a Summer se enfiou?! – fiz um draminha, só para deixá-la curtir um pouco. E talvez para me dar mais tempo para pensar onde procurar. Foi aí que eu vi uma bola toda colorida rolando pelo chão. Fui até a mesa bem devagar e me abaixei. Nada.

Tudo bem, eu não precisava achá-la na primeira tentativa, ninguém era tão bom assim. Talvez eu precisasse mais do que cinco minutos. Me virei rapidamente quando escutei um barulho na escada. Será que ela estava lá em cima? Provável. Subi as escadas correndo, aproveitando para levar os brinquedos e guardá-los no baú. Por que eu não saí correndo para me esconder? Ah é, porque era uma criança de três anos que deveria me procurar. Olhei para o corredor. Estava escuro, com uma aparência estranha e me dava medo. E , kazam!, eu me toquei. Eu estava fazendo TUDO errado. Era assim que começava nos filmes de terror. O próximo barulho me levaria até a área de serviço e lá eu encontraria o corpinho de Summer fazendo o ciclo na lmáquina de lavar roupa e daí eu me viraria para trás e, tchau tchau vida.

Larguei os brinquedos e desci as escadas. Sabe os cinco minutos? Prolongue para dez. Fui até a cozinha e comecei a olhar nos armários. Eu acho que eu estava começando a ficar meio nervosa, sabe? Porque eu não queria ter que falar para a Sra Webber: “Oi, perdi sua filha. São 23 dólares.” Comecei a andar pela casa inteira, chamando por Summer, só que eu ainda não estava gritando, mas acho que dava pra perceber que estava um pouquinho histérica.

Fui para o quintal e de lá escutei a porta bater. Ah, não! Será que a mãe dela chegou? Por favor não, por favor não. Bloody hell, eu estou tão ferrada. Fui até a sala e não vi ninguém. Quer saber? Vai ser na base da chantagem. Esquece a minha honra, eu, Arabella Strange, admito que não consigo encontrar uma crianças de três anos. – Summer! Está na hora do laaanche! Eu não quero ter que comer todos os cookies que eu trouxe sozinhaaa! - Peguei minha mochila e fui para o sofá. Agora era esperar pra ver se ela aparecia. Ou checar a máquina de lavar roupa

Ficar ali,dentro do sofá,escondida por vários minutos,nunca me cansava.Era bem confortante,e com o meu propósito,eu devia mesmo ficar por ali.Ela ficava mais preocupada a cada minuto,parecia assustada também,e isso me deixou mais animada de continuar.Eu estou conseguindo!!!

– Summer! Está na hora do laaanche! Eu não quero ter que comer todos os cookies que eu trouxe sozinhaaa! – Ela disse,desistindo de me procurar.Cara,eu sou mesmo ótima nisso!Eu estava no sofá do lado ao que ela estava sentada,eu conseguia vê-la,ela não estava com uma cara muito boa,por isso mesmo que eu não deveria sair.Não sentia fome alguma,mas o que eu faria agora?Continuar ali e assustá-la mais um pouco?Como?O enfeite da mesa poderia se mexer...mas seria demais,então decidi sair e acharia outro jeito de assustá-la.Foi quando começou a chover e o meu sorriso encantou até a mim mesma,era a hora de brincar com água *-*.Adorava fazer isso,acho tão bonito...

Ventos abriram a porta da sala fazendo o clima ficar do jeito que eu queria.Bella levantou com a intenção de fechá-la,e foi quando aproveitei pra sair do sofá e ficar em algum lugar aonde ela não me visse,antes de ver meus desenhos na chuva.Fiquei escondida perto da porta,tendo minhas mãos livres e meus olhos focalizados na água que caia verticalmente do céu,e comecei a moldar formas abstratas mas bastante visíveis.Infelizmente,Bella se virou e voltou pra sala mostrando que não havia visto,o que me fez ficar um pouco desesperada...Ela precisava ver!!!

Outra rajada de vento passou pela casa,abrindo novamente a porta,e tenho certeza que dessa vez não fui eu,eu acho.Ela voltou pra fechar a porta com uma cara que variava de desconfiada a amedrontada,quando estacou,com a porta ainda aberta.Ela viu,ela viu!!! *-* Não é lindo?

- Não é lindo? – Ops...era só pra pensar isso.Mesmo tendo me assustado por ter me entregado ao falar,não diminuí meu sorriso encantada com a imagem se mexendo na chuva,era um dos meus passatempos favoritos.Entretanto, o sangue do corpo de Bella ainda não tinha voltado pro corpo,pois ela não tinha nenhuma coloração vermelha na pele,como todos temos.Sim,agora era a hora que ela sairia correndo dalí,desistindo de ser Babá da Summer *.*

Um cookie. Dois cookies. Três cookies. Eles eram bons, muito bons, mas hoje estavam com um gosto estranho. Um gosto de perdi-a-criança-que-deveria-estar-cuidando. Comecei a balançar o pé freneticamente, uma mania herdada da mamãe. Eu não deveria estar sentada no sofá. Eu deveria estar procurando por Summer, que a essa altura já deveria estar morrendo de tédio. Ou só morrendo. E se ela bateu a cabeça em algum lugar e teve traumatismo craniano? Ah, e eu aqui comendo cookies!

Comecei a guardar o pacote de bolachas quando as portas da sala se abriram bruscamente. Eu não sou de gritar, mas foi inevitável não soltar um berro quando isso aconteceu. Respirei fundo e joguei a mochila para frente. Isso estava ficando ridículo, era só o vento, oras. Não tinha nenhum psicopata na casa, ou fantasma. Era só eu e Summer. Enquanto fechava a porta de vidro, vi que os pingos de chuvas estavam ficando cada vez mais grossos. Eba, se continuar assim até a hora de ir embora eu vou chegar em casa como um frango molhado.

Decidi mais uma vez procurar pelo pequeno demôn- caham, pela pequena criança de rostinho angelical. Estava indo para a cozinha quando, adivinhem. A maldita porta abriu de novo. QUAL É, DEUS?! Fui pisando duro para trancar a porta quando parei. Tinha alguém lá fora. TÃDÃ. Era um homem ou uma mulher. E...era de água. WHAT? Fiquei assim por alguns segundos, enquanto a forma humana lá fora me dava tchauzinho. Quando voltou a ocorrer sinapse no meu cérebro, girei o fecho da porta até o final e fechei as cortinas.

- Não é lindo? – Dei um pulo para trás e me virei. Lá estava o bebê de Rosemary, ou Summer Webber, se vocês preferirem. Ela estava perto da porta, com um sorriso no rosto e olhos brilhando. Quer saber a verdade? Eu estava pronta para sair correndo dali. A rota já estava traçada em minha mente. Seu pegasse minha mochila por ali e desse a volta eu estaria fora dessa casa em menos de 30 segundos. Mas e o meu profissionalismo como é que fica?

Olhei meu relógio e vi que ainda faltava um bom tempo até sua mãe chegar. Engoli em seco e tentei me acalmar. Por mais demoníaca que essa menininha fosse, ela não tinha feito nada comigo ainda. e era só uma criança. Até aí Gage Creed era só uma criança quando matou a mãe e o velho Jud Crandall. Ok, ok.

- O que é lindo, Summer? – a minha morte? – Eu também gosto da chuva. – encarei aquele rostinho fofo que agora me dava medo e comecei a me aproximar. – Você não quer assistir a um filme? Eu posso fazer chocolate quente enquanto você escolhe um, que tal? – só espero que não seja o filme do meu assassinato. Não...seria muito sadismo para uma criancinha só.

Minhas opções estavam acabando e ela ainda estava parada ali.Eu não lembro mais de nenhuma coisa diferente pra fazer,teria que pensar por mais um tempo.Foi quando a idéia dela veio em ótima hora...

- O que é lindo, Summer? Eu também gosto da chuva.
– Ela disse se aproximando,e continuou - Você não quer assistir a um filme? Eu posso fazer chocolate quente enquanto você escolhe um, que tal?
– Ela disse,resistindo bem.Será possível que ela era tão teimosa assim?Ainda bem que eu sou mais...

- Sim,a chuva.E as coisas que ela pode trazer... – Minha deixa... hehe – Um chocolate seria bom!!!E um filme...ahn... – pensei em algo que contesse amores impossíveis,mas não tínhamos Romeu e Julieta,e mamãe não me deixava ver uma parte que tinha no nosso DVD de Titanic,vai entender.Acho que... – Cinderela *-* - ?! Aquele aonde a princesa é impedida de viver seu grande amor porque a fada madrinha ta sendo vigiada por uma babá! ...ou não...mas vamos na Cinderela mesmo porque me lembrou mamãe e Andrew >.<.

Ela pareceu aliviada pela minha escolha e foi correndo pra cozinha fazer o chocolate.Por um momento me pareceu que os sustos já haviam sido o suficiente pra ela não voltar mais,e só ficar comigo mais aquelas horas.Assim,amanhã eu poderia ir pra escola.Mas eu teria que continuar sendo fria pra ela não querer voltar...e algo me dizia que eu não conseguiria fazer isso se parasse com os sustos.Acompanhei ela até a cozinha e fiquei olhando ao redor pra tentar ter uma idéia do que iria fazer...mas tudo parecia perigoso demais.Alguém conhecido sempre estava perto pra controlar essas coisinhas que eu sabia fazer,justamente pra que eu não machucasse ninguém ou a mim mesma.Mas dessa vez não tinha ninguém e eu precisava fazer.

Telefone tocou quebrando todos os meus pensamentos ; era minha mãe!*-* .Bella disse que estava tudo bem,me fazendo pensar mais rápido em alguma coisa,mas mudei minha preocupação pelo motivo de falar com a minha mãe.Bella sorriu e me passou o telefone,eu dei o maior sorriso do mundo e atendi.

- Mamãe!Que saudades. ... Sim,está tudo bem,e por aí?...Ah,sim,e o Andrew?...Não o viu hoje?Por que?...Ah,entendo...okay mãe,beijos,amo você. – Passei o telefone tristemente para Bella e fiquei encostada na parede olhando pra cozinha e pensando.Mamãe não tinha visto o Andrew...tudo por minha culpa,porque eu não estava lá.Ou melhor,como eu não tive escolha,foi por culpa da Bella,que se intrometeu nesse dia pra me prender em casa.

Essa raiva não foi nada boa,sabe?!Ela desligou o telefone e tudo o que eu pensava era que devia ir pra lá amanhã,ou melhor,que ela não devia vir pra cá amanhã,que ela não deveria voltar,que eu teria que fazê-la desistir.A fúria desses pensamentos me distraiu o suficiente pra não ver o que tinha acontecido,eu só ouvi um barulho vindo do liquidificador e ao olhar,vi chocolate caído no chão e um desenho estranho não identificável,que antes não tava ali na blusa dela.O meu susto com a situação e a cara de horror nela,me fizeram derramar todas as lágrimas que deviam ter caído desde a frase “está é Bella e vai ser sua babá”(ou melhor: “você não pode ir pro trabalho porque atrapalha”).Eu chorava descontroladamente,por tudo: pelo que tinha feito,por poder nunca mais ver Andrew,por atrapalhar minha mãe,e pelo susto que tinha acabado de tomar,além do susto que ela tomou.

Viu? Por mais estranha ou assustadora que uma criança possa ser, tudo se resolve com um chocolate quente e um bom filme. Fiquei um pouco mais aliviada quando vi um sorriso normal aparecer no rosto de Summer. Não relaxei totalmente, pois é assim que psicopatas agem, sabe, né? Primeiro é tudo bem, amiguinhos e tudo mais, mas depois, a última coisa que você vê é seu corpo sem cabeça.

- Sim,a chuva.E as coisas que ela pode trazer... Um chocolate seria bom!!!E um filme...ahn... – ela pensou por alguns segundos e seu rostinho se iluminou quando falou no meu filme preferido – Cinderela – ótima escolha! Apesar de ser uma coisinha sádica, ela tinha bom gosto para filmes infantis. Ai, olha o que eu estou falando! Ela é só uma criança, Arabella. Me levantei e fui correndo para a cozinha magina que eu estava fugindo dela., onde tinha visto uma barra de chocolate no segundo armário enquanto procurava por ela há alguns minutos atrás. Esse seria o famoso chocolate quente de Arabella Strange. Peguei o liquidificador e vi que Summer estava na cozinha, observando todos o meus movimentos. Easy...easy, child.

Estava indo pegar o leite quando tocou o telefone. Ok, susto. Atendi ali na cozinha e o apoiei no meu ombro enquanto colocava o leite na pia. Era a mãe da Summer, perguntando se estava tudo bem e tudo mais. Eu, claro, respondi que sim, por que estava. Tirando o homem de água lá fora ou fato da filha dela ser uma psicopatinha em potencial.

- Sim, vou passar para ela. Tchau. - estendi o telefone para ela e sorri: - Sua mãe, Summer! – espero que isso acalme seus nervos, darling. Enquanto ela falava no telefone, fui medindo a quantidade de leite e deixando a quantidade de chocolate separada. Desculpe, mas o meu chocolate quente tinha fama lá na terra da rainha, ele era o melhor, fazer o quê?

Quando me virei para Summer, ela estava encarando o vazio, com o telefone nas mãozinhas gordinhas bonitinhas. Estranho, muito estranho. Ela tinha essas certas oscilações entre criança normal e Chucky. Parecia concentrada em alguma coisa. Estava colocando o chocolate no liquidificador e olhando para ela ao mesmo tempo. Como eu consegui? Eu não consegui. Aliás, eu teria conseguido se o aparelho não tivesse ligado sozinho. Com minha mão lá dentro. Ok, não totalmente com minha mão inteira lá dentro, mas a pontinha do meu dedo. Soltei uma palavra muito feia para ser dita na frente de uma criancinha e deixei a jarra do liquidificador cair na pia, espalhando chocolate por tudo.

Ótimo. Passei meu dedo na camiseta e olhei assustada para Summer, que tinha aberto o berreiro. Minha camiseta branca já era, tinha chocolate, leite e sangue. SANGUE? Aparentemente o corte foi um pouquinho mais fundo. Fiquei sem ação por uns minutos. Olhava para o meu dedo, para a zona que estava a cozinha e para o desastre que eu era como babá.

- Não, Summer, não chora! Se tem alguém aqui que tem que ficar histérica, esse alguém sou eu! - Peguei ela no colo e subi as escadas correndo. Coloquei ela sentada no vaso sanitário e procurei por um band-aid. Achei um único na última gaveta. A essa altura Summer já estava soluçando, meio chorando e meio parando. Graças a Deus. Me ajoelhei em frente ao vaso e limpei suas lágrimas. – Shh...tá tudo bem, tá tudo bem, Summer. – Será que estava mesmo?

Sim,eu a tinha machucado.E me senti horrível por isso,só querendo pedir desculpa e explicar tudo.Eu não saia do lugar,só chorava de cabeça baixa.

- Des-cul- pa... – Repeti isso várias entre soluços e choro. – Des...culpa... – Foi quando ela me pegou no colo tentando me acalmar e levar uma culpa que não existia.

- Não, Summer, não chora! Se tem alguém aqui que tem que ficar histérica, esse alguém sou eu!
– Subimos pro banheiro e ela foi fazer um curativo no machucado que eu causei.Eu olhava e a dor de ter machucado alguém que não merecia,me agoniava demais.

Ela se ajoelhou na minha frente e tentou secar minhas lágrimas dizendo que estava tudo bem.Eu a tinha machucado e ela ainda estava ali.Sei que ela é teimosa e que precisava ficar,mas de qualquer jeito,não parecia só isso.Ou ela não tinha reparado que havia sido eu (o que parece mais lógico),ou não se importava.De qualquer jeito acabei chorando mais,e a abraçando tentei explicar o motivo diiiiisso tudo.

- Desculpa...eu sinto muito...mas foi a minha mãe e o Andrew,e eu precisava ir...e eu não posso deixar de vê-lo,e ela precisa vê-lo...e daí veio a cinderela,e o telefone... – E comecei a chorar de novo.Acho que ela não deve ter entendido nada,mas valeu a tentativa,certo?

Descemos,sentamos no sofá,e ela me abraçou pra que eu me acalmasse.Os ventos já tinham acabado,a chuva estava fraca novamente e o clima nada pesado.Todo aquele ar de medo que eu tinha colocado no ar,já não estava mais alí.Estava tudo em paz novamente.Quando o choro passou,eu consegui explicar tudo e ela pareceu entender,embora os soluços continuassem.Contei de como senti algo forte entre os dois,de como ele me era familiar e me fazia sentir bem,contei do John,que de um jeito ou de outro tava nessa história também né,contei que ainda não tinha contado isso pra ninguém...Que eu precisaria voltar lá mais vezes,e garantir essa amizade entre eles,e depois ficaria tranqüila com a demora que fosse da minha mãe reparar essa magia entre nós 3.

Bella não esperava nada disso e pela cara que fez,entendi como um choque.Sim,era uma história linda e absurda,mas era isso ué.

- O que achou? – Será que ela iria me ajudar? ...

Ela começou a falar e falar. Claro que seria ótimo se eu pelo menos entendesse sobre o que que ela estava falando. - Desculpa...eu sinto muito...mas foi a minha mãe e o Andrew,e eu precisava ir...e eu não posso deixar de vê-lo,e ela precisa vê-lo...e daí veio a cinderela,e o telefone...- Foi aí que ela fez algo suuuper inesperado: me abraçou. Psicopatas total não fazem isso. Nem os mais bonitinhos. Abracei-a de volta, o mais forte que pude. Ela parecia tão triste e magoada que não pude fazer mais nada. Acabei caindo no chão com ela no meu colo. Dei uma risada e olhei para ela. – Que tal um copo de leite antes de me explicar tudo isso?

Descemos as escadas e a coloquei no sofá. Fui até a cozinha e limpei todo aquele chocolate do chão. Ai que desperdício, céus. Peguei dois copos de leite e fui para a sala novamente. A chuva diminuiu para um chuvisco fino, e o céu estava branquinho da silva. Olhei de canto de olho para o quintal. Nada de criaturas dando tchauzinho. Vai ver eu estava ficando maluca. Meu pai sempre falou que faltava pouco para isso acontecer comigo. Tanto faz.

Coloquei os copos em cima da mesinha de centro da sala e aconcheguei Summer em um abraço. Entre algumas lágrimas perdidas pelo rosto e soluções ela conseguiu me explicar algumas coisas. Era tipo um triângulo amoroso e tudo mais. Uma coisa bem íntima, aliás. Me senti um pouco intrometida sabendo tudo isso sobre a mãe de Summer, mas não foi como se eu tivesse ameaçado a menina a me contar e depois fosse subornar a Sra. Webber.

Minha boca estava aberta, meus olhos arregalados... e acho que a pequena percebeu que eu estava surpresa. – O que achou? – É, eu juro que ela perguntou isso na maior naturalidade do mundo! É como se eu falasse que meus pais não tinham morrido em um acidente e eu tinha inventado isso só para me passar de coitadinha. Ok, talvez não. Mas era um triângulo amoroso de verdade, daqueles que aparecem em livros e tals.

-Eu acho que...bom, Summer. Eu acho super legal isso de você querer ajudar, mas você só tem três anos e eu acho que sua mãe sabe cuidar da vida dela, não? – Ela abriu a boca para se manifestar, com o rosto contorcido em uma carranca quando eu emendei – Além do mais, aposto que ela não gostaria de saber que eu, a babá de sua filha, me intrometeria nesses assuntos. – Fiz um estalo com os dedos e apontei para o leite. – Sem querer desmerecer o leite daqui, mas o lá de Shropshire era bem melhor... – êêê, eu e minha boca.

– Que tal um copo de leite antes de me explicar tudo isso? – Ela sorriu e disse após me abraçar forte e cair no chão.Eu também sorri,embora as lágrimas ainda estivessem caindo.Descemos a escada e eu avisei que meu leite era na mamadeira.Qual é,não sou tão grande assim u_u.Ela sorriu e disse que não se esqueceria,me colocou no sofá e foi pra cozinha.Eu esperei enquanto olhava pra chuva,ela me acalmava sempre,e sempre dava certo pra mim,então,quando Bella voltou com minha mamadeira e o copo de leite pra ela,eu pude explicar tudo melhor do que antes.Se é que antes eu expliquei alguma coisa...

Sempre ouvi histórias de contos de fada,desde que ainda estava na barriga da minha mãe.Ela me diz que eu pedia isso a ela,e que ela atendia meu pedido imediatamente.Depois que nasci não foi diferente,quase toda noite tinha historinhas e algumas inventadas pela mamãe ou por Dave (John nunca teve criatividade e não me lembro de ter lido algum livro pra mim,mas isso porque ele chegava tarde).O fato é que em muitas histórias,imaginava minha mãe como a princesa.Só não tinha percebido que...sim,essa história do Andrew com minha mãe bem que parece um conto de fadas.Mas Bella não encarou com esse encanto.

- Eu acho que...bom, Summer. Eu acho super legal isso de você querer ajudar, mas você só tem três anos e eu acho que sua mãe sabe cuidar da vida dela, não? – Mas... – Só pensei,porque ela não me deixou falar. - Além do mais, aposto que ela não gostaria de saber que eu, a babá de sua filha, me intrometeria nesses assuntos. - Estalando os dedos e apontando pro copo de leite,ela continuou... – Sem querer desmerecer o leite daqui, mas o lá de Shropshire era bem melhor... – Acabou?u.u
Posso falar agora?u.u Obrigada

- Sim,ela sabe,bem demais até.E muitas vezes pra ser feliz,você precisa cuidar menos e deixar sua filha fofa e inteligente de 3 anos resolver – A última parte foi sussurrada,mas acho que ela ouviu. – Você não ta se intrometendo.Fui eu quem contei,e eu quem quero esse assunto,então só eu posso pedir segredo,pois ela nem sabe! – Terminei *-* .Deitei no sofá deixando as pernas no colo dela e comecei a tomar minha mamadeira.O leite estava ótimo,o que era Shropshire? – Ahn?

Continuei tomando meu leite enquanto pensava no que Bella tinha dito.Porque os Humanos são tão...assim?Afinal...eu sou uma Humana?o.o Porque...eu sou diferente,penso diferente...sei lá,me sinto diferente.Mas se eu não sou Humana minha mãe também não é...e se vi magia em Andrew,ele também não é *-*.E Dave também não...rsrs...Mas o John acho que sim – Me perdi em pensamentos e só ouvi a parte final do que Bella tava dizendo,sobre o que era o tal Shropshire.