'An afternoon can change your life... or death'

[rp privado]

Eu estava sinceramente farta de gente chata e sem nada para fazer me atazanando o juízo.
Quero dizer, seria assim tão difícil me deixar em paz um minutinho? Não andar a magicar formas de me irritar todo o santo dia!?

Ao que parece sim... certas pessoas é o Webber, sim em caso de se estar perguntando simplesmente não entendem o significado da palavra 'basta'.
Eu posso até admitir que acho graça a alguns dos nossos ''diálogos''... mas depois de uma noite sem dormir, ter de aturá-lo não é pêra doce.

Foi pensando nisso e em relaxar que eu me dirigi ao calmo parque da cidade.
Estava praticamente deserto, tendo em conta que eram só quatro da tarde e a maior parte das famílias só saía do trabalho pelas seis e meia, sete horas. Havia uns dois casalinhos de adolescentes, alguns pedestres e um bando de velhada ahem... pequeno grupo de idosos sentado nas mesas de piquenique.

Excelente. Eu pensei contente.

Andei um pouco até chegar ao meu banco preferido que estava desocupado por agora.

Parece que depois de um dia menos bom até que você está tendo alguma sorte, Sonia...

Sorri e me sentei, sacando de um livro da mala e começando a lê-lo avidamente.
Mas passado um tempo, houve algo que despertou a minha atenção: um suspiro vindo da outra ponta do banco. Eu ergui o meu olhar do livro e virei a cabeça na direcção do som.

Era uma garota muito bonita de aparência jovem.
Tinha os cabelos escuros, assim como os olhos. Um ar cansado emoldurava as suas feições e, não fosse a sua transparência e a diferença na luminosidade da sua pele pálida, eu teria pensado que ela era humana.

Mas embora já o tivésse sido em tempos, ela já não o era.
Porque a garota ao meu lado estava morta. E era apenas o seu espectro que ali estava.

Desta vez fui eu mesma que suspirei, atraíndo o olhar da rapariga.

Porque é que eu tenho de pensar sempre a coisa errada? Esse dia começou mal, então, porque não haveria de acabar mal também?

Eu olhei de forma solidária para ela.
Afinal, não era culpa dela se tinha morrido e se eu era mediadora. De facto, duvido muito que ela tivésse querido morrer, a julgar pelo que via. Por isso, se era essa a minha sina, porque não haveria de ajudar mais um fantasma a ter o que queria?

- Hum... Oi. Eu sou a Sonia. Em que posso ajudar a melhorar a sua morte? - soou estranhamente como a voz de um robot até para mim. Quanto mais para a fantasma a alguns passos de mim.
Ela arregalou os olhos e eu entendi que ela não sabia que eu a podia ver até ao momento em que eu falei.
Não devia estar morta há muito tempo; as suas roupas não eram antiquadas. Era então uma ''novata'' que não sabia o que eram mediadores.

Ótimo. Que inteligente Sonia, assumir que só porque um fantasma está perto de ti, ele sabe o que você é e quer alguma coisa, quando a pobre coitada provavelmente estava tendo um dia tão mau como o seu...

Okay, dava pra as coisas ficarem mais confusas? Eu acho que não. Do nada eu descubro que existem trilhões de pessoas no mundo com quem eu posso falar, quando eu achava que estava sozinha. Isso pode parecer uma boa notícia até você se dar conta de que todo mundo sabia disso menos você. Aí já fica parecendo pegadinha. Esse negócio de morrer era definitivamente muito chato. Eu tinha que me socializar muuuito pra compensar, fato. Mas dava pra alguém simplesmente me dar um manual de instruções? Seria com certeza mais fácil do que ficar arregalando os olhos todas as vezes que alguma coisa fora do normal acontecia. Afinal... O que era normal na minha vida morte?

Fui para o parque naquela tarde, resolvi dar uma folga pra o coitado do Sebastian. Toda vez que eu começava a ficar mais à vontade, ele parecia estar à beira de um ataque do coração [meio irônico pra um fantasma, huh?]. Ele só precisava de um tempo pra se acostumar, era isso. Com certeza. Okay, e enquanto isso eu faço o quê? Ai, essa vida de morta é um tédio...

Sentei em um dos bancos e dei um suspiro, apoiando o queixo na mão e o cotovelo na perna cruzada. Um outro suspiro [quase um eco ao meu] se seguiu e eu olhei para o lado. É, a mocinha ali do lado também não parecia estar nos melhores dias. Já ia voltando o olhar para a frente quando ela resolveu falar.

- Hum... Oi. Eu sou a Sonia. Em que posso ajudar a melhorar a sua morte?

Arregalei os olhos, tomando um susto. Entende o que eu quis dizer antes? Essa coisa de ficar se assustando é muito chata! Eu não consigo me acostumar a ter as pessoas simplesmente me dirigindo a palavra! Ainda mais com tom de funcionária de telemarketing...

Me estabilizei depois de alguns segundos e dei um risinho, zombando de mim mesma.

- Helena. - Falei, olhando a princípio pra a frente e depois me virando para ela. - Bom, você não teria nenhum feitiço de ressurreição aí com você, teria?

- Helena. - disse a fantasma voltando-se então para a minha pessoa - Bom, você não teria nenhum feitiço de ressurreição aí com você, teria?

Eu soltei uma risada com gosto.
Ora aí estava alguém com um humor parecido ao meu...

Se bem que deixe que lhe diga que isto não é frequente, sabe?
Encontrar fantasmas que não começam logo me agredindo ou fazendo exigências a partir do momento em que descobrem que eu posso vê-los e falar com eles, digo.

Principalmente fantasmas com sentido de humor e pacíficos como esta garota...
Ela não parecia estar com vontade de me atirar uns bons metros no ar até bater no chão e partir alguma coisa de forma indubitavelmente dolorosa... ou até mesmo disposta a insultar-me num qualquer dialecto que eu não conhecesse; se não fosse mesmo na boa da minha língua materna.

Também não parecia estar à beira de um ataque de choro e soluços que terminaria, quase de certeza absoluta, num dos cenários anteriores; comigo tentando apaziguá-la de forma a não ter que a agredir também eu mesma, passando por uma maluca a dar socos para o ar a todas as pessoas que estivessem passeando no parque.

Encarei novamente Helena -- é... ela ganhou o direito de ser chamada pelo nome; se fosse chata ou agressiva eu continuaria trantando-a simplesmente por 'a fantasma'... -- sorrindo e disse:

- Hum... - fingi procurar algo num dos bolsos do casaco e saquei então de uma barrita de chocolate parcialmente comida. - Nop. Só tenho chocolate... será que Crunch agora virou um chocolate ressuscitante? - Eu ri um pouquinho da minha própria piada... porque eu sou triste desse jeito... u.u - Agora falando sério. Se eu alguma vez tivésse tido algo do tipo pode crer que já teria acabado por esta altura... com a quantidade de espectros andando por aí... mas enfim. Eu não sou uma bruxa. Sou uma simples mediadora... logo não consigo produzir esse tipo de coisas. Desculpe. - E eu voltei a sorrir para a garota semi-transparente ao meu lado.

Eu não sabia exactamente porquê, mas eu tinha simpatizado com ela...

Sorrindo diante do meu comentário, a moça que se apresentara como Insonnia [não, eu não vou comentar sobre o nome dela - e você não sabe o esforço que eu estou fazendo pra realizar esse feito] procurou algo nos bolsos do casaco, voltando com uma barra de chocolate na mão. Hmm, eu costumava gostar muito disso, agora mal consigo lembrar do gosto. Deprimente.

- Hum... Nop. Só tenho chocolate... será que Crunch agora virou um chocolate ressuscitante? - Ela deu risada do próprio comentário e eu dei um risinho discreto só pra não passar em branco. - Agora falando sério. Se eu alguma vez tivésse tido algo do tipo pode crer que já teria acabado por esta altura... com a quantidade de espectros andando por aí... mas enfim. Eu não sou uma bruxa. Sou uma simples mediadora... logo não consigo produzir esse tipo de coisas. Desculpe.

"Com a quantidade de espectos andando por aí"? O que será que ela quis dizer com isso? Tá, eu tinha encontrado Sebastian. E James. Mas isso não exatamente me dizia que uma sociedade espectral estava formada. Existiam tantos assim? Me empolguei com a idéia por um instante e então voltei a olhar para ela. Apesar do nome, não é que a menina parecia simpática? Quer dizer, pelo menos ela não tinha ficado incrivelmente surpresa com a minha reação de surpresa após a interação dela. Não que eu já tenha comentado do fato de só ter descobrido da existência dos mediadores no dia anterior, mas enfim...

- Tudo bem, eu já me conformei mesmo... - Dei uma pausa. - Insonnia... - Tentei prender o riso, mas não obtive muito sucesso. - Desculpe, tem um apelido que eu possa te chamar? Sonny? Sonny é legal! - Continuei a falar, sem exatamente dar um espaço para que ela respondesse. - Me diz uma coisa, Sonny... O que você quis dizer com "a quantidade de espectos andando por aí"? Você já conheceu muitos??

- Tudo bem, eu já me conformei mesmo... - Disse Helena pausando - Insonnia...

Ela tentou não rir mas mesmo assim eu notei...
Não gosto que gozem com o meu nome, mas entendo perfeitamente a posição das outras pessoas, afinal, se eu conhecesse um garoto chamado de... uh... sei lá... Biscoito[?!] eu também ia dar uma risada, não é?

Para além de que Helena não o fazia por maldade e estava até a tentar evitar isso...

- Desculpe, tem um apelido que eu possa te chamar? Sonny? Sonny é legal! - Ela continuou a falar sem esperar exactamente por uma confirmação minha. Eu torci o nariz.

Sonny é um pouquinho... aberrante, do meu ponto de vista, e eu ia fazer questão de lho dizer assim que ela terminasse de falar.

- Me diz uma coisa, Sonny... - eu estremeci com o uso daquela alcunha horrorífica - O que você quis dizer com "a quantidade de espectos andando por aí"? Você já conheceu muitos??

Essa foi uma pergunta que me apanhou desprevenida.
Mas tudo a seu tempo;
Primeira tarefa: Tratar de esclarecer o ponto da alcunha
Segunda tarefa: Pensar numa boa resposta para a pergunta de Helena.

- Hum... antes de responder à sua pergunta... eu gostava de lhe pedir um favor... por amor de Deus não me trate por Insonnia sob qualquer circunstância, seja lá ela de vida ou de morte. - Eu disse de forma pacífica com uma expressão que deve ter sido cómica de observar. - Depois... Sonny é melhor do que Insonnia, mas, com todo o respeito, me lembra da marca de televisões e electrodomésticos... por isso, eu prefiro que me trate simplesmente por Sonia. - eu sorri quando terminei de dizer isso. - E agora respondendo à sua pergunta... eu não conheço muitos fantasmas atualmente; porque a maioria dos que eu conheci, eu fui obrigada a mediar para o outro mundo; fosse porque eles estavam causando perturbações ou porque os mesmos me exigiram que o fizésse.

Eu olhei tristemente para o chão. Eu tinha pena de não poder fazer nada além disso -- mandá-los para a terra dos anjinhos, digo --, porque na maioria dos casos -- já que, a maior parte da velhada quando morre não deixa muita coisa pendente, ou pelo menos, não coisas que os mantenham por cá... -- os fantasmas que me procuravam eram de pessoas jovens ou de adultos que ainda poderiam ter muitos anos de vida pela frente -- se não fosse algum fatídico acidente ou um acontecimento trágico a cortar-lhes as asas a meio vôo... -- E eu gostava de ser capaz de evitar esse tipo de constrangimento.

Todo o sofrimento; tanto dos próprios seres sobrenaturais como o das suas famílias era triste e, mesmo que todos eles -- tanto uns como outros -- fossem na sua maioria uns ingratos eu gostaria de puder ajudar...

Notei que a moça pareceu um pouco desconfortável quando eu a chamei pelo carinhoso apelido. Não sei por que ela não gostaria, era tão meigo! Mas é claro que ela fez questão de esclarecer esse ponto.

- Hum... antes de responder à sua pergunta... eu gostava de lhe pedir um favor... por amor de Deus não me trate por Insonnia sob qualquer circunstância, seja lá ela de vida ou de morte. - A expressão dela nesse momento me deixou em apuros novamente. Era realmente difícil manter uma expressão séria e compenetrada. É possível que a minha tenha ficado um pouco... forçada. - Depois... Sonny é melhor do que Insonnia, mas, com todo o respeito, me lembra da marca de televisões e electrodomésticos... por isso, eu prefiro que me trate simplesmente por Sonia.

Ela sorriu e eu sorri de volta, ainda que aquele pedido não fosse mudar muita coisa. Quando eu pego um apelido, só mudo em casos extremos e apararentemente, o fato de ela achar que o meu apelido parecia com a marca de eletrodomésticos não era um caso extremo. Com todo o respeito.

- E agora respondendo à sua pergunta... eu não conheço muitos fantasmas atualmente; porque a maioria dos que eu conheci, eu fui obrigada a mediar para o outro mundo; fosse porque eles estavam causando perturbações ou porque os mesmos me exigiram que o fizésse.

Mediar para... o outro mundo? Como assim, existia outro mundo? O que mais existia que eu não sabia? Eu estava começando a pensar na possibilidade de simplesmente pedir pra alguém escrever um manual de informações básicas, tipo "O que todo fantasma deve saber" pra ver se eu me atualizava. Que diabo de outro mundo era esse? Arregalei os olhos [embora não tanto quanto das outras vezes; eu estava começando a me habituar àquele tipo de situação] e disse:

- Peraí, Sonny, volta tudo. Outro mundo? Que outro mundo e... como você mandava eles pra lá? - Dei uma pausa pra articular as idéias. - E se vocês podem mandar a gente pro outro mundo... O que eu ainda tô fazendo aqui??

Helena arregalou levemente os olhos antes de falar.

- Peraí, Sonny, volta tudo. - Lá estava aquele apelido de novo...

Bem... até que não era tão mau assim... melhor que Soninha, de certeza absoluta. Para além de que eu também era assim; quando me acustumava com um apelido raramente o mudava, continuando a utilizá-lo até que a outra pessoa se fartasse.

- Outro mundo? Que outro mundo e... como você mandava eles pra lá? - Hels -- hum... Lena... Lena também é um apelido legal -- pausou, organizando as ideias. - E se vocês podem mandar a gente pro outro mundo... O que eu ainda tô fazendo aqui??

Pergunta elementar de um milhão de dólares, minha cara Watson.

Deuses eu tenho de párar de ver tanta série policial... -.-'

Essa era uma pergunta no meu Top10 de perguntas feitas por fantasmas.
Muitos deles não sabiam como tinham morrido, quando ou onde. - Os Confusos
Alguns achavam que não havia mais nenhum lugar para onde ir e que era por isso se mantinham aqui. - Os Conformados
Outros poucos ainda tinham a convicção de que estavam vivos sim e que não importava se podiam atravessar pessoas e objectos concretos; as pessoas só os estavam a ignorar porque eles tinham feito algo de errado de que não se conseguiam lembrar - Os Em Fase de Negação

A julgar pelos breves momentos em que conversara com Helena, ela situava-se algures entre o Confusa e o Conformada.
Porque apesar de ainda ter um monte de perguntas por responder, já se começava a conformar com a ideia de que passaria o resto da eternidade divagando por aí sem que ninguém desse por ela...

Suspirei. Esse era o momento em que ia explicar todo o processo complicado da morte e o que ocorria com as pessoas depois desta ocorrer.

- Bem Lena, -- Posso te chamar de Lena? --- Não esperei pela resposta, mas sorri de qualquer forma --- Na verdade existe um outro mundo, sim. Vários, aliás. São chamados de Planos Astrais e depois da morte, cada pessoa é transportada para o Plano mais adequado ao tipo de atitudes que teve em vida... Mas às vezes, há algo que os falecidos não fizeram que queriam ou deveriam ter feito e isso interrompe a normalidade do processo. Assim, eles são mantidos no mundo dos vivos como sombras até que descubram a razão pela qual cá continuam. Podem interferir na vida dos humanos através de pequenos fenómenos, mas não podem ser vistos ou ouvidos por eles.
E é aí que entram os Mediadores; para ajudar os fantasmas que não conseguem descobrir sozinhos o que os mantém cá e para levar mensagens ou fazer algo pelos que já o descobriram e assim completar o processo da morte, enviando-os para o Plano a que pertencem - terminei o meu pequeno discurso esperando a reacção de Helena e desejando ardentemente que me tivésse lembrado de trazer uma garrafa de àgua.

Assim não teria a gargantra tão seca agora...

[snow] Aline vc lê pensamentos!! A Hels não trocando de apelido era justamente a ideia que eu tinha pensado!!... Oh well... great minds think alike. [/snow]

Sonny pareceu mais conformada agora do apelido que eu dera pra ela [eu notei] e não comentou nada. Ao invés disso, começou:

- Bem Lena, -- Posso te chamar de Lena?

Eu refleti por um segundo. Lena é legal. Ninguém nunca me chamou de Lena. Por que? Poxa, se Lena é tão legal, por que ninguém pensou em me chamar de Lena antes? Sonny continuou a falar sem esperar a minha resposta e me tirou das minhas divagações.

- Na verdade existe um outro mundo, sim. Vários, aliás. São chamados de Planos Astrais e depois da morte, cada pessoa é transportada para o Plano mais adequado ao tipo de atitudes que teve em vida... Mas às vezes, há algo que os falecidos não fizeram que queriam ou deveriam ter feito e isso interrompe a normalidade do processo. Assim, eles são mantidos no mundo dos vivos como sombras até que descubram a razão pela qual cá continuam. Podem interferir na vida dos humanos através de pequenos fenómenos, mas não podem ser vistos ou ouvidos por eles. E é aí que entram os Mediadores; para ajudar os fantasmas que não conseguem descobrir sozinhos o que os mantém cá e para levar mensagens ou fazer algo pelos que já o descobriram e assim completar o processo da morte, enviando-os para o Plano a que pertencem.

Permaneci mais do que atenta durante todo o discurso e fiquei continuamente tentando imaginar como ele se aplicaria à minha vida - ou morte. Essa coisa de Planos era algo preocupante. Quer dizer, mesmo se eu conseguisse um dia passar pra o plano seguinte... Será que seria algo melhor do que aqui embaixo? E se eu procurasse feito uma condenada o que falta pra eu passar pra esse plano e lá for um saco??

- Tá, e o que você faz pra descobrir o que tá faltando? Você, tipo... lê nas cartas? Joga búzios? Como é que funciona? Porque eu não tenho idéia do que tá me segurando aqui... - Falei com a naturalidade de quem conversa sobre a última fofoca da novela.

Lena me escutou com atenção enquanto eu enunciava o que mais parecia ser o Novo Testamento da Mediação.
Ela deixou-me terminar de falar, sendo paciente e só depois disse:

- Tá, e o que você faz pra descobrir o que tá faltando? Você, tipo... lê nas cartas? Joga búzios? Como é que funciona? Porque eu não tenho idéia do que tá me segurando aqui... - disse Lena com uma naturalidade cómica que me fez dar uma risada.

- Lena eu não sou uma bruxa, muito menos uma cartomante... Eu só posso te ajudar se você me falar um pouco sobre você e a sua morte. - tentei não soar intrusiva e calculo que a minha expressão acusasse o desconforto de pedir uma coisa dessas. Contar a sua vida para uma completa estranha não é fácil. De fato não gosto dessa parte da mediação, mas como é que é suposto eu ajudar quando as pessoas não sabem o que as mantém aqui? Eu não sou adivinha né? - Sei lá... vai saber você esqueceu de mandar uma carta para a sua tia Carlota Joaquina ou algo do tipo... posso dizer que já vi coisas bem mais bizarras do que essa mantendo uma pessoa no Plano dos vivos. - eu disse com seriedade mas com um sorriso aflorando os lábios.

Já dera boas gargalhadas com certas tarefas que fora obrigada a realizar para garantir a paz de espírito de algumas almas... Não ficaria espantada se Lena se virasse para mim e dissesse que realmente tinha uma tia chamada Carlota Joaquina, que vive na Parvónia e com quem não mantém contato há imenso tempo.

Eu realmente esperava que ela conseguisse ter um insight da minha vida pra descobrir o que diabos tava me mantendo aqui. Mas por outro lado... O que será que tinha lá em cima? Se é que era lá em cima, certo?! Depois de tudo o que eu ouvi, não ficaria surpresa se o céu fosse embaixo e o inferno em cima. Supondo, é claro, que o céu e o inferno realmente existem e que eu pertenço ao primeiro.

- Lena eu não sou uma bruxa, muito menos uma cartomante... Eu só posso te ajudar se você me falar um pouco sobre você e a sua morte. Sei lá... vai saber você esqueceu de mandar uma carta para a sua tia Carlota Joaquina ou algo do tipo... posso dizer que já vi coisas bem mais bizarras do que essa mantendo uma pessoa no Plano dos vivos.

Mandar uma carta pra uma tia Carlota Joaquina? Bom, não exatamente. Ver um pai pela primeira vez serve? Fiquei séria de repente. Será que era isso? E se fosse, será que eu estava preparada pra descobrir? Eu tinha acabado de começar a encontrar outros como eu. Sebastian. Aquele mundo começava a ser familiar pra mim. E o que eu ia encontrar lá? Algo desconhecido. Nunca fui muito fã de desconhecido. E se fosse pior do que aqui? E se eu não fosse pro céu no final das contas?

Olhei para a mediadora e abaixei a cabeça. Então voltei a sorrir descontraidamente.

- Acho que você não ficaria muito surpresa se eu realmente te dissesse que tenho uma tia Carlota Joaquina? - Ri, divertida. - Não não, mas não é o caso. - Dei uma pausa e olhei pra frente. - Não, acho que eu não tenho nenhum parente que se encaixe nessa situação... - Dei um sorriso conformado.

Não, eu não estava preparada pra falar do meu pai e encarar as consequências. Ainda não.


[off: Snow, desculpa a demora... =// Eu tava pensando, a gente podia pensar em fechar por aqui, né? Qualquer coisa a gente continua em outro rp... ;D]

Lena ficou um pouco séria depois de tudo o que eu lhe disse; devia estar confusa... Quero dizer, ouvir tudo aquilo numa só tarde é complicado. Mais ainda de tentar entender.

E depois de receber toda aquela informação sobre a morte ainda ter uma garota de dezessete anos, que você não conhece de lado algum, pedindo para você contar a sua história assim sem mais nem menos não deve ser fácil.
Hels baixou a cabeça por alguns momentos e voltou a sorrir novamente

- Acho que você não ficaria muito surpresa se eu realmente te dissesse que tenho uma tia Carlota Joaquina? - ela riu divertida - Não não, mas não é o caso. Não, acho que eu não tenho nenhum parente que se encaixe nessa situação... - Ela sorriu de forma conformada.

Eu percebi que ela não queria falar.
Eu também não quereria se estivesse morta... porque uma vez encontrada a razão da sua permanência no Plano dos Vivos e resolvida a questão... Puf! Ela era reencaminhada para o Plano para aonde deveria ter ido em primeiro lugar.
Só que... eu simpatizava com ela. E definitivamente não queria mandá-la embora. --Poxa ela é a primeira fantasma realmente simpática e amigável que eu encontro! -- E fiz questão de lho dizer.

- Eu entendo, Lena. - sorri-lhe de forma compreensiva - Eu não me importo de maneira nenhuma se você não tiver vontade de abordar o tópico; Se não quiser seguir para a terra dos anjinhos... por mim tudo bem! Porque eu sinceramente gostei de te conhecer... é a primeira fantasma que é verdadeiramente amigável comigo que eu encontro e assim sendo não tenciono te mandar embora caso você não deseje ir. - sorri novamente.

Ela era simpática e tinha aspeto de ser boa pessoa.
Quem sabe não nos tornávamos amigas?


[off] Não tem mal, desculpa pela demora também. ^^ E se você quiser terminar... por mim é quando quiser. Há mais RPs por aí, né? [/off]