Uma detenção..... [fechado]

Meu pai mal se ligou que eu havia tomado detenção. Dei uma desculpa qualquer que estava estudando na biblioteca e perdi a hora e ele ficou satisfeito com a explicação recebida. Me dirigi à escola no dia seguinte, esperando só pra ver o que a freira iria aprontar para o meu lado e pensando em quem exatamente eu iria culpar aquilo tudo.

Aidam não havia dado as caras desde aquela hora, e eu não tiro a razão dele, eu não apareceria na minha frente no lugar dele. E mesmo a garota com o livro, bem, Aidam havia derrubado o livro dela, então eu havia decidido não culpar tanto ela por isso tudo, imaginando que, pela cara que ela havia feito quando a freira anunciou a detenção, ela havia sido punida o suficiente, e talvez ainda fosse.

Me dirigi à sala da freira no final da aula, encontrando a garota (que descobri se chamava Morgan Nurse) e a freira nos levou à capela, nos mandando rezar 10 sei lá o que e 20 sei lá das quanta e nos entregando um terço para cada uma. Veja bem, eu não tinha o costume de rezar. Não era como se fosse muito fácil fazer isso com uma mãe como a minha e tendo o tempo tão ocupado por fantasmas idiotas que me faziam ficar em detenção.

Me sentei em um daqueles banquinhos da capela, ouvindo a freira me mandar ajoelhar, o que eu fiz revirando levemente os olhos e observando a garota fazer o mesmo ao meu lado.

- Freira idiota... - Resmunguei. - Ela ainda vai ficar aqui de vigia? - Suspirei, tentando lembrar aquelas orações que faziam no início das aulas. - Aposto que lendo aquele seu livrinho de ontem. - Dei uma risadinha, observando a garota se espantar com o fato que eu havia falado com ela e se virar para ver a freira que parecia concentrada em alguma coisa abaixo dos bancos pouco atrás de nós.

Dizem que quando uma coisa pode piorar, ela PIORA. E ultimamente isso vinha acontecendo comigo com certa freqüência. Quando eu achava que já tinha sofrido castigos suficientes para uma vida inteira, lá vinham mais situações desastradas e vergonhosas. E eu nunca tinha passado por tantas coisas assim, em tão curto espaço de tempo. Agora eu não sabia se o pior era essa detenção ou se o episódio na fonte. Ok, pra quem eu quero mentir? Era óbvio que o episódio da fonte era o pior. E apesar de tudo, eu até agora não conseguia acreditar na minha sorte. Mamãe tinha sido bastante compreensiva comigo e me pedido só para não levar esses livros para uma escola católica. Eu assenti, resignada e aproveitando que nenhuma de minhas irmãs estava em casa no momento que eu contei tudo, pedi que ela não falasse nada para nenhuma das duas. Eu já estava bem cansada que pegassem tanto no meu pé. Por sorte ela concordou e agora eu só teria que torcer para não ser mandada para a fogueira, porque do jeito que eu tinha sorte, era capaz de as freiras descobrirem que eu era bruxa.

Mas ao contrário do que o meu pessimismo atual me deixou pensar, a detenção não foi legal – e é pra isso que elas servem, para não serem legais – mas não foi tão mortificante. Tirando o medo que eu tinha de um raio me atingir por estar dentro de uma igreja, era até que razoável. Ok, era muito chato, isso sim. Bem, mas vamos a detenção propriamente dita. Eu não sei como eu escapei de minhas irmãs, mas o fato é que dessa vez eu consegui escorregar muito bem das garras de Corinne. Combinei com mamãe que iria fazer um trabalho com uma amiga qualquer e acho que isso foi suficiente.

Ao chegar a sala da freira, a menina anda não havia chegado. Seu nome era Katherine Steel e eu duvidava que saberia mais do que isso dela. Havia prometido para mim mesma que não perguntaria mais nada, pois a minha curiosidade e insistência levaram a essa resultado. Ela chegou e eu abaixei a cabeça ainda muito envergonhada por ser a culpada de sua detenção. Quando a freira nos mandou segui-la, continuei andando de cabeça abaixada e falando pra mim mesma: ”Fique de bico calado! Se meta com a sua vida!” Sim, porque eu não sei se eu agüentaria mais uma vexame em tão pouco tempo.

Mas voltando ao fato de estar em uma igreja. A freira nos levou a uma capela, dando um terço para cada uma e nos mandando rezar. Eu sinceramente não sabia as orações de cor, e sempre que tinha que rezar de manhã, eu enrolava o máximo possível. Não posso dizer que me esforçava em aprender. Eu realmente não gostava.

Katherine se sentou em um dos banquinhos da capela e a freira mandou que ela ajoelhasse imediatamente. Ela fez isso e eu a segui, de cabeça baixa, pretendendo enrolar o máximo possível. Estava pensando em maneiras de exercitar meu poder, e tentar mexer uma santa para cair no chão e assustar a freira, mas é obvio que tudo não passou de meras idéias. Eu não era nem louca de fazer uma coisa dessas, pois do jeito que eu tinha sorte, era capaz de realmente atribuírem isso a mim. Mas mesmo assim continuei pensando, pois mamãe vira e mexe me cobrava que eu treinasse mais meus poderes. Mas eu ainda não tinha o domínio completo deles e isso me desanimava um pouco.

Eu estava tão concentrada, pensando em tudo, menos nas orações que eu tinha que fazer que me assustei um pouquinho quando Katherine falou comigo. - Freira idiota... – ela resmungou, baixinho. - Ela ainda vai ficar aqui de vigia? – Dei de ombros, pensando que seria bem melhor não ter um cão de guarda. - Aposto que lendo aquele seu livrinho de ontem. – Olhei para ela de olhos arregalados, mas ela estava rindo e então eu ri também, me virando para olhar a freira que estava distraída.

Voltei para o meu rosário, fingindo que estava rezando, para o caso dela voltar a nos olhar. -Deve estar desejando que a pessoa que grudou chiclete no banco queime no fogo do inferno.- Ri baixinho. -Quanto ao livro, eu tenho certeza que ela nos deu detenção só pra ficar com ele.

A Freira levantou a cabeça de repente, olhando para nós duas, bem na hora que eu me virava para olhá-la. Fez cara de quem acabou de chupar um limão, mandando que nós voltássemos a rezar. Voltei para minhas “orações”. -Bem, sinceramente eu não esperava mais nada da detenção. Mas acho que ela deveria estar ajoelhada aqui, porque aposto que meu livro está debaixo do seu travesseiro.

Morgan respondeu até bem à minha piadinha, eu estava crente que ela talvez fosse corar como no outro dia e ficar sem saber o que falar, mas ela, depois do susto, respondeu com uma outra piadinha e eu não pude evitar de rir.

-Bem, sinceramente eu não esperava mais nada da detenção. Mas acho que ela deveria estar ajoelhada aqui, porque aposto que meu livro está debaixo do seu travesseiro.

Balancei a cabeça concordando com ela e me virando para meu terço por alguns instantes, fingindo que estava rezando e dando uma olhada de esguelha para a freira que ainda parecia concentrada. Se eu não estivesse com tanta raiva do Aidam seria bom tê-lo ali, porque ele com certeza saberia como se divertir com aquela freirinha chata, assustá-la ou coisa assim. Mas eu estava com raiva dele, então eu evitava ter esse tipo de pensamento, ou ele iria achar que eu não estava (e eu mesma iria acabar acreditando que não estava com tanta raiva assim).

- Hey, será que se a gente falar que já acabou ela acredita ou isso tudo que ela mandou a gente rezar é pra ser uma coisa beeeeeeeeeeeem longa? - Me virei para Morgan, sussurrando.

Logo que falei sobre a freira, percebi o quanto eu fora atrevida. Muito mais do que eu me permitia ser. E o que a menina iria pensar depois de uma resposta daquelas? Não que eu já não tivesse me comprometido antes e não duvido nada que ela já me via como uma pervertida, mas bem, era a realidade não é? E na verdade, o fato de nos forçarem a cumprir uma detenção desse tipo me deixava muito indignada. Portanto, entre entrar no jogo, continuando a zoar com a cara da freira e me deixar passar aquela detenção no marasmo, eu preferi por continuar a brincadeira, pois eu estava bem mais a vontade. Até mais do que eu ficava na frente de Corinne ou Delilah, o que era bastante estranho para mim...

-Eu não acho que ela vá acreditar... – Falei virada para frente com as mãos juntas em posição de reza. -São anos de experiência e ela provavelmente sabe o tempo que cada oração dura... Pena que eu não sei nenhuma!- Dei uma risadinha breve, voltando a ficar quieta em seguida. Ouvi pigarro da freira, indicando que não estávamos agindo corretamente, então, para o meu próprio bem decidi ficar quieta por um tempo.

E ficar quieta sem saber rezar era sinal de que eu começaria a cogitar o treinamento de minha magia. Bem, acho que ninguém iria perceber, não é? Sempre aconteciam coisas estranhas em Carmel e era do conhecimento de muita gente que existiam muitos fantasmas por ali. Alem do mais, quem iria me culpar por qualquer coisa? Me espantei mais uma vez ante aos meus pensamentos. O que estava acontecendo comigo? Tudo isso era reflexo da briga com Corinne? Eu não sabia, só tinha a certeza de que gostaria de tentar derrubar uma daquelas imagens.

Fechei os olhos me concentrando numa imagem pequena que eu havia visto no altar do lado direto de onde estávamos. Tentei limpar a minha mente de qualquer pensamento, focalizando o objetivo e destinando minhas vibrações psíquicas até ele. Quando eu senti que havia limpado a minha mente o suficiente, abri os olhos, mas continuei com a cabeça ligeiramente abaixada, olhando de lado para o local em que a imagem estava. Forcei a destinação de minha magia e senti uma espécie de energia diferente, intensa tomando conta do meu corpo. Fiquei assim por alguns minutos, ainda olhando de lado, quando percebi que ele se mexera um pouquinho. Minha felicidade foi tanta que eu quase não consegui fazê-lo não cair. Percebi que seria um desastre continuar, pelo menos por hora e com um suspiro, me resignei a ficar quieta, antes que trouxesse mais problemas para nós.

Percebi então que Katharine estava falando comigo e arregalei os olhos, voltando ao normal antes de olhar para ela. Esperava que eu não tivesse ficado tão concentrada ao ponto de não prestar atenção ao redor.

-Me desculpe, me distrai um pouco... Parece que esfriou de repente, não?- Sussurrei juntando as sobrancelhas, não querendo ligar aquilo mais uma vez com fantasmas, a nossa discussão inicial. -Mas o que você estava falando mesmo?- Voltei a sussurrar.