Scooby Doo, where r u?

Certo, eu sei que não deveria de estar aqui, mas fazer o que? Qual é, era noite de Halloween, não queria mesmo que eu ficasse em casa, mofando, né? Prefiro mil vezes dar uma desculpa furada, subir para o meu quarto e escapar pelo telhado –é, foi isso que eu fiz, mas tive que negociar a saída com meu irmão antes. Uma dica: Nunca tenha um irmão!- para “seqüestrar” minha bicicleta e sair pela noite, pedalando feito uma louca, coisa que eu sei muito bem que sou. Sorte minha ter pego minha jaqueta antes, é realmente fria a noite por aqui e não pretendo pegar um resfriado, ainda tenho muito o que fazer e preciso estar inteira.
Pedalei, pedalei e, adivinha... É, pedalei, até que cheguei aqui, onde me encontro agora, tentando descobrir que lugar é esse. Poxa, meu senso de direção é péssimo, eu sei, acho que é por isso que não tenho carro, iria me perder na primeira curva, não tenho dúvidas quanto a isso. Olhei ao meu redor, mas não parecia haver nada de muito interessante por perto, só aquela ruazinha de terra batida que estava me deixando toda suja. Não que eu me importe, não me importo, mas preferiria manter as roupas limpas, sabe? Mas, voltando ao assunto principal... Não havia nada que pudesse me dar um mínimo sinal de onde eu estava, o que já estava me deixando preocupada. Subi na minha magrela vermelha –é, vermelha, mas não é para combinar com meu cabelo não!- e voltei a pedalar, era melhor me manter em movimento do que parada, certo? Bem, era o que eu achava.

-Lembrete, trazer uma lanterna na próxima vez! –Falei para mim mesma, não conseguia ver muito além, sorte que havia lua e, pelo visto, era cheia.

Ah, olha só, uma casa! Finalmente um teto, luz e gente para me dizer em que canto do mundo eu me encontro! “Ta, cala a boca, Shannon, você não foi tão longe assim.” Nossa, viu como meus pensamentos me amam? É, eu também amo eles. Me aproximei da casa, mas toda a felicidade que tinha brotado dentro de mim murchou bonito assim que percebi que ela encontrava-se totalmente escura. “Bom, talvez tenha algum caseiro ou algo do tipo...” Pensei, enquanto empurrava o portão que rangeu, me causando um frio na espinha, e adentrava o jardim. Cheguei mais perto da casa e dei duas batidinhas na porta, que, diga-se de passagem, ressoaram bonito lá dentro, e fiquei esperando, com algo me dizendo para dar o fora dali. “Mas, ir para onde?” É, eu tava perdidinha.

Olha só, eu sou mediadora, não leve a mal, gosto de ser mediadora, me sinto fazendo algo filantrópico, ou similar, mas, quando um fantasma te atormenta justamente na noite de Halloween, noite essa que eu tinha programado assistir filmes e mais filmes de terror, com o ar-condicionado ligado, e um balde de sorvete, ah, isso sim é altamente irritante!

Eu estava a um passo de mandar o fantasma se mediar sozinho, mas minha tia fez a doce atitude de me lembrar que ele precisava de mim, e blá, blá, blá!

O fato é que o Bill [o fantasma], disse que tinha uma carta, escondida no assoalho da casa dele, e que eu devia dá-la para a filha, dizendo o quanto a amava, e que a herança toda ficaria para ela, e não para o tio mercenário que agora dizia ser o dono de toda a fortuna dos Uller [por que raios os fantasmas são tão complicados?]

Mas eu tinha um plano, iria correndo até a tal casa, pegava a carta, e voltava a tempo de pegar os dois últimos filmes do dia, com sorte, seria um filme de vampiros, pois, venhamos e convenhamos, eu não consigo mais me assustar com os filmes de fantasmas [mentira, cof cof].

O fato foi que eu vesti minha roupa, peguei o casaco preto de lã, e minha bicicleta super power rosa-choque [carro nem ia fazer barulho, né?]. Aparentemente seria fácil, Bill falou que a chave estava escondida embaixo de um vaso de flores, que ficava ao lado da casa.

E assim foi feito, eu pulei o baixo muro lateral, enquanto catava em qual dos 15 [quinze!!!] vasos estava a chave [ no 13º, by the way]. Eu fui andando até a frente, quando senti algo batendo na lateral da casa, me virei para ver o que era e era um....ovo?. Ergui a sobrancelha, enquanto ouvia risadinhas vindo do outro lado do murro. Crianças, e muitas delas! E todas elas com ovos na mão!

É Halloween, idiota! As crianças fazem isso, quando eu ouvi um gesto que parecia significar atacar, eu saí em disparada, e me deparei com uma garota na porta da frente, aparentemente perdida, eu a empurrei levemente para o lado, enquanto abria a porta, sentindo que os ovos estavam sendo disparados atrás de nós.

-Entra aí!- falei, enquanto a puxava para dentro. Me analisei durante alguns minutos, e percebi que, felizmente, não tinha nada de ovos na minha roupa, ou no meu cabelo. Eu me virei para a garota, e murmurei um ''me desculpe''.

Bill Uller, você me paga!

Já estava quase desistindo de ficar por lá, sabe? Aquela casa, definitivamente, não era habitada, ou a pessoa feliz que morava lá não tinha ido com a minha cara e resolveu me deixar plantada do lado de fora, na esperança de que eu cansasse e voltasse. Forcei a porta, mas ela não se abriu, como aconteceria caso aquilo fosse um filme de terror. “Bom, acho que o Jason não vai me pegar tão cedo.” pensei, dando meia volta no mesmo lugar e olhando minha companheira de fugas em Halloween, ou minha bicicleta, tanto faz.

Certo, eu não tinha muitas escolhas no momento. Podia ficar ali o resto da noite e tentar voltar quando o dia amanhecesse, correndo o risco de chegar em casa e descobrir que meus pais achavam que havia sido seqüestrada ou algo do tipo (claro que, quando soubessem a verdade, eu estaria ferrada até o último fio de cabelo pelo resto da minha vida), ou ia até minha companheira e tentava voltar pelo caminho contrário que me trouxe aqui. De um jeito ou de outro, não teria grandes chances de chegar em casa antes de meus pais descobrirem que eu estava me aventurando.

-Ok, vamos pensar. Tentar voltar para a casa ou ficar por aqui? –Me perguntava isso, quando ouvi o barulho de algo batendo ali por perto. Olhei em volta, assustada e foi então que vi uma garota que vinha correndo em minha direção. Sério, não sei de onde que ela saiu, nem porque corria tanto, pelo menos não até ver um bando de crianças vindo mais atrás, jogando algo em nossa direção, algo que estourava com facilidade quando batia no chão ou nas paredes da casa.

[Pausa para explicação.]
Acontece o seguinte, eu posso adorar a noite do dia 31 de outubro, o que não significa que adoro o que acontece nela. Sério, nunca fui dessas crianças que ficam por ai, aprontando para cima dos outros, acho que o fato de eu ter sido uma criança tímida não facilitou muito, mas tacar ovos -é... OVOS!- nos outros não é bem a minha travessura preferida no dia do Halloween.
[Voltando para a realidade.]
Fui empurrada para o lado pela garota que tentava não virar uma omelete ambulante e olhei, diga-se de passagem, apavorada, para as crianças que se aproximavam mais de nós, nos tendo como alvo principal. Não faço a mínima idéia de como que ela conseguiu abrir aquela porta, também, nem pensei, só me senti puxada para dentro enquanto ouvia um “Entra ai!” e a porta era fechada atrás de mim.

Lembrete: Agradecer a desconhecida por me salvar.

Passei as mãos pelos cabelos e olhei para minhas roupas, mas, por um milagre, não havia sido acertada por nenhum ovo. “Graças!” pensei, constatando que apenas minhas calças estavam sujas, mas era devido a poeira da rua. Suspirei aliviada e ergui o olhar para a estranha, a ouvindo se desculpar.

-Desculpar? Você me salvou lá fora! –Respondi, tinha certeza que minha cara estava entre o susto e o agradecimento. –Odeio essas brincadeiras. –Comentei, olhando o local, não sei puxar muito assunto, principalmente quando ainda estava me recuperando de virar uma gemada –Não que isso aconteça com freqüência, deixo claro. Isso nunca me acontece e sabe o por quê? Por que as pessoas não costumam reparar em mim, então não sou alvo de muitas "brincadeiras".

Certo, há mais coisas que uma mediadora pode fazer do que sair por aí correndo de criaturas pequenas com ovos na mão, que mais parecem granadas mal-cheirosas esperando por um alvo insólito que saia desprevenido por aí, e, essa noite, o alvo era eu.

Mas bem, eu não sou uma garota de sair por aí sendo alvo fácil de ovos na cara, então, eu saí correndo em disparada até um lugar de salvamento mais próximo, ou seja, o interior da casa.

Por sorte, a criatura fantasmagórica havia me dito o local certo onde encontrar a chave, fazendo assim com que eu não perdesse tempo em me envolver para dentro da penumbra que estava a ccasa, porém, certamente, o que eu não esperava era ter outra pessoa na porta, mas, seja lá quem fosse, não merecia ficar lá fora quando havia uma chuva de ovos podres caindo, por isso, eu puxei a garota para dentro da casa, juntamente comigo, mas eu fiz isso de um modo muito ''gentil'', tanto que eu pedi desculpas depois.

-Desculpar? Você me salvou lá fora! . –Odeio essas brincadeira

Foi o que ela falou, apenas fiz que sim com a cabeça, fazendo biz a afirmação dela.

Então eu me liguei no que eu realmente tinha que fazer ali, mas ao mesmo tempo eu fiquei com medo de que as crianças entrassem na casa e começassem a fazer besteiras, e me impedissem de realizar as minhas tarefas, por isso, eu fui trancar a porta, porém, logo que tranquei, eu tropecei em um lugar, e derrubei a chava, que sumiu! Sim, sumiu! A chave caiu num buraco, e NÃO FEZ BARULHO AO CAIR!

Eu olhei para a garota. E agora? Como eu iria fazer isso, sem ao menos nem saber se existiam outros fantasmas aqui? Eu estava entrando em desespero, fato!

Estava me perguntando se uma daquelas janelas poderia estar aberta, porque, sabe, crianças não medem esforços para aprontar, então uma delas – ou mais de uma, para meu desespero - poderia simplesmente abrir uma janela, entrar por ela e continuar a jogar ovos em nós, até que, na esperança de escapar, abríssemos a porta e recebêssemos mais ovos ainda das outras que estariam esperando do lado de fora. Bem, deixando minha mui amiga imaginação de lado, dei uns passos em direção a janela mais próxima para verificar se estava realmente fechada, quando ouvi a garota que havia me salvado fechar a porta e, em seguida, tropeçar. Normalmente eu riria ao ver alguém tropeçando, mas aquela não era uma situação para risos.

-Está tudo bem? – Perguntei, me aproximando dela e percebendo que ela parecia um pouco desesperada, só não entendia o por quê, quero dizer, é normal tropeçar, não é? Principalmente num lugar com pouca iluminação como aquela casa. A não ser que ela tivesse dado um péssimo mau jeito ou algo do tipo, não tinha motivos para ficar daquele jeito, tinha? Bem, aparentemente tinha, o que me preocupou. -Se machucou, foi isso? –Estava de frente para ela, mas ela olhava para o chão, mais precisamente para um buraco. Me abaixei para olhar melhor, mas parecia ser um buraco comum.

As vozes infantis reclamando do lado de fora estavam se distanciando, o que significava que não precisaríamos ficar naquela casa, que já me passava a sensação de ser mau assombrada, por muito tempo. “Booo! Fantasmas não existem, cabeça de fósforo!” É, sei... Confesso que nunca vi um, o que não significa que não existam, certo? Mandei meus pensamentos irem pastar e voltei para a realidade, me dando conta de que ainda olhava o tal buraco que, não sei como, havia passado despercebido até aquele momento. Qual é, eu sou perita em não ver buracos e cair direto quando meto o pé neles!

-Está tudo bem? Se machucou, foi isso?

Como eu iria falar para aquela garota que ela agora estava trancada, junto a uma deslocadora, em uma casa fechada cheia de supostos fantasmas? Hein?Hein? Não é a toa que eu entrei em desespero, afinal, e agora? Eu inclusive poderia estar colocando a vida da garota em risco, afinal, sei lá que diabos é o tipo de espírito que está aqui...

Resolvi, então, tentar tirar um pouco do pânico que estava em minha voz, e falar a meia verdade.

-Bem...na verdade não me machuquei, mas o fato é que estamos presas aqui..tá vendo esse buraco? Aparenta ser bem fundo, e a única chave que eu tinha....caiu.lá.- okay, se ela entrasse em paranóia agora eu ia entender, juro, afinal, eu estava praticamente entrando também.

E foi quando eu ouvi pela primeira vez. Uma voz. Ao longe. Eu tinha certeza que ela não havia ouvido, pois ela não fez menção de olhar para o lugar que tinha saído a voz. O sussuro tinha vindo lá de cima, do segundo andar, possivelmente. Eu olhei discretamente para ver o que estava acontecendo. Eu senti o clima abaixar bruscamente.

Olhei de soslaio para a garota que agora parecia se agasalhar, possivelmente notando o súbito ar frio que agora passava, do mesmo modo que havia ido. Ela não sabia o que estava acontecendo, mas eu sabia. E não era nada bom...

Eu sinceramente não sabia o que fazer. Não iria arrombar uma porta e acabar sendo presa por destruição de patrimônio público, não podia sair sozinha e mediar, deixando a garota embaixo, sem ninguém....

Bem, ela ficaria mais segura comigo, certo? E eu não podia deixar de fazer o meu trabalho...Mas e se eu fizesse o meu trabalho, com ela, mas sem que ela percebesse?.

E foi com essa idéia ''genial'', que eu a convidei para ir até em cima comigo, tentar achar alguma janela aberta, ou outra saída. Enquanto subíamos as escadas que estavam rangendo, decidi me apresentar:

-Oh...Victoria Hewson, muito prazer!

Certo, ela não se machucou. Ótimo. Isso já foi um grande alívio, não? Bem, eu não saberia como chamar por ajuda naquele fim de mundo. Então ela falou o que a estava preocupando.

-... Tá vendo aquele buraco? Aparenta ser bem fundo, e a única chave que eu tinha... Caiu, lá.

Eu escutei direito?! A chave havia caído num buraco que aparentava não ter fundo? Bem, fundo deveria de ter, mas tenho a leve impressão de que nós não o alcançaríamos.

"Certo, respira, solta. Respira, solta... Agora: NÃO ENTRA EM PÂNICO! É apenas uma casa escura, não mais vazia e que fica no meio do nada, ok? Não tem motivos para se preocupar!"

Ótimo, agora eu realmente estou calma. Muito obrigada ai, consciência, ajudou em nada! Bem, deixando essa vozinha chata e irritante de lado e voltando ao mundo real...

Isso foi uma queda de temperatura? Bem, do nada eu estava com frio e minha jaqueta não me esquentava mais. Esfreguei as mãos nos braços, tentando me esquentar, mas não adiantou muito, então olhei em volta, procurando a origem daquele frio, mas não vi nada de interessante que pudesse ser o causador. Quero dizer, não parecia haver ar condicionado por ali e, mesmo que houvesse, teria que ser muuuito forte para causar aquilo, não? Se bem que nem um fortão poderia, aquela casa era grande.

A garota me convidou para irmos ao segundo andar e ver se tinha algo aberto e foi isso o que fizemos. Qual é, eu que não ia ficar sozinha, sentada por lá! As escadas rangiam, pareciam não ver peso a algum tempo, apesar de que não éramos gordas nem nada. Frescura das escadas, se quer saber. No meio do caminho ela se apresentou, juro eu havia me esquecido das apresentações depois de toda aquela correria.

-Ah, Shannon Lutoskin, prazer! – Respondi, sorrindo um pouco constrangida. É, a timidez batia a minha porta... Já tava demorando, amada!

Calma, permaneça calma. Nada está fora de controle. Você apenas está trancada numa casa mal-assombrada, com uma garota que pode estar correndo perigo. Apenas isso. Não há nada com que se preocupar.

Com certeza os meus pensamentos não são lá os melhores aliados em situações como essa, certo? Bem, certo. Eu estava tentando seriamente não entrar em pânico e sair correndo pela primeira fresta que eu visse na minha frente. Precisei colocar na minha mente que eu já tinha mediado em situações muito piores que essas, e que sempre saí quase viva de todas elas.

-Ah, Shannon Lutoskin, prazer!

Foram essas palavras, ditas pela garota, que me tiraram do transe psicótico que meu pensamento estava colocando me mim. Eu ri para ela de modo simpático.Enquanto subíamos a escada velha, e escutava os ruídos, antes de chegar até o hall principal, do segundo andar, eu vi um vulto passado corriqueiramente de um quarto para outro.

-Oh! - falei, parando na escada, sem perceber que havia assustado a garota.- -Era um....morcego, eu acho - - Mentira, doce mentira!- foi o que eu falei, apesar de achar que ela não tinha lá confiado muito no que havia dito.

Como mediar sem que garota percebesse o que estava acontecendo? Bem, não tinha como! Eu tinha que achar uma saída, tirar a garota dali, e voltar para ajudar os fantasmas que estava naquele lugar.

Então eu subi, os três últimos degraus, seguida de Shannon.

-Bem, vamos pela direita, eu acho que... - mas minhas últimas palavras foram abafadas pela aparição que se materiaizava do meu lado. Era um rapaz, pouco mais que 25 anos, e que ria. Eu fiquei congelada, olhando para ele, e não sabia o que fazer, enquanto olhava para Shannon do meu lado. O fantasma olhou para ela, e começou a dar uma gargalhada.

Mas que....

Meu pensamento ficou em aberto, enquanto eu vi, na frente de Shannon, o rapaz pegando o vaso que estava em cima de uma cômoda perto da escada, e jogando-o longe, que fez um barulho forte ao bater na porta frontal de um dos quarto.

Ferrou-se!

Morcegos, certo. Não curto muito morcegos e saber que estava trancada numa casa com um, talvez houvessem mais escondidos, não era uma informação muito agradável. Respirei fundo, tentando me acalmar, todo aquele escuro e o rangido das escadas só pioravam meu estado de nervos.

Terminamos de subir a escada e já íamos seguir pela direita quando Victória parou, de falar e de andar, do nada. Era estranho, sabe? Ela parecia realmente assustada com algo, o problema é que eu não conseguia ver nada que pudesse deixar alguém daquela forma. Bem, eu não conseguia ver até o momento em que um vaso, sabe-se lá como, ficou suspenso no ar, como se alguém o tivesse levantando e... Bum! Direto numa das portas. Minha coluna gelou de cima a baixo e juro, não sei como não saí correndo pela escada ou tropecei, só sei que, quando dei por mim, tinha soltado o berro.

-AAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHH!

Ao meu lado Victória pareceu sair do transe com o meu grito, mas não fiquei parada para ver o que ela ia fazer, saí correndo antes de pensar no que estava fazendo, abri a primeira porta que vi – tá, segunda, a primeira foi onde o vaso se espatifou - e me joguei lá para dentro, batendo a porta ao passar. Meu coração estava acelerado, parecia que ia sair pela boca, mas isso não importava, eu tinha visto um vaso “voar” e se chocar com uma porta, assim, do nada! Como eu queria não ter saído de casa esta noite! Meu quartinho bagunçado e minha cama quentinha seriam um ótimo remédio no momento. Até estar com meu irmão seria melhor do que nessa casa assombrada!

-Vi... Vi... Victória? – Chamei, olhando ao meu redor, só então percebendo que estava sozinha, num quarto. Ai, Deus, esqueci dela do lado de fora! Abri a porta, estiquei o braço e, assim que encostei no dela, a puxei. Não sei por que, mas ela parecia estar falando com alguém, mesmo eu não vendo mais ninguém por ali. Será que estava falando comigo? Bem, eu estava tão assustada que não saberia. –Desculpa, eu... – É, eu nem sabia pedir desculpas de tão perdida que estava. - Aquele vaso voou mesmo?

Certo. As coisas deveriam ter hora e lugares certos para acontecer, porque, sinceramente, o que estava acontecendo agora era totalmente inconcebível de acontecer naquela momento. Por que raios aquilo tinha que estar acontecendo justamente agora?. Eu respirei fundo, as coisas não poderiam piorar, poderiam? Sim, tudo sempre pode piorar.

Isso porque o idiota do fantasma resolveu dar uma de......******. E jogar as coisas para cima da Shannon, que, por sua vez, simplesmente surtou, como qualquer pessoa em sua perfeita ordem mental faria.

-AAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHH!


Foi o que eu ouvi antes de fechar os olhos e me xingar mentalmente. Depois eu ouvi a Shannon saindo correndo e se fechando em alguma das portas que aquela casa tinha. As risadas do fantasma ficavam cada vez mais altas, e notava-se que ele estava adorando o que fazia. Olhei com um olhar extramemente arisco para ele.

-Vo-cê-vai-se-ver-comigo!- disse, entredentes, e , quando eu iria falar com ele, senti alguém me puxando para alguma lugar. Antes de gritar e bater eu percebi que era Shannon.

Desculpa, eu... –Aquele vaso voou mesmo?

Ai ai ai ai....quando mais eu rezo, mais assombração aparece. Literalmente. Eu não sabia o que fazer, com certeza aquela fantasma iria fazer o que estava ao seu alcance para me atanazar. Resolvi suspirar fundo e contar uma coisa que eu nunca poderia contar: a verdade.

-Shannon....você acredita em fantasmas?- falei, com precaução.

Ai.

Engoli em seco. Fantasmas, é, certo. Se eu acreditava em fantasmas? Bem, no momento eu realmente não sabia no que acreditar. Quero dizer, um vaso simplesmente levantou vôo, assim, do nada. Se aquilo era coisa de fantasma, bem, ele havia escolhido a noite perfeita para me tentar assustar – e estava conseguindo.

-Fantasmas? – Repeti após piscar algumas vezes, parecendo uma abobada. Aquilo só podia ser um sonho e eu iria acordar... Agora! É, não funcionou. –Pára tudo que minha cabeça já tá pegando fogo e não é por causa do cabelo. –Não falei isso para parecer engraçado, apesar de ter soado dessa forma para mim, mas é que as pessoas gostam de me tirar do sério por causa disso. Olhei para a maçaneta da porta, mas, graças a Deus, ela não se mexeu. –Tá tentando me dizer que o me tirou para pato de tiro ao alvo era um fantasma?

A minha cara devia de estar ótima nesse momento. Tipo assim, uma mistura de “não creio que me meti nisso” com “bela piada” e “por que eu resolvi sair de casa?”. Eu queria uma foto para me lembrar disso mais tarde, isso é, se eu saísse viva dessa casa maluca.

Victoria me olhava com bastante preocupação, só não sei se era pelo fato de que corria o risco de não ser levada a sério ou porque eu aparentava ser alguém que poderia sair correndo dali a qualquer instante e, no caso, eu seria taxada de louca. Bem, assim que eu me lembrasse de que tinha pernas para correr, provavelmente eu faria isso, mas, no momento, estava mais preocupada em descobrir se eu acreditava ou não em fantasmas.

A pergunta foi respondida no instante seguinte, quando um abajur - que até o presente momento estava paradinho na mesinha de cabeceira - resolveu “criar perninhas” se chocar contra a parede.

-Acredito. – Afirmei rapidamente, após dar um pulo devido ao mais novo susto. –Vai precisar de velas, água benta e bíblia? – Sim, já vi muito “O Exorcista” e filmes do tipo. Será que era assim na realidade? Algo me dizia que eu estava prestes a descobrir e, que se precisasse, teria que revirar a casa, porque eu não viva carregando tudo isso dentro dos bolsos.

Fantasmas? – Pára tudo que minha cabeça já tá pegando fogo e não é por causa do cabelo. –Tá tentando me dizer que o me tirou para pato de tiro ao alvo era um fantasma

Ao menos ela entendia rápido.

Certo, eu sabia que não devia falar uma coisa dessas, e assim desse jeito, mas acontece que estávamos trancadas em uma casa um um diabo de fantasma zombeteiro que ia fazer de tudo para brincar com Shannon, que não podia vê-lo, e, com fantasmas assim, que fazem de tudo para assustar, é melhor não brincar, pois isso pode ser perigosos. E era justamente por isso que eu estava dizendo uma coisa dessas para ela, porque se eu tivesse que falar com ele, ela não ligaria para o Hospício, ou talvez ligaria, mas eu tinha que arriscar, né?

Nesse momento, eu vi o brilho azul novamente e ouvi o riso, me virei automaticamente para ele, que agora,pegava um abajur e o lançava contra a parede. Shannon pulou assustadamente, enquanto eu a olhava, entao falou:

-Acredito. – Vai precisar de velas, água benta e bíblia?

Eu ri, enquanto via o que ela estava passando, resolvi respirar fundo.

- Bem, eu sou o que podemos chamar de mediadora, deslocadora, para ser mais exato, mas isso é um tópico para a próxima aula...oq ue eu quero dizer, é que eu vejo, ouço, e posso tocar em fantasmas que permanecem na Terra, e a minha ''missão'', é tentar fazer com eles que passem para o outro lado, e isso, nem sempre é fácil, na verdade, pode ser muito perigoso e dolorido. Na verdade, o exorcismo é para casos muuito mais graves e pode ser complicado de fazer, e com esse amiguinho aqui, não vai funcionar. Em todo caso, eu não devia estar falando isso para você, mas, como estavamos trancadas em uma casa com um fantasma que adora dar sustos, resolvi arriscar antes que fosse saísse correndo e ligasse para o Hospício. Na verdade, eu irei tentar falar com ele, e fazer isso do modo mais fácil possível- respirei fundo.

Ai ai

Ouvi tudo que a garota falou. Tudo. Tudinho mesmo, mas, quem disse que aquilo fazia algum sentido para mim? Exato, sentido algum! E olha que eu estava me esforçando. Cocei a cabeça tentando colocar as novas informações em ordem - minha cabeça estava mais misturada que salada mista -, precisaria de umas boas férias se conseguisse sair sã de lá, mas estava no meio do ano letivo, ou seja, nada de férias, a não ser que eu realmente ligasse para o hospício – coisa que não estava muito inclinada a fazer, mesmo naquelas circunstâncias.

Ergui as sobracelhas, teria pena de mim mesma caso alguém me contasse essa história maluca da qual eu fazia parte. Olhei em volta, mas o tal fantasma deveria de estar pensando qual seria o próximo truque que usaria para me assustar, ou se divertindo com a minha cara. Encarei a morena e concordei com a cabeça uma vez. Devo dizer que ela pareceu um pouco aliviada? Tá, eu digo: Ela pareceu um pouco aliviada.

-Não sei se entendi tudinho, nos mííínimos detalhes, mas prometo não ligar para o hospício, até mesmo porque não iriam acreditar em mim. – Dei de ombros e apontei para o abajur, ou melhor, os resto do que fora um abajur até instantes atrás. – Se eu puder ajudar em alguma coisa...

Não que eu realmente achasse que poderia ajudar em muito, afinal, minha especialidade era encher o saco do meu irmão, dos meus pais e ficar sem fazer nada a tarde toda, mas, vai que poderia ser útil em algo? Não custava arriscar, não é? Nossa cabeças estavam a prêmio no momento, principalmente a minha, já que não via porcaria nenhuma de fantasma, mesmo que ele estivesse dançando a macarena na minha cara.

Ui, esfriou de novo. Será que esse bicho do além não pode se decidir se vai me matar de susto ou de frio?! É, eu me irritei agora e não me pergunte aonde foi parar meu medo – ele tá bem aqui do lado. Passei as mãos nos braços, tentando me esquentar de alguma forma, mas não consegui grande resultado.

-Não sei se entendi tudinho, nos mííínimos detalhes, mas prometo não ligar para o hospício, até mesmo porque não iriam acreditar em mim.

Bem, isso era bom, certo? Certo, devia ser bom, afinal, apesar de tudo, acho que nosso amiguinho fez com que ela acreditasse que havia algo a mais ali, mas, de qualquer jeito, estávamos em ''perigo'', ok, talvez não em periiiiiiiiiigo, mas, mesmo assim, um fantasma brincalhão pode render vários machcados.

-Eu vou tentar fazer com que isso não seja tão....estranho?-disse, cautelosa.

Então, de repente, meus olhos se viraram para o fantasma que acaba de adentrar no quarto, ele me moveu para perto de uns quadros que estavam pendurados na parede atrás de Shannon,mas, rapidamente, eu peguei o quadro, fazendo ele se surpreender.

-Será que não tá bom de gracinhas para uma noite? Está assustando a garota, e eu não tô com paciência para isso agora, será que agora dá pra me deixar fazer meu trabalho?- disse eu, com raiva.

Me virei para Shannon, com uma expressão de ''desculpe, isso é estranho, eu sei!''

Estranho, é, certo. Por que será que eu achava que aquilo não poderia ficar mais estranho do que já estava? Bem, o por que eu não sei, só sei que eu estava redondamente - e olha que eu não sou gorda - enganada, pois a coisa toda ficou sim mais estranha. Um arrepio correu minha coluna da primeira a última vértebra - e acho que teria continuado caso tivesse mais alguns ossinhos por ali -, fazendo com que eu desse tremesse.

Victória moveu-se bastante rápido e segurou algo no ar que eu ainda não sabia o que era. Ainda... Virei-me e a vi segurando um quadro que, instantes antes, encontrava-se perfeitamente encaixado numa das paredes daquele quarto maluco, sorte minha ela poder ver aquele ser do além e ter prática em segurar quadros voadores, ou minha cabecinha vermelhinha teria, no mínimo, um belo galo quando eu acordasse - se eu acordasse. Arregalei os olhos com essa idéia, eu estava realmente disposta a voltar viva para a casa e, de preferência, ainda essa noite.

-Será que não tá bom de gracinhas para uma noite? Está assustando a garota, e eu não tô com paciência para isso agora, será que agora dá pra me deixar fazer meu trabalho?

É, pelo visto eu não era a única morrendo de vontade de voltar para a casa. Olhei para o rosto da garota, ela olhava algum ponto a frente, provavelmente encarava o ser nada interessante que estava ainda se decidindo como me mataria, aparentemente ele havia descartado a hipótese do susto e do frio e partira para uma quadrada - isso existe? - na cabeça. Ótimo.

-É, quer deixar a garota fazer o trabalho dela e parar de tentar me matar? - Não me pergunte de onde veio essa "coragem" ai, juro que não sei! Olhei para Victória que ainda segurava o quadro, ela parecia assustada com a minha nova reação. O que será que o Sr. Ectoplasma estava pensando? Sinceramente, não queria saber tão cedo, a não ser que estivesse querendo me deixar em paz, dai eu tinha todo o interesse do mundo! Coçei a cabeça sem saber se havia feito a coisa certa ao falar daquela forma com o fantasma, mas, poxa, eu tava assustada e isso desencadeou uma pequena pontadinha de coragem que normalmente fica muito bem escondida atrás do medo.